Quem passa pela Rua Eneida, na Vila Suissa, em Santo André, não vê nenhum risco em morar ali: ruas asfaltadas, sinalizadas, e com casas de tijolos aparentemente bem construídas. No entanto, basta olhar com mais atenção para ver que as casas são erguidas sobre morros - e que a lama, em tempo de chuvas intensas, pode causar uma tragédia.

Mais uma vez, foi necessário que uma dessas residências desabasse para que o perigo na região ficasse evidente. Segundo a dona da casa danificada, Francisca Pereira dos Santos, 58 anos, a Defesa Civil nunca havia falado sobre o risco de desabamentos na região.

Na noite de quinta feira, com a forte chuva que deixou a região debaixo d'água, a laje da casa de Francisca desabou. Uma amiga que a visitava saiu para saber o que havia acontecido. "Ela viu, mas não me avisou, só saiu me puxando. Dois meninos daqui do bairro ajudaram a gente a sair". Hipertensos, Francisca e o marido passaram mal assim que foram tirados da casa. "O importante é que não aconteceu nada com a minha família", disse, emocionada.

As casas ao lado continuam lá. Francisca está aflita com o perigo que eles correm. "Não cai, não, é só ter fé em Deus", disse um morador da região que estava por lá. "Na minha casa também não tinha perigo. O que não faltava ali era estrutura." Francisca comentou que seu marido, que é pedreiro, foi quem construiu.

A família morava no andar de baixo da laje caída. Essa parte ainda não despencou, ao contrário do carro, agora embicado no pé do morro que acaba na Rua Hamurabi, onde o estrondo também pode ser ouvido.

A moradora da casa na parte de baixo da encosta também teve a residência interditada e correu para tirar o fogão e a televisão novos.

"Ela dormiu lá em casa, ficou com medo de ficar lá. Agora deve ter ido para junto de algum parente", disse Maria de Lourdes, 63, moradora da região há aproximadamente 40 anos. "Eu até achei que fosse aquele imóvel", disse ela, apontando uma estrutura que já foi interditada pela Defesa Civil e cujos moradores se recusam a sair.