A montagem, dirigida por Rodolfo David, se apóia em uma temática forte, em um personagem marginal e na metalinguagem. Apanha o travesti Dalva num momento de crise existencial, quando descobre que está com um problema de saúde. Dalva vai ao teatro, identifica-se com o espetáculo e solta o verbo. Além de questões existenciais, a peça aborda temas sociais, característicos na obra do autor. Utopias à vista, necessárias à transformação da realidade.

Pires dialoga diretamente com a platéia. “É a busca de um teatro muito próximo do público, o olho do ator no do espectador. A idéia é criar intimidade”, explica David. A interpretação do ator pode mudar de acordo com a reação das pessoas. “Há um quê de improviso”, reconhece.

Em nome dessa proximidade, o diretor evitou a iluminação tradicional de teatro: “A luz está mais caseira, sem spots, e com lâmpada incandescente”, diz.

A peça foi concebida para platéias pequenas – em Santo André foi encenada na meia-arena da Cia. do Nó. Não há cenário. “Os figurinos e adereços (de Cida Ferreira) revelam instantes do personagem. Da mala, por exemplo, surgem cartas antigas, histórias do passado, a mãe de Dalva”, diz David.

A música faz o contraponto ao ambiente de decadência que envolve Dalva. “Contra a briga interna do personagem, a música de Chopin traz leveza. É o outro lado de Dalva”, afirma David. Sob esse aspecto, o local da apresentação, o porão do Centro Cultural, não poderia ser mais adequado.

A peça tem um vínculo forte com a Escola Livre de Teatro, de Santo André. O dramaturgo Luís Alberto de Abreu orientou Pires, dentro do Núcleo de Assessoria Dramatúrgica, de março a junho de 2000. “O Abreu dizia que o texto é difícil e a entrega do ator teria de estar à altura”, conta David.

Esta Noite Ouvirei Chopin – Monólogo. De Sérgio Pires. Direção de Rodolfo David. Com Sérgio Pires. De quinta a sábado, às 21h30, e domingo, às 20h30. No Centro Cultural São Paulo – r. Vergueiro, 1.000, São Paulo. Tel.: 3277-3611. Ingr.: R$ 10 (R$ 0,75 no dia 19). Até 13 de maio.