Cultura & Lazer Titulo
Um galã divertido em ‘Beleza Pura”
Por Márcio Maio
Da TV Press
06/04/2008 | 07:02
Compartilhar notícia


Aos 50 anos, completados em 20 de março, Edson Celulari já coleciona uma série de personagens ‘bonzinhos’ em sua carreira. Para não deixar que o atrapalhado Guilherme de Beleza Pura caia na mesmice, o ator se apóia no lado cômico do texto de Andréa Maltarolli, autora do folhetim. “Faço um cara que está sempre se dando mal, só que de maneira engraçada. Até quando o assunto é o acidente do helicóptero”, explica. Se depender da vontade de Celulari, seus próximos personagens na TV podem ser bem diferentes dos que ele está acostumado. Para o ator, os profissionais da televisão estão percebendo que tudo que se repete, enjoa. “Não quero fazer da minha vida uma prateleira onde me colocam sempre do mesmo jeito”, filosofa. Confira trechos da entrevista:

O Guilherme, assim como a maior parte dos personagens que você fez na TV, é o bom moço da história. Quais são seus cuidados para não deixá-lo cair no estereótipo do mocinho chato?

EDSON CELULARI – O ator precisa ter acesso a um material bacana para fazer um bom trabalho. Enxergo várias facetas no Guilherme. E quando li bem a sinopse, consegui ver muitas diferenças com os outro papéis que já fiz, ainda mais com os últimos. Em Páginas da Vida, fazia um militar sisudo, por exemplo. O horário das sete cria galãs atrapalhados, que pisam em cocô de cachorro, estão sempre se dando mal de uma forma engraçada. Brincar com isso é legal. Ainda mais para mim, que realmente tenho um grande exercício de galãs tradicionais. Mas esse não é um trabalho só do ator.

Você se refere ao texto?

CELULARI – Todo mundo sabe que o público costuma rejeitar mocinhos muito bobos. E algumas vezes você pega um texto e lê uma cena em que sabe que vai fazer o papel do bobão. Mas não dá para deturpar a escrita. A novela ainda está no início, mas pelo que percebo do retorno de público, por enquanto estamos conseguindo fugir desse lado chato.

Como é esse retorno?

CELULARI – Atores como eu, que já têm 30 anos de carreira, são velhos conhecidos do público. Gosto de perceber essa diferença de quando você está no ar e quando não está. As pessoas já estão começando a me chamar de Guilherme e não de Edson. Os telespectadores já conversam comigo como se eu fosse o personagem e quase sempre abordam de forma positiva. Falam das trapaças da Norma, do jeito atrapalhado dele, brincam muito. Acho que isso mostra que o trabalho está dando certo, até porque não são poucas as pessoas que param para conversar comigo. E devo isso em grande parte à preparação que fizemos desde o início da pré-produção.

Qual foi a parte mais difícil dessa preparação?

CELULARI – Não vou dizer que foi a mais difícil, mas acho que a mais importante foi a que todos fizemos em conjunto. Beleza Pura tem um elenco muito reduzido, em torno de 30 atores, e isso faz com que todos ganhem um certo peso na história. Esse é um lado bom, mas o problema é que se um destoar, o núcleo inteiro se prejudica. E isso pode afetar o resultado final da novela, porque todos os núcleos estão interligados no acidente do helicóptero.

 

Como você mesmo mencionou, sua carreira está cheia de galãs tradicionais. Incomoda não ter sido escalado para mais personagens diferentes?

CELULARI – O público está acostumado a ver um ator fazendo vários tipos diferentes. Sendo assim, não quero fazer da minha vida uma prateleira onde me colocam sempre do mesmo jeito. Na TV, a maioria dos papéis foi de galãs tradicionais, mas alguns fugiram disso. Me interessa exercitar minha atuação e mostrar outros lados do Edson em novos personagens. Já consegui fazer isso em trabalhos que guardo com muito carinho.

Que trabalhos?

CELULARI – Na minissérie Decadência e na novela Fera Ferida, por exemplo, interpretei o Mariel e o Flamel, dois personagens marcados pela vontade de se vingar de pessoas que os prejudicaram no passado. Em Dona Flor e Seus Dois Maridos, me escalaram para viver o malandro Vadinho e ele estava longe do estereótipo de bonzinho. Recentemente, em América, fiz o quarentão Glauco, que se envolvia com a ninfeta Lurdinha, da Cléo Pires. Acho que a tendência é que, com o passar do tempo, a televisão crie menos estereótipos e aposte mais na diversidade de personagens para os atores. Hoje, apesar de ser um galã, o Guilherme ajuda a apagar a imagem do Glauco, de América, e do Sílvio, de Páginas da Vida.

 

Você acabou de completar 50 anos, mas sempre interpreta personagens mais jovens. Isso já prejudicou você?

CELULARI – Nunca parei para pensar se alguém poderia deixar de me escalar para um papel de cinqüentão pelo fato de achar que eu pareço ser mais jovem. Acho que é óbvio que existe um padrão de beleza para quem faz o bom moço, e aí eu tenho vantagem pelos cabelos e olhos claros. Mas também percebo que esse conceito está sendo revisto. Já ficou claro que tudo que se repete demais na TV enjoa. Tanto que o mercado está se abrindo. Você não vê mais atores negros se limitando a fazer bandidos ou empregados. Acho que esse avanço entra também nessa idéia ultrapassada de colocar os atores e atrizes que têm olhos e cabelos claros como se fossem anjinhos nas novelas.

Como você avalia os seus 30 anos de carreira?

CELULARI – Sempre tive boas oportunidades na TV, no teatro e no cinema. E comecei nos três veículos no mesmo ano. Acho que isso faz com que eu esteja satisfeito. Mas é claro que espero muito mais do futuro. Minhas inquietações como ator diminuíram, só que elas se tornaram mais seletivas e a minha experiência me trouxe segurança para buscar e bancar isso. Procuro personagens que me exijam mais na preparação, até porque essa é a parte mais prazerosa do meu trabalho. A construção de personagens mais densos é o que realmente me estimula.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;