Cultura & Lazer Titulo
Guinga mostra em Sao Paulo os sons do subúrbio
Por Do Diário do Grande ABC
06/06/1999 | 14:19
Compartilhar notícia


O compositor e violonista Guinga apresenta segunda-feira, no Sesc Paulista, e depois, no Sesc Santo Amaro, ambos em Sao Paulo, o repertório de seu novo disco, Suíte Leopoldina. É o seu quarto solo, e ele o considera o melhor. Tem participaçao de Chico Buarque (eles sao parceiros em Você, Você, música do repertório do CD As Cidades, de Chico), Nei Lopes, Lenine, Alceu Valença, Ivan Lins, Ed Motta e do gaitista belga Toots Thielemans, arranjos de Leandro Braga, Gilson Peranzzetta, Lula Galvao, Rodrigo Lessa. Sao nomes de muitos estilos, reverenciando a grande música de Guinga.

O disco é um lançamento da Velas, que pertence a Ivan Lins e Vítor Martins. Há dez anos, indignados com a indiferença das grandes gravadoras ao talento de Guinga, Ivan e Vítor criaram a Velas - especialmente para gravar o primeiro disco do compositor, Simples e Absurdo, que tinha já participaçoes de Chico Buarque, Leila Pinheiro, Boca Livre, Zé Renato e outros nomes de peso. "Simples e Absurdo" era todo de parcerias de Guinga e Aldir Blanc.

Guinga nao é um novato. Começou na época dos festivais, no fim dos anos 60, e foi bem gravado ao longo da década seguinte. Elis Regina gravou dele e de Paulo César Pinheiro o Bolero de Sata, em formidável dueto com Cauby Peixoto. Mas os anos 80 vieram e a música brasileira saiu das rádios e foi saindo da TV. Guinga é dentista e dedicou-se ao ofício. Mas nao abandonou a composiçao.

No fim dos anos 80, aquela que pode ser considerada a fatia mais inteligente da música brasileira resolveu unir forças para tirar Guinga do ostracismo musical. Aldir Blanc promoveu verdadeira cruzada - realizava reunioes para mostrar a música do entao novo parceiro. Outros se juntaram ao esforço - o mencionado Ivan Lins, a cantora Leila Pinheiro, o saxofonista e produtor Zé Nogueira.

A expressao "simples e absurdo", cunhada por Aldir para dar nome a uma das parcerias dele e de Guinga, é intencionalmente cheia de sentidos. É simples que as gravadoras nao queiram gravar Guinga, as rádios nao queiram tocá-lo. Tocá-lo é permitir que o público estabeleça um parâmetro de comparaçao e perceba quanto sao ruins os outros discos que elas lançam. É simples o motivo por que as rádios nao tocam o disco de Guinga e as emissoras de televisao nao o convidem para seus programas. Ele teria de pagar para isso. E nao vai fazê-lo - nao apenas porque ele e a gravadora nao tenham dinheiro. Mas por princípio.

Tente o leitor lembrar-se da última vez em que ouviu Chico Buarque no rádio e perceberá que foi há muitos, muitos anos (há exceçoes; aqui, fala-se da regra). Ou da última vez em que ouviu Tom Jobim. Joao Gilberto. Dorival Caymmi. Gilberto Gil (Caetano Veloso também, normalmente, nao toca; está tocando, agora, porque tem música na trilha de novela). Ou seja, nao é uma questao pessoal com Guinga, uma questao estética com a música de Guinga. É questao de qualidade. O que é bom nao toca. Para nao criar a temível hipótese da comparaçao.

Ouvir os discos de Guinga é indispensável. Assistir a um show dele é uma experiência estética ímpar. Viaje com ele pelos trilhos da Leopoldina, em direçao ao subúrbio carioca berço do choro, das valsas de esquina, das cançoes apaixonadas.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;