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Nos EUA, 2,2 milhões de pessoas enfrentam ameaça de despejo
Da AFP
13/03/2007 | 17:16
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Cerca de 2,2 milhões de proprietários podem perder suas moradias até o fim do ano, como conseqüência dos empréstimos de alto risco que contraíram, com cotas cada vez mais elevadas.

A assistente de oftamologista Sharon Edwardsen, 47 anos, é um exemplo. Ela assumiu um crédito hipotecário de alto risco para comprar uma casa em Staten Island, em Nova York, mas, com o aumento das taxas de juros, precisa pagar agora US$ 2,8 mil por mês, embora só ganhe US$ 1,6 mil. "Estou em pânico. Não consigo dormir de preocupação. Estou nesta casa com minha família há muitos anos e não quero perdê-la, mas não posso pagar o que me exigem", declarou Sharon, que levou seu caso a uma organização de defesa dos direitos das pessoas carentes: Legal Services for NYC Staten Island.

"Com a expansão do mercado imobiliário nestes últimos dez anos houve inovações em termos de 'empréstimos exóticos'", explica Eric Halperin, diretor da seção de Washington do CRL (Centro pelo Crédito Responsável).

Segundo fontes do setor imobiliário, este tipo de empréstimo, em que se concede uma taxa fixa durante um curto período e, posteriormente, se ajusta ao redor de 12%, representou em 2005 mais de 20% de todos os empréstimos imobiliários. Um em cada cinco destes créditos "exóticos" deve terminar em despejo e execução da dívida. Estes empréstimos, que durante a primeira etapa contam com a comodidade das cotas baixas, eram oferecidos a pessoas de renda mínima ou com pouca capacidade de saldar dívidas, que não têm acesso a créditos tradicionais.

Com a expansão do mercado imobiliário, quando o pagamento mensal se tornasse muito severo, os que assumiram empréstimos poderiam renegociar o valor com base no preço incrementado de suas habitações e obteriam, com freqüência do mesmo credor, um outro empréstimo para poder pagar o original.

"Enquanto o mercado imobiliário se expandia, permaneceram ocultos os problemas que agora estão à vista de todos", resumiu Ira Rheingold, diretor da NACA (Associação Nacional de Advogados Defensores dos Consumidores).

Quando Sharon se viu em dificuldades, a empresa de crédito hipotecário lhe propôs renegociar a dívida. Depois de quatro anos e quatro refinanciamentos, seu empréstimo de US$ 103 mil havia saltado para US$ 285 mil, enquanto as mensalidades foram de US$ 786 para US$ 2,8 mil, ainda que ela continuasse ganhando o mesmo salário. "O dinheiro que me emprestavam servia, principalmente, para pagar os novos vencimentos da hipoteca. Seis meses mais tarde, quando todo o dinheiro havia evaporado, lhes perguntei: 'E agora, o que faço?'e me disseram para não me preocupar, que me refinanciariam novamente."

A distribuição farta de empréstimos de alto risco, certamente com juros muito altos, dobrou devido a um relaxamento das garantias. Certos créditos eram chamados 'ninas', abreviatura em inglês para 'sem renda, sem ativos'. Algumas empresas não hesitaram em registrar informações falsas sobre seus clientes. Sharon, de assistente de oftalmologista com US$ 1,6 mil de salário, passou a ser "médica com renda de US$ 6 mil", de acordo com denúncia da própria Sharon.

"Os credores sabiam que essa gente não conseguiria pagar os empréstimos que eles concediam, cegos pela própria cobiça e pela avalanche de dinheiro que chegava a Wall Street", resumiu Iran Rheingold. Na semana passada, as autoridades financeiras americanas anunciaram um endurecimento das condições de obtenção destes empréstimos. "Melhor assim, mas, como dizemos por aqui 'fecharam a porta da granja quando as vacas já tinham fugido'. Talvez seja muito pouco e tarde demais", concluiu Rheingold.




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