Economia Titulo Estratégia
Sindicalismo muda estratégias para combater crise econômica

Negociação é a palavra chave para manter empregos e o desenvolvimento econômico após crise financeira

Marcos Seabra
Vivian Costa
08/03/2009 | 07:00
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A estratégia de defesa do emprego e dos interesses dos trabalhadores mudou de endereço. Saiu das ruas e pulou para a mesa de negociações. A solução dos conflitos entre empresários e trabalhadores, bandeira das duas principais centrais sindicais do País - CUT (Central Única dos Trabalhadores) e Força Sindical -, por exemplo, já não passa pela ocupação de fábricas, greves raivosas ou ameaças físicas.

Hoje, solucionar esses conflitos também exige o envolvimento de outros atores da sociedade civil. Ao mesmo tempo, a defesa das indústrias não cabe mais à polícia, com cães amestrados e bombas de gás lacrimogêneo.

O melhor exemplo da "mudança de estratégia" está no seminário O ABC do Diálogo e do Desenvolvimento, que pretende ser um catalisador de propostas dos governos municipais e federal - porém ainda sem a participação efetiva do governo estadual -, de ações de curto, médio e longo prazo para a retomada do desenvolvimento econômico e combate ao desemprego na região.

"O sindicalismo ficou muito mal acostumado nos últimos anos. Primeiro porque houve um processo de crescimento do País, o que trouxe uma série de benefícios à população com o apoio óbvio do governo. Diante do cenário favorável, as elites sindicais foram cortejadas por todos, o que pode ser visto pela eleição de um sindicalista à Presidência da República", lembra o cientista político e professor do Ibmec/SP (Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais, de São Paulo) Carlos Melo.

Arthur Henrique, presidente da CUT não admite, porém, que houve uma mudança nos sindicatos associados à central que preside, mas apenas uma troca de estratégia. "O movimento sindicalista não mudou. O da CUT, pelo menos, continua nas ruas lutando pela defesa dos trabalhadores, do emprego e dos direitos dos trabalhadores", afirma Henrique.

Mesmo que os sindicatos tivessem o mesmo poderio e comportamento de anos atrás, nada se resolveria, diz Carlos Melo. "Impedir as demissões não vai resolver o problema, mas só demitir também não, aliás, só agrava a situação".

Para Hélcio Honda, diretor do departamento jurídico da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), a mudança de comportamento dos sindicatos é elogiável. "Precisamos olhar para frente e não para o passado. É necessário observar a conjuntura econômica, mais do que o balanço das empresas", sugere.

Para Carlos Alberto Grana, presidente da CNM/CUT (Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT), a mudança de comportamento dos sindicatos é permanente. "Instrumentos que foram usados em determinadas situações não é o mais eficaz em outros momentos. De qualquer forma, a mobilização social que o movimento está colocando é a melhor saída ao invés de se acomodar e aceitar a lógica de simplesmente reduzir direitos. É a mobilização para chamar a atenção do conjunto da sociedade brasileira", diz Grana. Para o ele, faz falta "uma participação mais efetiva dos governos estaduais" no processo, e é preciso que "a sociedade pressione de forma organizada" em um momento de crise.

Para Carlos Melo, como está evidente que haverá desgaste porque as demissões vão acontecer, ou uma negociação onde os trabalhadores vão sair perdendo, governantes não querem se envolver e o processo fica sem arbitragem. "Como politicamente é impossível não se desgastar nesse processo, algumas esferas de governo fazem de conta que não tem nada a ver com isso".

Melo insiste que falta coordenação no processo de amenizar os impactos da crise. "É preciso sentar à mesa, negociar. Provavelmente haverá setores em que não há jeito e será preciso negociar políticas públicas", finaliza.




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