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Atrás da cortina de ferro
Melina Dias
Do Diário do Grande ABC
15/09/2009 | 07:00
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O que hoje se entende por arte moderna deve e muito a um grupo de artistas que mesclava tintas e pincéis ao ideal do socialismo utópico. Eles produziram freneticamente apesar de isolados politicamente do mundo - escondidos pela cortina de ferro. É o que pode ser conferido gratuitamente na exposição "Virada Russa - A Vanguarda" na Coleção do Museu Estatal Russo de São Petersburgo. A maior e mais importante mostra já exibida no País sobre a vanguarda russa abre hoje ao público no Centro Cultural Banco do Brasil, onde fica até 15 de novembro.

Virada Russa é composta por mais de 100 obras, de 52 artistas, entre telas, cartazes, esculturas, peças de vestuário, desenhos gráficos e louças do Museu de São Petersburgo, que reúne a maior coleção de arte russa do mundo. Completam a exposição dois filmes, um sobre a vanguarda russa e o outro sobre a obra de Kazimir Maliévitch.

Entre a meia centena de artistas, nomes mais conhecidos como Vassili Kandínski, Marc Chagall e Vladímir Tátlin. "Nossa ideia é atingir um público amplo e mostrar as raízes do que abriria janelas para a arte do século 20", comenta um dos curadores, o cubano Rodolfo Athayde, que já morou na Rússia e hoje está radicado no Brasil.

Ele se entusiasma com o feito de trazer uma mostra desse porte a São Paulo. "Após os anos 1980, com o término da Guerra Fria, a Perestroika e de uma política equivocada na Rússia, o mundo começou a descobrir a vanguarda russa e hoje esse acervo é muito solicitado. Há uma longa fila de espera para exibí-lo", revela.

MONITORIA - Segundo Athayde, a monitoria foi treinada para contextualizar o visitante. Afinal, o que pensar diante de uma das obras mais importantes da mostra, Quadrado Negro (óleo s/tela, 1923) de Maliévitch, aparentemente nada mais do que o título indica na dimensão de 1,06m X 1,06m.

Ela está acompanhada Cruz Negra e Círculo Negro sobre fundo branco, os três quadros de Maliévitch, que marcam o início do verdadeiro rigor geométrico na pintura. "Elas abriram uma página absolutamente nova na história da arte. Representam a vanguarda mais radical", ressalta o curador. É como se Maliévitch zerasse a história da arte e começasse a criar sobre novas bases. Essa e outras rupturas do grupo com o realismo influenciariam gerações ao longo de todo o século 20 - que o diga nosso saudoso concretista andreense Luis Sacilotto (1924-2003), um dos pilares desse movimento em São Paulo.

O curador também pede atenção a um outro artista da Virada Russa, Pável Filónov. "Seu acabamento é de altíssima qualidade, foi uma grande descoberta. Não deve nada a um Kandínski", afirma Athayde.

Por três anos, o curador trabalhou no recorte do acervo com Ania Rodríguez, Yevgenia Petrova e Joseph Kiblitsky, do Museu de São Petersburgo.

"Não posso dizer o mesmo de outros locais do País, mas acho que São Paulo e uma região tão industrializada quanto o Grande ABC têm plenas condições de apreciar e entender a Vanguarda Russa", completou.




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