O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cumpriu sexta-feira agenda típica mineira, distribuindo cumprimentos e evitando algum assunto ácido de economia ou política. Conversou com o governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), mas dedicou atenção especial aos prefeitos da região serrana do Estado. O anúncio de um pacote de agrados à população ficou por conta do Palácio do Planalto, que divulgou o projeto de lei que regulamenta cooperativas a ser enviado esta semana ao Congresso.

Lula chegou sexta-feira a Ouro Preto às 16h30, no terceiro vagão da maria-fumaça que o trouxe de Mariana, cruzando 18,7 quilômetros de uma região montanhosa emoldurada de ferro e ouro e que guarda um pedaço da história do Brasil dos séculos XVII e XVIII. Ao lado de Marisa, sua mulher, Lula tirou o paletó, mas não o quepe de maquinista que lhe deram, tomou guaraná gelado, saboreou canapés e bolo de fubá e apreciou a paisagem bucólica que o empolgou.

Conversou ao pé do ouvido com o governador Aécio Neves, deu prolongada atenção aos prefeitos Ângelo Oswaldo (Ouro Preto) e Celso Cota (Mariana), ambos do PMDB, partido que ele quer a seu lado nas eleições. Depois, mudou de lugar e foi sentar no terceiro banco, acomodando-se por um bom tempo junto a d. Luciano Mendes de Almeida, de 75 anos, arcebispo de Mariana, que o benzeu ainda na estação da cidade e lhe deu as boas-vindas com um Pai-Nosso. No caminho, foi à janela e acenou para pessoas que o aplaudiam ao passar. O passeio durou cerca de 1 hora e 10 minutos.

O Trem da Vale, como agora se chama oficialmente a maria-fumaça, custou R$ 48,5 milhões e foi entregue pela Companhia Vale do Rio Doce, após 9 meses de obras. Na região, a Vale mantém 4 minas de minério de ferro e negócios na área de manganês, com a Rio Doce Manganês.

Quando o presidente pôs os pés em Mariana e 2 mil pessoas o receberam com foguetório e o coro de “um, dois, três, Lula outra vez”, o ministro Luiz Dulci (Secretaria-Geral da Presidência) insistiu que ele não está em campanha. ñEstá inaugurando suas obras, como outros governantes”, justificou. Em Ouro Preto, o presidente foi para o sítio do ministro Walfrido Mares Guias (Turismo), nos arredores da cidade, onde permanecerá no fim de semana.

Cooperativas – O governo divulgou sexta-feira que lançará, na próxima semana, mais um pacote de agrados à população, incluindo medidas na área do trabalho e na saúde. Antes de embarcar para Viena – onde participa da reunião de cúpula entre Europa e América Latina –, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva envia ao Congresso um projeto de lei que regulamenta as cooperativas de trabalho e outro que obriga os laboratórios farmacêuticos a produzirem remédios fracionados.

O primeiro projeto faz parte de um pacote que será anunciado na segunda-feira pelo presidente e inclui o reconhecimento das centrais sindicais do país e a criação de um Conselho Nacional de Relações do Trabalho. O projeto das cooperativas pretende fazer com que esse tipo de organização trabalhista passe a ser um empregador formal, garantindo a seus cooperados todos os direitos trabalhistas.

De acordo com dados do Ministério do Trabalho, existem hoje cerca de 15 mil cooperativas de trabalho no Brasil e cerca de um terço delas é informal. Em muitos casos, elas são usadas para driblar a legislação trabalhista – ou seja, são criadas por funcionários para prestar serviços a empresas onde trabalhavam sem que estas precisem pagar direitos trabalhistas como férias, FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) e férias. A lei deverá exigir que, mesmo em cooperativas, todos esses direitos sejam cumpridos.