Proporcionalmente a sua população, São Caetano assumiu em 2005 a liderança no Grande ABC em roubo e furto de carros, com 1.856,34 crimes por 100 mil habitantes. Foram roubados na cidade 2.554 veículos, 44% mais que em 2004. Santo André, que pelos três anos consecutivos anteriores mantinha-se no topo da estatística, teve queda de 15,34% e registrou no ano passado 1.275,19 roubos e furtos por 100 mil habitantes. Mesmo assim, em números absolutos, Santo André continua sendo a cidade da região onde mais se rouba e se furta carros. Os índices foram divulgados nesta terça pela Secretaria Estadual de Segurança Pública. São Caetano superou de longe os índices verificados no Estado, capital, Região Metropolitana e Interior, além de grandes cidades estaduais, como Guarulhos e Campinas (veja quadro).

Avaliando-se as ocorrências totais, sem o parâmetro da proporcionalidade, São Caetano é seguida na alta por São Bernardo, que registrou acréscimo de 20,66% na comparação de 2004 e 2005. A média do Grande ABC foi de um pequeno decréscimo de 0,18%.

Outro município da região onde houve aumento de roubos e furtos de veículos foi Diadema, com o índice de 13,32%. Além de Santo André, Mauá e Ribeirão Pires tiveram queda dos crimes.

A diminuição dos delitos em Santo André, de 15,34%, é apontada pelas polícias Civil e Militar da região como um dos motivos para o aumento excessivo que afetou principalmente São Caetano e teve reflexos em São Bernardo. Segundo a polícia, houve uma migração de criminosos como resultado da repressão em Santo André, que desde 2002 liderava o ranking da região.

Nesse jogo de gato e rato, os comandos das duas polícias anunciaram nesta terça medidas de combate aos delitos para que os índices recuem em São Caetano e São Bernardo e não retornem para Santo André.

A Polícia Militar irá atuar mais nas fronteiras de São Caetano com os outros municípios, especialmente a capital, e irá fiscalizar principalmente motoqueiros que trafegam em duplas. De acordo com a PM, muitos assaltantes utilizam motos para abordarem as vítimas.

Da parte da Polícia Civil, o delegado responsável pela Região Metropolitana, Nelson Guimarães, afirmou que irá acionar o Deic (Departamento de Investigações Sobre o Crime Organizado) para atuar em conjunto com as delegacias seccionais da região. O foco são os desmanches localizados em São Paulo que recebem a maioria dos carros roubados do Grande ABC, segundo o delegado.

A Prefeitura de São Caetano também espera contribuir para a diminuição dos crimes por meio de uma aplicação mais rigorosa da Lei Seca, que determina o fechamento dos bares às 23h e faz com que haja menos trânsito de veículos nas ruas, bem como a implantação do Plano de Segurança, que deve ser anunciado pelo prefeito nos próximos dias. Segundo a Prefeitura, o plano deve estabelecer aumento do efetivo da Guarda Municipal e de viaturas.

A explosão de casos em São Caetano e São Bernardo poderia ser explicada pelo aumento da frota de veículos no período. No entanto, ocorreu exatamente o contrário.

Segundo o Detran (Departamento Estadual de Trânsito), entre 2004 e 2005, São Caetano diminuiu a frota em 5,28% (de 118.500 para 112.239), e São Bernardo teve decréscimo de 0,96% (de 368.051 para 364.482).

“A migração do crime é natural e faz parte do trabalho de combate ao crime. Muitas vezes, quando se reprime um delito em uma frente, não se sabe ao certo onde e como ele irá se transferir. Tenho certeza que, com as ações de combate a desmanches que estamos fazendo desde novembro do ano passado, os índices em 2006 vão melhorar em São Caetano e São Bernardo e não vão voltar para Santo André”, afirmou o delegado Guimarães, responsável pelo Demacro (Departamento de Polícia Judiciária da Macro São Paulo), que atua na Região Metropolitana.

“Vou solicitar um trabalho conjunto do Deic com as delegaciais seccionais do Grande ABC para ‘estourar‘ desmanches em São Paulo que recebem os carros da região”, disse Guimarães.

“No dia 2 (quinta), vamos fazer uma reunião com todo o comando da região para analisar com detalhes esses índices apresentados. A migração do crime é natural, mas pode haver outros fatores”, afirmou o integrante do comando da PM do Grande ABC, major José Quesada Farina.

“Como já havíamos notado a tendência de aumento dos crimes em São Caetano e São Bernardo no final do ano, em 2006 haverá um patrulhamento maior em motoqueiros que andam em duplas nos principais corredores das duas cidades, pois verificamos que muitos roubos de veículos são feitos por duas pessoas que ocupam as motos”, contou o major.

“São Caetano é uma cidade que atrai muitos os criminosos por ser um pólo rico. Quase todos os moradores têm carros e os colocam nas ruas, pois não há muitos estacionamentos. Infelizmente, quando se combateu o crime em Santo André, houve reflexo na cidade”, afirmou o delegado seccional de São Bernardo, Marco Antônio de Paula Souza, responsável também por São Caetano.

“Nos últimos dois meses de 2005, houve diminuição dos índices, em comparação com 2004. Por isso, vamos continuar com o trabalho de perseguição a carros suspeitos nas principais vias das cidades, que já resultou em muitas prisões”, disse Souza.