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Alckmin e Genoino fazem debate 'quente' e 'nacional'
Fernão Silveira
Do Diário OnLine
17/10/2002 | 02:03
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O primeiro debate entre os candidatos no 2º turno da eleição para o governo de São Paulo, nesta quarta-feira à noite, na TV Bandeirantes, foi marcado pela nacionalização das acusações em detrimento das propostas para o Executivo paulista. Geraldo Alckmin (PSDB) e José Genoino (PT) mais dispararam contra as administrações adversárias que discutiram seus programas de gestão. Os ataques aos governo FHC e Mário Covas/Geraldo Alckmin, pelo petista, e as estocadas contra a Prefeitura de São Paulo e os governos do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul, por parte do tucano, esquentaram o debate.

O menor número de candidatos e um formato que privilegiou o confronto direto mudou o perfil insosso que marcou os três maiores debates televisivos para o 1º turno. Novo embate ocorrerá nesta quinta-feira à noite, a partir das 21h, na Rede Record.

Alvos móveis - Na contramão de seu temperamento ponderado, Geraldo Alckmin assumiu a ofensiva desde o começo e não se furtou de criticar o PT, resvalando sempre nos governos do partido e na falta de experiência administrativa dos candidatos Genoino e Luiz Inácio Lula da Silva (postulante à Presidência). Tanto que o petista até reclamou da postura beligerante do adversário. "Governador, o senhor está muito arrogante. O senhor está muito preocupado com o PT. O senhor precisa se preocupar mais com São Paulo."

No outro lado do ringue, Genoino fez muitas críticas ao governo federal e disse que o adversário vê uma "Geraldolândia" ao citar tantas estatísticas supostamente positivas sobre os oito anos de sua gestão com Covas. O confronto também foi marcado pelos bordões. Enquanto Genoino dizia "é claro que alguma coisa está sendo feita, mas não é o suficiente"; Alckmin se defendia com "estamos trabalhando" e "administração não tem mágica".

Outra diferença de perfis ficou na postura dos candidatos sobre a disputa pela Presidência. Genoino se manteve 'colado' a Lula sempre que possível e não perdeu as oportunidades de pedir voto ao colega. Já Alckmin sequer citou o nome de José Serra, mas sempre levantou a voz em defesa dos mentores Fernando Henrique Cardoso e, especialmente, Mário Covas.

O petista já se apresentou falando em "mudar o modelo econômico com a eleição de Lula" e logo na primeira pergunta pediu a Alckmin uma avaliação dos últimos anos em São Paulo e no Brasil. "O presidente Fernando Henrique Cardoso tem sido, sim, parceiro do governo de São Paulo. Até para cobrir a Prefeitura de São Paulo, que é do partido do deputado Genoino e não cumpriu sua parte no contrato do Rodoanel", disparou Alckmin. O petista disse que a ajuda de FHC a São Paulo "está muito aquém do necessário". "Por isso ele foi tão mal avaliado aqui."

Na abertura do segundo bloco, Alckmin atacou a trajetória parlamentar de Genoino. O governador disse que ele fez "absolutamente nada por São Paulo" em seus 20 anos de Câmara e questionou por que ele "favoreceu outras cidades", citando projetos no Ceará, Rio Grande do Norte, Mato Grosso do Sul e Espírito Santo - "só cidades do PT". "Não sou um deputado apenas despachante, assim como não vou ser um governador despachante. Serei um governador das grandes soluções", afirmou Genoino, defendendo que os projetos para outras praças foram aprovados por causa de sua condição de líder da bancada do PT.

Temas - Os assuntos mais abordados foram segurança, geração de emprego, e transportes. Mas a discussão de propostas se perdeu entre as trocas de acusações dos rivais. Enquanto Genoino cobrava Alckmin sobre o que não foi feito no Estado, o governador respondia com referências ao Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e à Prefeitura de São Paulo.

"Se o senhor sabe como gerar empregos, por que não o fez em oito anos de governo?", perguntou Genoino, citando os 3,7 milhões de desempregados no Estado. "São Paulo fez a maior frente de trabalho do Brasil", afirmou Alckmin, respondendo com a abertura de 160 mil vagas pelo governo e prometendo atrair R$ 24 bilhões em investimentos no setor produtivo nos próximos quatro anos.

Pouco depois, Genoino quis saber se o governador achava que São Paulo tinha mais segurança hoje, mesmo com "os toques de recolher em Osasco". "O deputado Genoino se confunde. Toque de recolher é no Rio de Janeiro. Aqui tem comando", respondeu Alckmin. "O senhor cria um quadro que o eleitor se pergunta: ‘que Estado é este?’ ", retrucou Genoino, argumentando que a governadora Benedita da Silva assumiu o Rio há seis meses. "Se há alguém que não tem autoridade para falar de segurança é o PT", respondeu Alckmin.

Perguntado por um jornalista da Rádio Bandeirantes sobre as situações da segurança no Rio e no Rio Grande do Sul, ambas administrações do PT, Genoino voltou a falar no pouco tempo de gestão Benedita e defendeu que o governador Olívio Dutra se equivocou na tentativa de unificar, e não integrar, as polícias Civil e Militar. "Isso mostra a enorme distância entre a teoria e a prática. O PT tem muita experiência em discurso e nenhuma na prática", retrucou Alckmin, citando o auxílio do Exército pedido pelo governo do Rio para garantir a segurança nas eleições.

No campo da educação, a discussão se concentrou nas críticas ao programa de progressão continuada. Genoino atacou o sistema por ele "não reprovar o aluno" e permitir o avanço de "analfabetos funcionais". Alckmin afirmou que o sistema visa "dar ao filho do pobre a mesma oportunidade do filho do rico: se recuperar" e argumentou que a medida reduziu pela metade a evasão escolar – pois a reprovação se dá pelo limite de faltas. Alckmin também disse que a progressão continuada começou a ser implantada em São Paulo pelo PT, na Prefeitura da deputada Luiza Erundina (hoje no PSB) e na gestão do secretário Paulo Freire. "Progressão continuada não tem nada com aprovação automática", rebateu o petista.

O governador ainda acusou a prefeita Marta Suplicy de reduzir de 30% para 25% a fatia do Orçamento de São Paulo destinada à educação e afirmou que as escolas do governo têm 1 hora/aula a mais que as do município (cinco contra quatro). Genoino alegou que, na verdade, o Orçamento paulistano dedica 31% à educação, explicando que uma parte da quantia foi deslocada para benefícios como material didático, transporte e uniforme dos alunos.

No setor dos transportes, a questão dos pedágios deu o tom. Genoino reclamou que as estradas do Estado têm "muito pedágio" e citou o contrato da Marginal da Castelo Branco, que prevê que a Viaoeste recebe desconto na dívida com o Estado se o lucro não atingir a quantia prevista. Alckmin falou que o governo gaúcho "prometeu mexer nos contratos de concessão e foi derrotado na Justiça, perdendo todo o dinheiro dos investimentos" e defendeu que as concessões "trazem benefícios e ampliações às estradas do Estado".




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