Existe alguma coisa que vai além do “filme de pé na estrada” neste Na Natureza Selvagem dirigido por Sean Penn. Certo, é baseado no livro Into the Wild, escrito por Jon Krakauer, lançado em 1998, e conta a história do rapaz que larga tudo e vai viver a sua aventura pelas quebradas do país. Até chegar ao Alasca, seu grande objetivo. Objetivo? Bem, depois de escrever a palavra se descobre como ela é problemática quando aplicada ao protagonista, Christopher McCandless (Emile Hirsh, de Alpha Dog).

O garoto é um daqueles personagens que têm tudo para ‘dar certo na vida’, exceto pelo fato, que pode ser desastroso, de realmente desejar algo mais, coisa de que nem ele próprio tem muita consciência. Para desespero dos pais (William Hurt e Marcia Gay Harden), Christopher se forma, mas larga tudo e vai viajar. Mas sua viagem em nada se parece com aquela necessidade de conhecer o mundo,

lugares, culturas exóticas etc.

Christopher busca as pessoas e encontrará várias delas em sua trajetória. Como a família meio hippie que quase o adota, a adolescente por quem tem uma queda, e o velho sábio que enfim lhe dá o impulso final para seu grande passo.

Mas, a partir daí, Christopher se verá só para o que precisa fazer. E o filme terá de acompanhá-lo nessa solidão, o que implica resolver o problema da ausência de diálogos e fazer da natureza algo tão expressivo quanto o homem que nela adentra. Sua viagem é trajetória metafísica, de busca do ser, e não simplesmente uma aventura. Ao despojar-se de tudo, Christopher mergulha no abismo, na imensidão de si, representada pela natureza intocada. Christopher busca tudo. Ou o vazio, o que vem a dar na mesma.