O ex-presidente Lula fez força, conseguiu convencer a maioria do Congresso a criar uma CPI mista, mas com isso acabou atingindo pesadamente um aliado de longa data, o governador fluminense Sérgio Cabral, e tirando do jogo um companheiro de viagem, o empreiteiro Fernando Cavendish.

Lula se empenhou em queimar a candidatura de Marta Suplicy, petista fiel e aliada de sempre, para lançar a candidatura de Fernando Haddad a prefeito de São Paulo. Haddad, engomadíssimo, os cabelos preparados pelo mesmo cabeleireiro da presidente Dilma, tem no currículo os Enems que sempre deram problemas. Mesmo com Lula a tiracolo, está empacado nas pesquisas. Sem Marta a coisa não anda - e quem convence Marta, ferida, a fazer campanha por ele?

Lula conversou com Gilmar Mendes e Nelson Jobim, e certamente não foi sobre a mudança do Pânico para outro canal. Deu no que deu; e ficou difícil adiar o julgamento do Mensalão, evitando prejudicar o PT, para depois das eleições.

Quando um homem poderoso passa a confundir-se com os deuses, ensinavam os gregos, estimula os deuses a mostrar-lhe seus limites. Estaria Lula tão orgulhoso de sua capacidade de eleger postes que teria passado do ponto? Pode ser.

Mas não se deve subestimar um político como Lula. Às vezes, finge que errou a bola e, no lance seguinte, pega o goleiro desprevenido. Lula talvez tenha objetivos que busquem alcançar de maneira inesperada. Neste caso, estará tendo êxito total: ninguém, nem amigos nem inimigos, consegue decifrar suas manobras.

SEM FANTASIA

Que ninguém se iluda com Marta Suplicy: ela é dura, determinada, sabe fazer política. Não há dúvida de que Lula manda no PT, inclusive no paulista; mas as ligações do partido com o eleitorado passam por Marta, e sem ela ninguém no partido vai a lugar nenhum. Embora ninguém ponha em dúvida sua dedicação a Lula e ao partido, nem sua luta pessoal pelo desenvolvimento do PT, Marta pode ser uma aliada difícil. Mas como inimiga é muito pior.

OS AMIGOS E OS OUTROS

Quando o Banco PanAmericano, de Silvio Santos, apareceu com um imenso rombo no casco, a Caixa Econômica Federal comprou quase metade das ações. Não foi suficiente. O Fundo Garantidor de Créditos teve de entrar com mais alguns bilhões e outro banco comprou a parte das ações que ainda era de Silvio. Não houve intervenção e a fortuna do proprietário não sofreu qualquer abalo.

O Banco Cruzeiro do Sul, da família Índio da Costa, mostra agora um bom rombo no casco, embora não comparável ao do PanAmericano. Imediatamente sofreu intervenção e o Fundo Garantidor de Créditos ficou fora - afinal de contas, sua função é garantir contas-correntes, não a fortuna dos proprietários. Aliás, essa já era sua função nos tempos do PanAmericano - mas deixa para lá.

MIÇANGAS E BUGIGANGAS

Silvio Santos saiu ileso do episódio PanAmericano. Depois, certamente por coincidência, foi o SBT que divulgou a história de que Serra, durante passeata no Rio, tinha sido atingido apenas por uma bolinha de papel (apesar de a pancada ter sido registrada até na tomografia). Foi no SBT, também, que o Programa do Ratinho deu 45 minutos - um tempo gigantesco em TV - para que Lula fizesse o elogio de seu candidato Fernando Haddad. Foi o SBT, também, que abriu espaço para que Haddad dissesse que tinha passado lá por acaso. Claro: seguiu pela Via Anhanguera na direção São Paulo-Campinas até o km 28, fez o retorno, passou em frente das imensas instalações do SBT, onde não se entra sem identificação, e resolveu fazer uma visitinha, surpreendendo-se ao encontrar Lula lá dentro. Ok, ok. Mas estamos fugindo do assunto: que tem essa história toda a ver com o salvamento de Silvio Santos, dono do SBT, após o caso PanAmericano?

TUDO BEM

Lembra do caso Bancoop, a cooperativa habitacional acusada de vender imóveis, cobrá-los e esquecer a formalidade de entregá-los? A Bancoop é ligada ao PT; entre os compradores de seus apartamentos, está o ex-presidente Lula (o dele foi entregue). Há nove meses, por voto unânime dos procuradores, o Conselho Superior do Ministério Público de São Paulo decidiu pedir intervenção judicial na Bancoop. Mas até agora a ação ainda não foi enviada à Justiça.