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Hospital Municipal precisa de doações de leite materno
Willian Novaes
Do Diário do Grande ABC
18/04/2010 | 07:03
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O sinal de alerta está ligado no maior banco de leite do Grande ABC. O estoque no HMU (Hospital Municipal Universitário) de São Bernardo está com apenas 100 litros guardados nas geladeiras do local, o mínimo adequado é de 300 litros.

O estoque atual é suficiente para atender cerca de 70 bebês prematuros pelos próximos 20 dias.

A situação é preocupante, e a coordenação do centro hospitalar conta com a solidariedade das mães recentes das sete cidades para solucionar este problema.

"As crianças (atendidas no local) consomem em média de seis a sete litros diariamente, aqui são dadas cerca de oito mamadas diárias por bebê. É necessário que a população se solidarize e contribua com o leite que está sendo desperdiçado em casa", declara Nerli Pascoal Andreassa, coordenadora do banco de leite do HMU.

A situação se complicou no último mês, quando 27 mães doadoras deixaram de enviar seus valiosos frascos com leite congelado. Na sexta-feira, por exemplo, apenas três mulheres tiveram os recipientes com o rico nutriente recolhidos.

"Vale lembrar que a doadora de leite tem tempo útil. Quando acaba, não temos o que fazer, a não ser esperar por novas voluntárias", conta Nerli.

Para doar, a mãe interessada não precisa sair de casa. A coleta é feita por funcionários dos bancos de leite, e técnicos em nutrição são enviados para ensinar a maneira correta de retirar e armazenar o leite.

Não é apenas o HMU que precisa de voluntárias. O Hospital Estadual Mário Covas e o Hospital da Mulher de Santo André também necessitam, mas não se encontram no limite.

O material doado é utilizados para consumo interno nas três unidades de Saúde, que contam com atendimento especial para prematuros nascidos na região.

"As mulheres não têm de tirar o leite dos filhos. Precisamos apenas do excedente. Em 2009, tivemos 1.300 doadoras, mas precisamos de mais", disse Shirlei Tessarini, coordenadora do banco de leite do Hospital da Mulher.

Amamentar crianças de outras pessoas não é recomendado
Mulheres com leite em abundância amamentarem filhos de irmãs, parentes, amigas e até vizinhas é um costume antigo no Brasil. A prática, no entanto, é condenada por profissionais de Saúde.

"É uma tradição que ainda existe, mas felizmente em número menor que no passado. Isso ocorre principalmente no Interior", conta Nerli.

No Brasil é proibido a comercialização de leite materno, porque o alimento pode ser um transmissor de uma série de doenças, como a hepatite, sífilis e o vírus HIV.

Para garantir as condições de higiene dos leites doados, os bancos de leite realizam uma série de testes para garantir um alimento saudável para os bebês prematuros. Cerca de 20% do material doado é descartado por estar guardado em recipiente inadequado. WN

Falsos mitos rodeiam amamentação
Alguns mitos negativos rondam a amamentação. Segundo especialistas, estas crenças fazem muitas mulheres deixarem de dar leite aos seus filhos, atrapalhando e retardando o desenvolvimento das crianças.

Uma das crenças mais difundidas é que, ao amamentar, a mulher fica com os seios caídos, "Isso é crendice popular. Ao manter as mamas cheias (de leite), a pele dos seios fica esticada por muito tempo e isso dará flacidez independente de a criança mamar. Vale lembrar que uma hora os seios vão cair mesmo, e a amamentação não é a culpada", disse Nerli Pascoal Andreassa, coordenadora do banco de leite do HMU.

Outro fator que faz algumas mães interromperem a amamentação antes do bebê completar 6 meses é achar que o leite não tem qualidade, devido à cor e densidade do líquido. "Não existe essa história de leite ralo e fraco. O leite materno é um alimento completo. As mães precisam de orientações de profissionais preparados", ensinou Nerli.

Os bancos de leite da região também informam sobre as melhores posições para amamentar e as maneiras adequadas para não ter fissuras nos mamilos. As mães com recém-nascidos que não conseguem dar de mamar em casa, alegando que o leite secou, não recebem o leite doado. "Nós damos todo o tipo de apoio para essas pessoas. Na hora de retirar o leite é preciso estimular (a mama) e estar em boas condições. O estresse é um inimigo", lembra Nerli.


Redução de doenças respiratórias é benefício
A angústia pelos baixos estoques nos bancos de leite do Grande ABC tem consequências preocupantes. Graças a ingestão do produto, o desenvolvimento de bebês prematuros tem sido muito bom.

A alimentação única e exclusiva com leite materno é a fonte principal para garantir boa qualidade de vida no presente e no futuro do bebê.

Entre os benefícios da ingestão exclusiva do alimento até os 6 meses de idade está a redução das chances de desenvolvimento de doenças respiratórias como bronquite, rinite, sinusite; além da melhor formação da dentição e da mandíbula, entre outros.

"Ao sugar a mama, o bebê respira pelo nariz, o que permite a entrada de um ar filtrado e quente para os pulmões e também fortalece o maxilar. Os dentes nascem mais fortes", conta Nerli Pascoal Andreassa.

Não são apenas as crianças que se beneficiam, as mães também têm menor chance de desenvolver câncer de mana e de útero por amamentar. Outro resultado é o que a maioria das mulheres deseja: perda rápida de peso.

"O Brasil tem tecnologia de ponta em bancos de leite, o que nos permite saber os reais resultados da ingestão", conta Shirlei Tessarini, coordenadora do banco de leite do Hospital da Mulher.

 
Mães doam um litro de leite por semana
A solidariedade da assistente social Milena Ribeiro Iha, 34 anos, fez com que ela se sentisse mãe de vários filhos. Mesmo tendo ficado grávida apenas uma vez, doou dezenas de litros de leite materno para o banco HMU.

A sua filha, Izabela, completou 6 meses e, ao voltar da licença-maternidade para o trabalho, no próprio hospital, a mãe ainda encontra tempo para doar um pouco do alimento. No HMU são, em média, 70 prematuros atendidos mensalmente que recebem o leite. "Esse é um gesto de amor, solidariedade e humanidade. Além de aliviar a mama, é bom demais ajudar quem está precisando", conta a assistente social.

ACIMA DA MÉDIA
Para aprender a retirar até 2,5 litros por semana, (quantidade acima da média), Milena contou que precisou de prática e algumas informações passadas pelos profissionais do bando de leite. "Eu tinha muito leite mesmo. Às vezes, estava amamentando e via a outra mama vazando. Já aproveitava para guardar."

Segundo estatísticas dos bancos de leite, cada doadora envia em média um litro por semana. Mas o Hospital da Mulher de Santo André já encontrou uma doadora que chegava a mandar até oito litros por semana.

"Algumas mães têm a capacidade de retirar bastante, mas se todas ajudarem o resultado, vai ser melhor para todo mundo", comentou Nerli Pascoal Andreassa, coordenadora do banco de leite do HMU.

NA ESPERA DE DOADORAS
A dona de casa Gislane Silva Pugliese, 39, deu à luz a seu quarto filho na quinta-feira. A pequena Hannah Leah nasceu com 42 centímetros e 1,920 quilo, aos oito meses e meio de gestação, e precisou se alimentar com leite materno por uma fina sonda.

Mesmo com a experiência de outras três amamentações, Gislane ainda não conseguiu retirar leite. "Ela vai precisar de um período maior de estimulação, porque não teve a criança sugando (a mama). Mas em no máximo 72 horas, com as técnicas e exercícios, o processo é normalizado", informou a coordenadora.

Mesmo após a cesárea e uma gravidez de risco devido a diabetes e pressão alta, Gislane andava pelo HMU, onde fez o parto, feliz da vida.
"Triste é ver as pessoas jogarem o leite fora, com tantas crianças daqui precisando. Graças a Deus minha lindinha já está se alimentando. Daqui a pouco vou poder amamentá-la com o meu leite e ainda doar para quem precisa", disse a mãe.


Escravas amamentavam bebês brancos
Ama-de-leite ou mãe-preta. Por esses nomes eram conhecidas no Brasil as escravas que amamentavam os filhos dos senhores na época da escravidão. Essas mulheres, na maioria das vezes bonitas, tinham acabado de dar a luz a uma criança e por isso teriam condições de ser doadoras, mesmo que involuntariamente, para outro bebê.

Essa prática funcionou até o fim do século 19. A família que mantinha uma mãe-preta dentro de casa demonstrava boas condições financeiras e melhorava o seu status junto à sociedade de alta classe.

A escrava com esta função não executava tarefas de grande esforço físico e nem de mucama (escravos que trabalham na arrumação dentro das residências), cozinheiras e muito menos na colheita de grãos ou carregando qualquer tipo de objeto nas fazendas.

O seu papel no lar era apenas amamentar e cuidar da criança. Na ocasião acreditava-se que o leite da mulher negra era mais forte, com isso o bebê branco teria um melhor desenvolvimento e uma vida mais saudável. No País chegou a haver o aluguel da mãe-preta, inclusive com anúncios em jornais.

Em algumas situações, os recém-nascidos das amas-de-leite eram retirados para que o filho da patroa tivesse o leite exclusivo. É comum observar tal prática em ilustrações e pinturas de artistas contemporâneos.




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