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Dez anos sem Renato
Por Dojival Filho
Do Diário do Grande ABC
07/10/2006 | 17:48
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Poucos nomes na história do pop rock nacional conseguiram conciliar qualidade artística e popularidade como Renato Manfredini Júnior, ou Renato Russo (1960-1996), personagem que tornou o cantor nacionalmente conhecido. O próximo dia 11 será marcado pelo aniversário de dez anos da morte do músico e, ao contrário do que costuma acontecer no período que antecede a data de seu nascimento (27 de março), não foram divulgadas muitas homenagens em programas de TV e de rádio. Apesar disso, a obra do intérprete permanece influente e sua ausência continua sendo sentida por fãs e familiares

Amigo de adolescência de Renato, o cantor e guitarrista do Plebe Rude, Phillippe Seabra, lembra dos conflitos entre sua turma, a dos punks, e os playboys, em Brasília, no início dos anos 80. “Teve uma vez que o Renato salvou a minha vida. Os playboys se juntaram para me pegar e eu me escondi dentro de um carro. Eles disseram que queriam pegar um Phillippe, daí o Loro Jones (ex-guitarrista do Capital Inicial) disse: ‘Aqui, todo mundo é Phillippe’. Veio o Renato e falou para os playboys: ‘A gente está lutando contra a pessoa errada. Vamos bater no sistema’. Os playboys responderam: ‘Então, teu nome é sistema’”, conta, aos risos, o guitarrista.

Família – Um líder nato, de atuação marcante e determinada, mas que sabia ser espirituoso com os familiares. Assim era Júnior, forma carinhosa pela qual o cantor era chamado pelos parentes, de acordo com a definição de sua irmã, Carmem Teresa Manfredini. Três anos mais nova que Renato, ela conta que, desde a infância, o vocalista do Legião Urbana já demonstrava inclinação para comandar.

Um dos exemplos dessa liderança ocorreu quando a família Manfredini chegou a Brasília, em 1973, e o músico, então adolescente, foi o primeiro a escolher seu quarto, mais espaçoso que o de Carmem, episódio narrado no livro Renato Russo: O Trovador Solitário, do jornalista Arthur Dapieve. “Apesar de ter sido quieto, introspectivo, ele mandava em mim, me liderava. Tinha um embasamento teórico e ninguém conseguia argumentar contra. Sempre teve personalidade forte, talvez pelo Áries dele. Tinha orgulho de ser ariano”.

Dono de uma extensa coleção de discos e clássicos da literatura mundial, Renato gostava de dar dicas culturais à irmã e aos amigos. Por conta disso, ela acabou conhecendo o trabalho de muitos ícones musicais dos anos 60 e 70, entre eles a cantora folk Joni Mitchell, um dos ídolos de Renato. No álbum Acústico MTV– Legião Urbana, lançado em 1999, o cantor dedicou a Carmem a versão que fez da canção The Last Time I Saw Richard, composta por Mitchell. “Eu sou a segunda maior fã da Joni Mitchell. O primeiro era o Renato. Ele me deixava pegar os discos, mas queria saber qual disco era e se eu tinha colocado na capa certa”.

A maneira como o cantor conduziu sua carreira à frente da banda também comprova sua determinação e carisma. “No começo, quando eles gravaram o primeiro disco, a gravadora queria que mudassem o estilo. O Renato não aceitou e disse que não iria fazer aquilo. E eles não mudaram, o que mostra que estava certo”, afirma a irmã do intérprete, que divide uma casa com a mãe Maria do Carmo e o filho de Renato, Giuliano Manfredini, 17 anos, no Lago Sul, região nobre de Brasília.

Memorial – Ela destaca ainda que a produção poética do cantor faz muita falta na cena musical. “Não é nem a questão melódica. Ele mesmo falava que a Legião não sabia tocar. Acho que o que mais falta no Brasil hoje são as letras, que continuam atemporais. Ainda bem que temos o Chico Buarque, que, para mim, é um grande poeta. Acho ele maior que o Renato, mas o meu irmão foi o poeta da geração dele”, diz Carmem, que tem as músicas Giz, Acrilic on Canvas e Vamos Fazer um Filme como suas favoritas.

Para o futuro, ela planeja a fundação de um memorial em homenagem ao vocalista, que contaria com estúdio de ensaio para bandas iniciantes, biblioteca e um auditório. Entretanto, prefere esperar que Giuliano, herdeiro do espólio artístico e financeiro de Renato, atinja a maioridade e decida sobre o projeto.




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