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UFABC adia para agosto de 2006 início das aulas do curso básico
Andrea Catão
Do Diário do Grande ABC
12/10/2005 | 06:59
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A comissão que formata a UFABC (Universidade Federal do ABC) definiu que as aulas da instituição vão começar somente no segundo semestre do ano que vem. A estimativa era de que os cursos tivessem início no primeiro semestre de 2006. “Não vamos deixar a pressa comprometer a qualidade da universidade”, afirma o presidente da comissão, professor Luiz Bevilacqua, que foi nomeado vice-reitor da instituição pública de ensino superior pelo MEC (Ministério da Educação) no último sábado.

Bevilacqua diz que não há tempo hábil para concluir todos os trabalhos até janeiro, pois no momento a comissão desenvolve a grade curricular dos cursos de bacharelado, de três anos, e define que perfil terão os 600 professores que deverão ser contratados em até cinco anos, quando espera-se que a UFABC esteja operando com sua capacidade total. Pela lei que cria a universidade, sancionada no fim de agosto pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a instituição terá 20 mil vagas em graduação e cerca de 5 mil em cursos de pós-graduação, mestrado e doutorado.

Desde quando o presidente anunciou que o Grande ABC abrigaria uma universidade pública, em maio do ano passado, vários situações que envolvem a instalação da UFABC têm sido marcadas pela pressa. Primeiro, foi a necessidade em se aprovar o texto da lei antes das eleições municipais, a fim de que os candidatos petistas da região tivessem um argumento a mais para convencer o eleitorado. Mas o problema foi a oposição ao governo na Câmara dos Deputados, dentre eles os deputados do PFL, que trancaram a pauta com quase duas dúzias de Medidas Provisórias.

Na época, para não perder a chance de fazer uma propaganda positiva em período eleitoral, o MEC mais uma vez colocou o carro na frente dos bois e divulgou que o projeto da UFABC seria abandonado e que a Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) obteria autorização para assumir o projeto e atuar em outras áreas de conhecimento. A antiga Escola Paulista de Medicina estenderia um campus na região, o que não dependeria de aprovação de lei. A reitoria da Unifesp começou a preparar a mudança para Santo André, mas o MEC voltou atrás no fim do ano passado. É que, passadas as eleições – e com o PT derrotado em cinco das sete cidades da região –, o governo decidiu que, politicamente, seria melhor ter uma universidade totalmente nova, pois seria o momento de ousar, de antecipar a reforma universitária.

Na ocasião, não daria mais tempo de as aulas começarem no primeiro semestre de 2005, mas o governo tomaria fôlego para convencer a oposição na Câmara dos Deputados. Negociação feita com o PFL, em que houve o comprometimento do MEC em apresentar lei para a criação de universidades federais em outros Estados, permitiu a aprovação do texto. A lei passou em março deste ano e foi encaminhada ao Senado, que também aprovou a criação da instituição pública de ensino superior no Grande ABC.

Foi quando a comissão nomeada pelo MEC, que já tinha dado início aos trabalhos, pôde trabalhar com datas. Desde o início foi dito que as aulas começariam no primeiro semestre de 2006, pois haveria tempo suficiente para elaborar o modelo, organizar o vestibular e contratar professores. No mês passado, a secretária de Educação de Santo André, Cleusa Repulho, que integra a comissão, disse que o processo deveria ser acelerado porque devido à crise política que tomou de assalto o centro do poder brasileiro, não é certo que o PT permaneça no governo a partir de 2007, visto que as eleições presidenciais estão marcadas para o próximo ano.

“O Brasil sempre fica para trás porque tem pressa, enquanto os outros fazem tudo certo”, diz o professor Luiz Bevilacqua. Ele defende o adiamento das aulas para o segundo semestre. “Acho prematuro, por exemplo, contratarmos professores a toque de caixa. Queremos tempo para definir o perfil dos profissionais que devem atuar na universidade”, completa o vice-reitor, que adianta que todos os professores deverão ter doutorado. “Quem segue o doutorado, em geral, é para se dedicar à vida acadêmica, por isso a exigência.”

Bevilacqua acrescenta que no primeiro semestre provavelmente serão ministrados cursos de formação continuada para professores da rede pública de ensino, com outro tipo de seleção. O vestibular deve ser realizado em março para início das aulas em agosto. “Não podemos perder qualidade, não vamos sacrificar o projeto, que tem tudo para ser pioneiro”, completa o vice-reitor.




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