Cultura & Lazer Titulo Oportunidade
Arte que abre caminhos

Projeto independente ‘Hip Hop Educa’ ensina break e respeito em Mauá

Vinícius Castelli
02/10/2018 | 07:00
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Celso Luiz/DGABC


É de conhecimento público a frase que diz que ‘o trabalho dignifica o homem’. Se levada ao pé da letra ela já tem conceito bonito, mas, na verdade, no dia a dia, vai além. O trabalho pode salvar vidas. E é em sala simples, gentilmente emprestada, com chão de piso frio, em uma esquina da Avenida Portugal, no Jardim Pilar, em Mauá, que isso acontece.

O responsável é o mauaense César Massotti, 36 anos, mais conhecido como B-Boy Suco, que está inserido no cenário do hip hop desde sua juventude. Embora no dia a dia tire seu sustento, e de sua família, vendendo roupas nas ruas de São Paulo, é no movimento que ele se realiza. Por isso, toda semana, às terças e sextas, faça chuva ou sol, dedica parte de seu tempo, sem ganhar um centavo em troca, para ensinar break a jovens de diversas faixas etárias.

Tudo isso acontece há três anos por meio do projeto Hip Hop Educa. “Quem não tem nada de bom para fazer acaba fazendo ‘outra coisa’”, diz ele, referindo-se aos caminhos negativos que as pessoas da periferia estão sujeitas, por conta da falta de oportunidades. Arte-educador, ele dava oficinas de break há anos. Quando não pôde mais ensinar onde estava, resolveu andar por si só.

“Comecei com esse projeto em 2015. A ideia não é somente ensinar a dançar break. Aqui a gente fala sobre o bullying, racismo, digo para essa garotada que eles precisam respeitar os idosos. Ensinamos responsabilidades. Aqui, quando alguém chega, tem de dar ‘oi’ para todo mundo. As meninas chegam e a molecada respeita”, explica. B-Boy acredita que a arte salvou sua vida. “Eu poderia ter ido para um caminho ruim. Quando se pisa na lama só vai afundando”, diz. Além de Mauá, o projeto acontece, da mesma forma, na Argentina, Chile, México e Bolívia. “Não ganho nada. Apenas peço para usarem o mesmo logo e nome”, diz B-Boy.

Jonathan Almeida, 25, também de Mauá, começou a aprender break com B-Boy. Hoje, arte-educador, é voluntário no projeto, que soma cerca de 40 alunos. “Onde moro é carente de Cultura. Tem drogas. O hip hop me passou visão de ter transformação social. Quanto mais crianças aqui, menor a chance de tomarem outro caminho, diz.

Danilo Alves dos Santos, 19, até fica com brilho nos olhos quando fala das aulas de break. Frequentador assíduo do espaço, participa desde o início do projeto e diz que a turma se tornou uma família. “Estar aqui faz toda a diferença na minha vida. Sou mais focado, respeito mais os outros.”

Tudo acontece sem apoio financeiro, tanto público como privado. É na raça. “Tem hora que eu queria poder comprar tatames, colchonetes. Até mesmo fazer camisetas para esse pessoal poder competir por aí”, desabafa B-Boy, que está aberto para receber apoio. Apesar de enfrentar dificuldades, tudo vale a pena para o arte-educador. “Meu papel aqui é orientar, dar caminhos para que essa garotada não fique perdida. E fico muito orgulhoso de ver os resultados”. 




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