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'O Renascimento' abre coleção História Essencial
Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
03/02/2002 | 17:28
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Desde que Heinrich Wölfflin esboçou seus Conceitos Fundamentais da História da Arte em 1915, a questão principal entre historiadores da arte não era mais diferenciar duas escolas ou artistas simplesmente, mas explicar como ambos, tendo percorrido caminhos diferentes, legaram obras grandiosas.

É assim também que o historiador Paul Johnson age em O Renascimento (Objetiva, 220 págs., R$ 29,90), livro que abre a coleção História Essencial, com temas abordados por gente de renome em obras compactas (também chega às livrarias O Islã, e em seguida, a editora promete O Comunismo e A Igreja Católica).

Neste volume, o inglês Johnson revela prazer pelo tema, tanto que sua desenvoltura chega a ser saborosa sem perder o rigor acadêmico. Ele analisa de forma essencial os estímulos – temperamento do artista, espírito da época e caráter social – que determinaram o lançamento do Ocidente na modernidade.

A cronologia do Renascimento é mais esquemática do que exata. O período não tem uma datação precisa, variando entre 1260 e 1594. A América já havia sido descoberta (1492), bem como o Brasil, e a Reforma protestante (1517) estava em seu início quando o Renascimento atingia seu apogeu.

Buscava a perfeição em si mesma, nas obras, e uma existência livre e superior dos indivíduos pelo humanismo (filosofia, gramática, poesia, retórica, moral e história). Embora o termo Renascimento, ou Renascença – cunhado só no século XIX –, nunca fosse utilizado pelas elites européias, principalmente a italiana, havia uma retomada cultural da grandeza filosófica e artística da Grécia e Roma antigas, cujas presenças ainda se faziam ver, seja nos escritos de Aristóteles, seja nas esculturas e nas ruínas dos templos.

Johnson vê duas condições para o Renascimento ter florescido nesse período: a expansão comercial dentro e fora da Europa, que enriqueceu cidades como Florença (cujo papel renascentista foi mais importante do que de qualquer outra cidade), e a existência de uma frente humana, pois o Renascimento, obra de indivíduos, diz respeito ao individualismo. O autor cita duas invenções cruciais do período, que nada têm de ‘renascimento’, pois não existiam na Antigüidade, mas foram determinantes: os tipos móveis, na Alemanha, e por conseqüência a imprensa e edição de livros mais acessíveis e impressão de gravuras; e a tinta à óleo, na Holanda, cuja técnica predomina até hoje. Johnson tira, portanto, o berço italiano da Renascença.

Mas foi na terra da pizza que os gênios se manifestaram, graças a mecenas, ricos, poderosos e culturalmente interessados em patrocinar artistas, como a família Sforza (de Milão), que bancou o pintor Leonardo da Vinci, e os Médici (de Florença), o mesmo para o escultor e pintor Michelangelo.

Johnson usa o texto de Vasari, A Vida dos Artistas, publicado em 1550, para falar sobre esses renascentistas. Da Vinci não era organizado, estava mais interessado em idéias – e as tinha muitas – do que em gente, e era um homem universal, renascentista até a medula, no sentido de desejar superar-se de todos os modos possíveis. Michelangelo, outro gênio do período, era também brigão e mostrava-se freqüentemente enraivecido consigo mesmo e com os outros.

Johnson destaca ainda Dante Alighieri e Petrarca (literatura), Donatello e Verrocchio (escultura), Brunelleschi e Palladio (arquitetura), Giotto, Rafael e Ticiano (pintura), etc. Sem entrar em detalhes de estilo artístico, o autor oferece um panorama geral, ótimo para quem se inicia no assunto.




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