Com o Congresso prestes a votar a PEC (Proposta de Emenda Constitucional) para acabar com o nepotismo nos órgãos públicos em todo País, Rio Grande da Serra faz uso da prática nos principais escalões do Executivo e Legislativo. Desde o prefeito, Adler Kiko Teixeira (PSDB), até a presidência da Câmara, há parentes em cargos de confiança. O Diário confirmou a presença de 12 familiares em funções comissionadas (que não precisam de concurso público), com salários que variam de R$ 370 a R$ 3,5 mil.

Quem encabeça a lista dos salários (R$ 3,5 mil) é a secretária de Educação, Aida Jardim Teixeira, irmã do prefeito. Procurado desde o início da semana, Kiko não retornou às ligações. Cópia da lista (veja ao lado) que o Diário teve acesso foi deixada em seu gabinete, mesmo assim não houve manifestação do chefe do Executivo. Também a vice-prefeita, Helenice Arruda (PTB), que emprega a irmã Lúcia de Arruda Oliveira no Fundo Social de Solidariedade, não se pronunciou.

O secretário de Ação Social e Cidadania, Edvaldo Francisco Guerra, cuja irmã Emanuelle Francisco Guerra trabalha como assessora ambiental na mesma Pasta, admite que a contratação foi uma exigência dele ao prefeito. “Quando fui convidado para ser secretário, disse ao Kiko que queria alguém de confiança ao meu lado, dai chamei a Manu. Não considero isso nepotismo. Quando se tem necessidade e surge a oportunidade, porque não aproveitá-la”, argumenta o secretário.

Diferentemente de Guerra, o assessor de assuntos governamentais Gilmar Miranda de Almeida diz que não indicou sua mãe, Maria Aparecida Miranda de Almeida, para ser gerente na Secretaria de Atenção à Saúde. “Ela trabalhou 17 anos na Prefeitura como concursada. Nem sabia que agora estava como comissionada”, desconversou. Maria Aparecida revela que se tornou comissionada quando seu filho era secretário de Governo.

Câmara – No Legislativo, a situação não é diferente. O presidente da Câmara, Roberto de Paula Breyer, o Betinho (PSDB), tem dois parentes no Executivo: o sobrinho Ricardo de Paula Breyer, que é assessor de gabinete do prefeito, e a cunhada Sônia Cristina Santos Breyer, assessora da Secretaria da Educação e Cultura. A mulher do parlamentar, Cleonice Maria Fernandes dos Santos Breyer, é diretora da Câmara, segundo cargo mais importante depois da presidência. “Considerei competência e confiança para contratar a minha mulher. Já as contratações de meu sobrinho e minha cunhada não foram  indicações minhas”, defende-se Betinho.

Líder do governo na Câmara, Waldemar Asnar Perillo (PSDB) também diz não ter interferido na contratação do filho, Rogério Luiz Santos Perillo, e da mulher, Bernedete Maria Perillo, pela administração. “Minha esposa se aposentou na Prefeitura e, por sua experiência, hoje é comissionada. Meu filho foi contratado por sua competência para o cargo”, explica.

Também têm parentes comissionados na Câmara Vanderlei Jesus dos Santos (PTB) – com um irmão como assessor técnico –; Anderson Guijarro (PPS) – com a mulher sendo assessora administrativa –; e Rui da Costa Pereira (PSDB) – também com a filha como assessora administrativa. “Ela foi efetivada por indicação minha, mas na época eu nem era vereador”, defende-se Rui.

Imoral – Líder da oposição, Cláudio Manoel Melo, o Claudinho da Geladeira (PT), considera que, além de imoral, contratar parentes deixa o parlamentar “com o rabo preso”. “Nunca contratei ninguém em meus dois mandatos. Isso nos deixa mal perante a comunidade”, critica o petista. Ele pretende elaborar projeto para acabar com essa prática em Rio Grande da Serra, embora tenha certeza que sua proposta sequer vai passar pelas comissões da Casa. (Supervisão de Lola Nicolás)