Política Titulo Minha Casa, Minha Vida
Gabinete de Elian faz
cadastro irregular

Vereadora de Santo André usa Câmara para inscrição no plano federal, que não necessita de intermediário

Fábio Martins
Oscar Brandtneris
16/05/2015 | 07:00
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Claudinei Plaza/DGABC


O gabinete da vereadora de Santo André Elian Santana (Pros) utiliza espaço público da Câmara para fazer cadastro irregular do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida, vinculado ao governo federal. A equipe do Diário flagrou e gravou ontem a manobra firmada pelo grupo da parlamentar, que consistia em promover a inscrição de munícipes ao plano de moradias populares da União, que não necessita de intermediários – registro pode ser realizado direto pela internet. Entretanto, a medida não foi efetuada apenas ontem. Em dias de sessão legislativa, o procedimento era executado no auditório da Casa.

Cerca de 200 pessoas visitaram ontem o gabinete da vereadora com a finalidade do cadastramento. Os munícipes formavam fila na porta do escritório, no Legislativo. Três funcionários da parlamentar faziam o trabalho de auxílio na inscrição, requerendo documentos, como RG, CPF, título de eleitor e comprovante de endereço. Xerox eram tiradas na própria Câmara. A servidora que atendeu à equipe de reportagem afirmou que serão disponibilizados 520 apartamentos no bairro Cidade São Jorge, em Santo André. Prometeu que a situação deve ser analisada em período de um ano e oito meses – coincidentemente, após a campanha eleitoral de 2016. “A ação foi criada pela Elian”, reforçou.

O Diário teve acesso a outras fichas de inscrição. Algumas tinham, curiosamente, a igreja frequentada pelo munícipe – a vereadora é evangélica. Na tentativa de driblar a ilegalidade, a assessoria usa certificado, sem referência do programa, porém a todo o momento os funcionários falavam que o cadastro era para o projeto nacional. Na fila, havia, inclusive, mulheres grávidas. Em contrapartida, o cadastro é sorteado pela Caixa Econômica Federal, direcionado a famílias com rendimento mensal até R$ 5.000.

Especialista em Direito Eleitoral, o advogado Arthur Rollo sustentou que o caso caracteriza improbidade pelo fato de a vereadora usar o gabinete para cadastro paralelo ao do governo federal. Segundo ele, a medida é ilegal, principalmente por se colocar como intermediadora do processo. “Vejo como falta de decoro parlamentar e desvio de finalidade, com possibilidade de cassação de mandato. Isso porque não depende de intervenção do gabinete, mas o fez, usando a estrutura e deve ter levantado informações para banco de dados político. Nada justifica esse expediente.”

Elian é vereadora de primeiro mandato, eleita pelo PTdoB. Ela conquistou 3.137 votos no pleito de 2012. É mulher do ex-parlamentar Israel Santana, que presidiu a Casa no fim dos anos 1990.
Procurada, Elian não foi localizada para comentar o assunto. Ela não estava ontem na Câmara. A equipe do Diário também tentou contato por meio da secretária de gabinete, mas não obteve retorno. 




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