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Placebo empolga sem firulas
Cássio Gomes Neves
Do Diário do Grande ABC
29/04/2005 | 11:53
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Ao vivo, o Placebo é quase tão contagiante quanto o influenza. Ficar indiferente ao som do trio britânico, que se mostrou quarta-feira no palco do Credicard Hall, é missão para iogue dos bons, por demandar alta concentração e autocontrole. As sete mil pessoas que preencheram a casa de shows paulistana não tiveram porquê resmungar da performance de Brian Molko, Stefan Olsdal e Steve Hewitt, que nesta sexta-feira, no Rio, despedem-se da turnê brasileira composta por oito shows, do Nordeste ao Sul do país. A propósito, as mesmas sete mil pessoas, que esgotaram os ingressos para o espetáculo de acordo com informações da organização, não tiveram sequer tempo para reclamar.

O vocalista e guitarrista Molko, o baixista Olsdal e o baterista Hewitt deixaram São Paulo certificados por uma das melhores apresentações indoor do ano – isso é certo, embora 2005 não tenha nem alcançado a sua metade. Fizeram uma hora e 20 minutos de show enxuto, sem firulas ou blablablá, e sem disparar um “ouburigadou, Sao Paulou” a cada cinco minutos. Em uma palavra, empolgante.

Entraram à 0h em ponto, com uma introdução estendida de Taste in Men, durante a qual Olsdal fez trepidar a casa com a gravidade quase apocalíptica de seu contrabaixo. À simples menção sonora desse que é um dos mais densos hits do Placebo, a platéia entrou em êxtase puro. Moderninhos, patricinhas, alternativos, patricinhas querendo parecer alternativos (seja lá o que isso quer dizer), réplicas de Noel Gallagher (Oasis) e de Jack White (White Stripes) povoavam a pista, que acusou densidade demográfica típica de trem das seis.

Com Taste in Men a iniciar os trabalhos, começava a cumprir-se a promessa de Molko, em entrevista coletiva concedida no início do mês para a divulgação da turnê, de que os integrantes do Placebo não seriam “difíceis” na sua primeira visita ao Brasil. Ou seja, tocariam o que a audiência brasileira esperava, os sucessos que lhes asseguraram como das mais influentes bandas do rock britânico e prontamente reunidos na coletânea Once More with Feeling (1996-2004), disco-base dos shows em São Paulo, Campinas, Recife, Salvador, Porto Alegre, Brasília, Florianópolis e Rio, as cidades contempladas pela turnê.

Sobre o palco, com um visual oscilante entre o almofadinha e o andrógino, Molko conduziu a sessão de hits, recebida de forma entusiasmada pela platéia. Com Special K, regeu os coros de “lá-lá-lá” que aditivaram a música que fala em narcóticos e abstinência. A execução da intensa Pure Morning, provavelmente a mais conhecida das composições do Placebo entre a massa, reforçou o estado hipnótico dos ocupantes do Credicard Hall. Molko indaga, em meio à letra de Teenage Angst: “Are you satisfied? (Vocês estão satisfeitos?)”. A resposta, transmitida em berros de delírio, não deixa dúvidas.

Outros instantes dignos de nota: as amostras de Every You, Every Me, momento de adoração com acompanhamento incondicional do público; da agressiva Black-Eyed, com devido destaque para o desempenho do baterista Hewitt; das inéditas I Do e Twenty Years; e de Nancy Boy, um convite ao descontrole da coordenação motora, que fechou o show deixando o conhecido sabor de “quero mais” aos presentes. O trio agradece, reverencia pagantes e convidados, dá as costas e sai. Encerra como começou: sem um pingo de frescura.

Festival – Os shows do Placebo no Brasil foram o rebite do Claro que É Rock, festival que está sondando um novo talento do rock nacional pelo Brasil. Quarenta bandas se apresentaram em oito etapas pelo país. Dessas, oito têm sido selecionadas para a final do festival, programada para setembro deste ano, em São Paulo e no Rio.

A banda andreense Choldra foi uma das atrações na etapa do Credicard Hall, junto a Imperdíveis, Supersonyca, Ladz e Motora. Formado em 2000 e com seu primeiro álbum recém-lançado, o sexteto da região perdeu a vaga na final do festival para os integrantes do Imperdíveis.

“Esse lance do festival foi muito legal e tudo, pela iniciativa. O pessoal da produção foi gente finíssima, mas não foi tudo uma maravilha. Todas as bandas que concorriam ao festival foram prejudicadas pelo som”, afirma Palmer, baterista do Choldra. “Acho que, em matéria da qualidade de som, se preocuparam demais em deixar tudo perfeito para o Placebo, que eram as estrelinhas da noite. Mas também não precisava esquecer da gente (das bandas concorrentes)”.



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