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Somos todos japoneses

As vidas não se repõem, a dor só o tempo reduz, a tragédia não morre; ao contrário das vítimas, vive para sempre

Carlos Brickmann
16/03/2011 | 00:00
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As vidas não se repõem, a dor só o tempo reduz, a tragédia não morre; ao contrário das vítimas, vive para sempre. Mas o Japão, atingido por um maremoto de grande violência, varrido por um tsunami inacreditável, sacudido por terremotos sucessivos, sofrendo as consequências ainda de alcance desconhecido de explosões em usinas nucleares, este retornará logo à vida normal – e talvez com uma pujança econômica que havia desaparecido nas últimas décadas. Disciplinados, eficientes, corajosos, os japoneses não enfrentam seu primeiro desafio. Como sempre, irão vencê-lo. O principal problema econômico do Japão nos últimos anos foi uma combinação de endividamento e, talvez para enfrentá-lo, pouco apetite da população por novos gastos. Isto acabou: as políticas econômicas restritivas não têm como sobreviver aos quase US$ 500 bilhões que o governo prometeu injetar na economia e aos investimentos públicos que serão necessários para reconstruir o país – os cálculos, no início da semana, atingiam US$ 180 bilhões. A queda no número de empregos (que trouxe de volta ao Brasil grande número de trabalhadores que haviam se mudado para o Japão) também deve desaparecer: reconstruir um país exige trabalho, investimento, gente empregada. A tragédia cobra seu tributo em privações e sofrimento. E abre a oportunidade para que o Japão se reconstrua ainda mais moderno, aproveitando as lições do abismo para que o país futuro seja melhor e mais seguro. É esperar para ver. MAS HÁ QUEM NÃO APRENDA A tragédia japonesa levou o mundo inteiro a reexaminar as usinas nucleares. O mundo inteiro, não: o Brasil, diz o ministro Édison Lobão, não vai rever nada. Ainda quer mais quatro usinas atômicas. “As dificuldades que as usinas do Japão tiveram as nossas não terão”, adivinhou Sua Excelência. “As nossas têm proteção muito maior”. Decretada a superioridade da indústria nacional sobre a japonesa, Lobão diz que as usinas de Angra “foram feitas com a melhor tecnologia existente” – até, supõe-se, Angra 1, ou vagalume, de tanto que acende e apaga. ‘A melhor tecnologia existente’ são várias: Angra 1, norte-americana, da Westinghouse; Angra 2, alemã, da KWU; Angra 3, francesa, da Alstom. HOMOSSEXUAIS... O ministro das Comunicações do Irã repetiu, em visita ao Brasil, que em seu país não há homossexuais. Como sabemos de experiência própria, ministro não mente. Se diz que não há homossexuais no Irã, é porque não há homossexuais no Irã. Mas, de acordo com o Relatório Kinsey, todos os povos incluem cerca de 10% de gays. Se a Revolução Islâmica sustenta que no Irã não há homossexuais, que aconteceu com os 10% que lá havia antes que tomasse o poder? Foram expulsos? Executados? Obrigados, sabe-se lá como, a voltar para o armário? ...ONDE ESTÃO? Se não há gays no Irã, por que a lei de lá prevê a pena de morte para eles? SEM AMOR... Do excelente jornalista José Nello Marques, comentando a criação do Dia do Quadrilheiro Junino: “Precisa criar o Dia do Quadrilheiro Janeirino, Fevereirino, Marciano, Abrilino... Não vai faltar homenagem”. De Eliza Besen, assídua leitora desta coluna: “Falta criar o Dia do Edital Dirigido, que será comemorado todos os dias”. Do fiel leitor José Luiz Mello Jr.: “Quem sabe não vem por aí, também, o Dia do Traficante de Influências?” Ué: por que só de influências? ...NO CORAÇÃO Dizem que um advogado, preocupado com o caso do Mensalão, aconselhou o ex-deputado José Genoino, do PT paulista, a cuidar da defesa. E é o que ele, com a inestimável ajuda do ministro Nelson Jobim, está fazendo. JOGO DE NÚMEROS A nova moda da insegurança em São Paulo é o arrastão em restaurantes. Segunda-feira, houve um assalto pertinho da Avenida Paulista, a principal da cidade. Quatro homens fortemente armados roubaram 15 clientes. Ué, mas os números da Segurança em São Paulo não indicam a queda do número de crimes? Sim. Mas esse assalto, com 15 pessoas roubadas, é contabilizado como 1 (hum) crime. Se alguém jogar uma bomba num estádio e matar 10 mil pessoas, isso é contado como 1 (hum) crime. Estatística pode ser como o biquíni: mostra muito, mas esconde o essencial.



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