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Cia da Matilde
encara tempestade
Por Thiago Mariano
Do Diário do Grande ABC
18/05/2011 | 07:00
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A bonança precedeu a tempestade na Cia da Matilde. O grupo de São Caetano, depois de meses de ensaios e busca por apoio, traz em cartaz, a partir do dia 27, no Teatro Raul Cortez, em São Paulo, a estreia de "A Tempestade", montagem do último texto de Shakespeare.

Já inserida em um esquema de produção que alça voo para mais longe que os limites da cidade - eles colaboraram nas produções de Dias Felizes, com Norma Bengell e direção de Emilio Di Biasi e Casting, com direção de Marco Antônio Rodrigues e Caco Ciocler como protagonista -, a companhia agora toca ao lado dos atores Thaila Ayala e Sérgio Abreu, sob a batuta de Marcelo Lazzaratto, os trabalhos de produção em sua própria sede.

Da participação pequena na contrarregragem do primeiro espetáculo, o grupo colocou mais gente na produção do segundo e agora, com o terceiro, insere até seu elenco à montagem.

O rústico galpão de chão batido e telhas da sede agora equipou-se com piso, isolamento acústico e ar-condicionado, tudo para atender à demanda e virar polo produtor.

"O investimento desta peça é de R$ 1,2 milhão, e todo rodando por aqui pela cidade, com todos os trabalhos centralizados na sede da Matilde", conta Erike Busoni, da companhia.

A entrada do primeiro apoio fez crescer entre a iniciativa privada local o interesse em dar sua contribuição. "Fizemos algumas parcerias e teve gente daqui que percebeu que é possível que este trabalho seja feito no Grande ABC", completa.

"Assim como a Vera Cruz fez com o cinema, podemos fazer com o teatro através desta realização", diz o produtor Alexandre Brazil, que já assinou mais de 40 montagens e fez a ponte entre a companhia e o mercado teatral.

CORRERIA - O projeto surgiu de ideia de Emilio Di Biasi (que teve que abrir mão da direção em seguida) com Alexandre Brazil. Cooptada, a Cia da Matilde transformou-se, desde o ano passado, em escritório, para dar conta do processo burocrático, conseguir apoio e sedimentar o projeto. O primeiro patrocínio chegou em outubro e em novembro, ainda com Casting em cartaz, a pré-produção já estava a todo vapor, com a seleção de quem iria fazer parte do projeto.

De início, entram Letícia Sabatella, Leopoldo Pacheco e Petrônio Gontijo, mas todos acabam saindo por motivos diversos, entre eles por não conseguirem assumir compromisso com a temporada da montagem. Biasi também sai, e entra em cena a correria para ocupar os postos vazios.

André Abujamra, que assina a trilha sonora, topou o compromisso de imediato, mas só conseguiu iniciar os trabalhos, efetivamente, em março. "Até então, conversávamos muito por conferência", explica Busoni.

E foi em março também, que a sede da companhia passou a abrigar os ensaios, toda estruturada para receber a montagem do gigante cenário.

"Não tivemos problemas com falta de espaço para ensaiar. Logo, todo mundo que veio de outros lugares para fazer o projeto aqui, descobriu que São Caetano não é longe da Capital", comenta Busoni, que acredita que a qualificação do pessoal da Matilde se inserindo em outros projetos é de importância sem igual para solidificar, com trabalho, o desejo de ver o teatro regional em expansão.

Elenco teve até aulas de kung fu

Kung fu, aulas de circo, manipulação de bonecos e toda a correria da produção, foi nesse turbilhão que o elenco da Cia da Matilde, que está em A Tempestade, viu-se no processo.

Primeiro veio a imersão na obra de Shakespeare. Os trabalhos não se condensaram na leitura e interpretação do texto, mas na busca de entendimento do universo intencional do clássico escritor. Música, figurino e cenários elaborados paralelamente, todos se enfurnaram no galpão para trabalhar linguagens da montagem.

O kung fu veio para dar movimentos precisos em estilo oriental para as ações no palco. O trabalho com circo, mais precisamente em tecido - posteriormente descartado -, para dar força e beleza às cenas.

O rendimento do elenco teve de ser reforçado com musculação. A ‘matildeira' Nicole Marangoni, que faz parte do coro da peça, participou de todo o processo, e aprendeu lições que levará para a vida. "Sempre tive dificuldade em trabalhar com o corpo. Antes, para compor o personagem, eu separava da construção teatral a parte corporal. Agora, tudo surge do texto pela intenção que eu quero dar para o meu corpo", conta a atriz.

Evas Carretero, que manipula um boneco na peça, teve que doar seu tempo ao aprendizado: "Primeiro você se assusta com o peso, depois vai perdendo o medo de deixar o boneco cair por causa de movimentos bruscos. A seguir, foi pensar o boneco como um ator, transmitir a cena para ele. Mesmo que esteja parado, é como se fosse um personagem, está em determinado estado."

Magali Costa, que há um mês fraturou o pé, e participa dos ensaios à distância, trabalha com a construção da sua personagem com muito diálogo e observação. "Como também sou bailarina, tenho facilidade de assimilar os movimentos", revela a moça.

Já ambientada em outras produções, ela não se limita a fazer, como todos os integrantes da companhia, o que seu papel pede, mas todo o resto. "Já ouvi gente brigando com alguém em produção porque a pessoa tinha pegado uma caixa do chão, dizendo que tinha trabalhador certo para aquela função. Aqui é um ambiente onde a amizade e o trabalho fluem mais abertamente."

Para todos, é inestimável a oportunidade de construir experiência multifacetada no processo teatral, crescendo em conhecimento, repertório e oportunidades de se destacar num cenário que abre as portas para profissionalização e conhecimento na região.




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