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CPI do Narcotráfico inicia novas investigaçoes
Do Diário do Grande ABC
23/10/1999 | 13:47
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A Comissao Parlamentar de Inquérito (CPI) do Narcotráfico pretende aprofundar, nesta semana, a segunda e mais importante linha de investigaçao sobre o tráfico de drogas no país, desde a prisao do ex-deputado acreano Hildebrando Pascoal. Na segunda e terça-feira, os integrantes da comissao tomarao, em Sao Luiz, no Maranhao, o depoimento de várias testemunhas, algumas delas acusadas de participaçao na quadrilha nacional, especializada em roubo de carretas, contrabando de armas e tráfico de cocaína. Trata-se, segundo o relator da CPI, Moroni Torgan (PFL-AC) da maior organizaçao criminosa em atividade no país.

A CPI irá tomar o depoimento do deputado estadual maranhense José Gerardo (PPB), e de Epitácio de Moura Farias, que, até seis meses atrás, era o capataz da fazenda Flores de Santana, do empresário José Rogério Cavalcante Farias, irmao do deputado federal Augusto Farias (PBPB-AL). José Gerardo, que conseguiu um habeas-corpus do Supremo Tribunal Federal, vai depor na condiçao de acusado e nao de testemunha. Como denunciado, o deputado, que está em seu quinto mandato, poderá até mentir. Como testemunha, José Gerardo seria obrigado a declarar somente a verdade, sob risco de ser preso.

Mas, a maior expectativa do comando da CPI é sobre o depoimento de Epitácio de Moura, um técnico agrícola que dirigiu a fazenda dos Farias, em Nova Olinda, interior do Maranhao por três anos. Epitácio, que foi interrogado pela Polícia Civil maranhense na última quarta-feira é apontado, pela Polícia Federal, como um dos supostos integrantes da quadrilha. Epitácio, conforme à CPI, recebeu na fazenda e prestou ajuda a vários integrantes da organizaçao. O capataz mantinha também estreitas ligaçoes com o prefeito de Nova Olinda, William Amorim.

Na fazenda de Amorim, situada nas proximidades da fazenda dos Farias, a polícia localizou uma carreta roubada. Na quinta-feira, pouco antes do depoimento de Rogério Farias à CPI, em Brasília, Epitácio conversou, por telefone, com seu ex-patrao. A conversa entre os dois deixou os deputados curiosos. O capataz havia se demitido da fazenda há seis meses, período que coincidiu com a instalaçao da CPI, no Congresso, e as denúncias do motorista Jorge Meres Alves de Almeida sobre a suposta quadrilha. Para a CPI, nao há dúvidas de que a fazenda era utilizada pelo narcotráfico.

'O que queremos saber agora é se existe um vínculo entre o capataz e o patrao``, disse Moroni. Segundo Jorge Meres, a quadrilha roubava caminhoes no Brasil e, depois de esquentar os documentos com a ajuda de juízes de Sao Luiz, trocava a mercadoria por pasta base de cocaína na Bolívia. Só entre 1994 e 1996, 50 carretas foram negociadas neste esquema. Meres, conforme ele próprio, era o responsável pelo transporte das carretas da fronteira do Mato Grosso até o território boliviano. Aparentemente fantasioso, cada detalhe do depoimento de Meres está sendo confirmado pela PF, pela Polícia Civil e pela CPI.

Por amor _ Depois de quase uma década dedicada ao crime, Meres conta que resolveu fazer as denúncias em nome do delegado Stênio Mendonça e de sua segunda mulher, que está desaparecida. 'Fiz tudo pelo amor de uma mulher``, disse. A segunda mulher do motorista desapareceu. A polícia suspeita que ela tenha sido assassinada, a exemplo do que ocorreu com a primeira esposa de Meres. O motorista, que está sob proteçao policial desde que decidiu contar o que sabia sobre o narcotráfico, já escapou de vários atentados. O delegado Stênio foi assassinado quando investigava a quadrilha.

O que mais surpreendeu os parlamentares da CPI foram os nomes indicados por Jorge Meres como integrantes do comando da organizaçao. Em seguidos depoimentos à PF, a Polícia Civil e à CPI, Meres inclui, entre os chefes da suposta organizaçao, o deputado Augusto Farias (PPB-AL), o deputado José Gerardo e o ex-deputado Hildebrando Pascoal. Segundo os deputados da CPI, a 'espinha dorsal`` da organizaçao descrita com riqueza de detalhes por Meres está totalmente confirmada. 'Só falta saber se os personagens indicados por ele estao, de fato, envolvidos``, disse Moroni.




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