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Historiador tenta desvendar os mistérios de Mona Lisa
João Marcos Coelho
Especial para o Diário
04/04/2004 | 19:58
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  Há 501 anos uma pequena tela de 77cm de altura por 53cm de largura encanta e seduz desde os exigentes conhecedores de arte até o povão, provocando intermináveis polêmicas em todo o mundo. Ela está mesmo sorrindo? Ou escarnecendo de nós, seus observadores? É homem ou mulher? Seria um travesti? O fato é que a Mona Lisa ganhou, no seu 500º aniversário, em 2003, o direito a ter sala especial no Museu do Louvre, em Paris. Entre as cerca de 6 mil obras de arte do acervo do museu, é a única a ter sala exclusiva.

E mais: está em um conteiner especial, feito de concreto e protegido por duas chapas de vidro triplamente laminado à prova de bala, com 25cm de separação um do outro. O quadro está nesta caixa desde 1974 e é inspecionado anualmente, quando o invólucro de sílica usado para manter a temperatura é trocado e a madeira vistoriada para verificar se contraiu ou expandiu.

Tantos cuidados justificam-se. Ela é, de fato, a pintura mais famosa do mundo. As hipóteses mais desvairadas já foram cultivadas por pesquisadores, intelectuais, cartunistas e artistas plásticos ao longo destes cinco séculos e um ano. Donald Sassoon, professor de História do Queen Mary College, na Universidade de Londres, dedicou-se a uma pesquisa minuciosa sobre a Mona Lisa de Leonardo da Vinci. Seu livro A História da Pintura Mais Famosa do Mundo acaba de chegar às livrarias brasileiras (Record, 364 págs., R$ 62,90).

O tema é fascinante, e fica ainda mais interessante por causa da escrita fácil e bem-humorada de Sassoon. Depois de desfilar muitos números – nos últimos 25, por exemplo, a Mona Lisa foi tema de pelo menos uma propaganda por semana, no mundo –, ele discute as razões pelas quais esta tela incomoda tanta gente.

A elite intelectual e artística desconfia de produtos culturais que conquistam maciça fama popular. E este é justamente o caso do quadro de Da Vinci. “É como se uma das características distinguidoras da alta cultura fosse estar fora do alcance das massas”, afirma o autor.

Do outro lado do balcão estão os populistas, que proclamam, sem acreditar no que dizem, que tudo tem a mesma qualidade: uma história em quadrinhos do Tintin é tão boa quando um Botticelli, os filmes de Hollywood são tão bons quanto Shakespeare. “As massas recebem tapinhas nas costas”, escreve Sassoon, “enquanto lhes dizem: ‘essas suas coisas são ótimas, tão boas quanto as nossas, juro! Assim, a grande divisão é reiterada e cada qual permanece no seu devido lugar. A história da Mona Lisa perturba todas essas posições ao demonstrar que algo pode ser tanto um clássico da arte ocidental quanto pop, na moda, famoso”.

Em dez capítulos, Sassoon narra em detalhes as etapas mirabolantes da criação da tela, sua entronização no Louvre, o culto a Leonardo, o sequestro da tela e sua atual condição de ícone popular.

A edição bem cuidada inclui um caderno a quatro cores de reproduções de telas, do original à debochada versão de Salvador Dalí, além de bibliografia e índice onomástico e notas.

Mas por que a Mona Lisa mantém seu fascínio hoje? O próprio Sassoon responde nas últimas linhas do livro: “Tudo o que lemos, tudo o que vemos e experimentamos muda nossas percepções. Quando iniciei este trabalho, não achava a Mona Lisa uma pintura particularmente bonita. Agora, acho. E acho que sei por que é tão famosa. Ainda não descobri por que ela sorri. Mas isso ninguém pode mesmo saber”.




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