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Sombra de regimento da KGB paira sobre assassinato de Litvinenko
Da AFP
08/12/2006 | 17:14
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Antigos membros da KGB vão aparecendo constantemente no desenrolar da investigação sobre o assassinato do ex-agente Alexander Litvinenko, que parece assombrado pelo mundo misterioso e temido dos serviços secretos soviéticos.

Entre eles estão dois dos russos que se encontraram com Litvinenko em Londres no dia em que ele começou a sentir os primeiros sintomas de seu envenenamento com polônio 210, uma substância altamente radioativa.

Estes dois homens, Andrei Lugovoi e Viatcheslav Sokolenko, são ex-guardas da unidade de elite do Kremlin, conhecida como o Nono Departamento, que fazia parte da KGB e protegia altos dignitários do Partido Comunista.

Após a queda da União Soviética, quando a Rússia se atirava de braços abertos para um capitalismo frenético e às vezes violento, Lugovoi e Sokolenko, como muitos ex-oficiais da KGB optaram pelo lucrativo setor da segurança particular.

"Muitas pessoas deixaram o chamado Nono Departamento. Eram os anos 1990, era preciso sobreviver", comentou à AFP Viatcheslav Sokolenko, que se encontrou brevemente com Litvinenko no dia 1 de novembro em um hotel de Londres.

Andrei Lugovoi e um outro russo, Dmitri Kovtun, tiveram um encontro de negócios, antes, com Litvinenko no mesmo hotel.

Kovtun, Lugovoi e Sokolenko, que se conhecem e se encontraram em seguida no mesmo hotel londrino, são formados na prestigiada escola militar do Soviet Supremo de Moscou.

Viatcheslav Sokolenko é hoje funcionário de uma empresa de segurança chamada "A Nona Onda", um nome parecido com o do antigo departamento da KGB, mas também referente à expressão utilizada pelos marinheiros para designar uma onda gigantesca.

A companhia, radicada na periferia sul de Moscou, garante a segurança de pessoas ricas na Rússia e no exterior. Seus antecedentes da KGB "são apreciados pelos clientes", admitiu Sokolenko.

"A Nova Onda" não é a única empresa a utilizar a referência à KGB como ferramenta de marketing em Moscou. Uma associação de sociedades de segurança privadas, chamada "Deviatitchi" ("os Homens do Nono"), também se gaba desta referência em seu site.

Criada em 1998, a associação reúne 29 empresas privadas. "Ela não é formada somente sobre interesses de trabalho comuns, mas também sobre estreitas ligações corporativas", explica o site.

"Esses contatos têm raízes profundas que se devem a um serviço comum nas estruturas estatais de segurança", prossegue. Até o nome do site (www.0009.ru) lembra a KGB, com uma pitada de James Bond.

O general Viktor Aleinikov, presidente dos "Homens do Nono", é um antigo chefe do Nono Departamento, que no ano da queda da União Soviética, em 1991, se transformou no Serviço Federal de Guarda, encarregado deproteger o presidente russo e personalidades importantes do governo.

Nos anos 90, os funcionários do antigo departamento tiveram que encarar um mundo de oligarcas e de mafiosos, e duras disputas entre empresários.

Viatcheslav Sokolenko e Andrei Lugovoi começaram a trabalhar na segurança da rede de televisão ORT, que pertencia então ao oligarca russo em exílio Boris Berezovski.

"Todo mundo recorria a serviços de segurança. Era caótico. Agora está mais regulado. O número de sociedades diminuiu", comentou Sokolenko.

Lugovoi, que declarou numa entrevista que continuava a garantir a segurança de membros da família de Berezovski, é outro puro produto da KGB.

Ele possui uma empresa de produção de álcool no hotel Radisson Slavianskaia, no centro de Moscou. Ele havia integrado o Nono Departamento em 1987, onde ele era comandante de seção.




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