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Cápsula com cocaína explode e ‘mula’ morre
Luciana Sereno
Do Diário do Grande ABC
02/06/2005 | 08:10
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Os médicos legistas do IML (Instituto Médico-Legal) de Santo André se assustaram ao fazer uma necropsia nesta quarta de manhã. Ao abrir o corpo de um rapaz ainda de identidade desconhecida encontraram 65 cápsulas de cocaína, cada uma com 20 gramas e do tamanho de um absorvente íntimo. A droga estava alojada entre o estômago e o intestino do rapaz. O mula, nome dado a pessoas que transportam drogas para traficantes, deu azar e uma das cápsulas estourou dentro dele, causando intoxicando e levando à morte.

O rapaz aparentava ter cerca de 30 anos e foi encontrado morto por moradores da rua Fioravanti Turci, bairro Ponte Seca, em Ribeirão Pires, às 14h45. Estava sem documentos ou qualquer objeto que pudesse identificá-lo.

De acordo com o médico-legista do IML, Vladmir Alves dos Reis, uma única cápsula de 20 gramas de cocaína das 65 ingeridas por ele já era quantidade suficiente para intoxicar uma pessoa e levá-la à morte. Em média, os papelotes comercializados em pontos de drogas pesam entre 0,5 e 1 grama. “Ele ingeriu mais de 20 vezes essa quantidade”, explica Reis. No total, tinha 1,1 quilo de cocaína dentro do corpo.

A droga, segundo o médico legista, deve ter sido ingerida cerca de três ou quatro horas antes de o rapaz morrer. “Quando o abrimos, o estômago estava repleto e parte das cápsulas já estava alojada no intestino. É o primeiro caso desse tipo que vejo em 15 anos de profissão”, disse o médico.

A polícia ainda não tem informações sobre a origem ou destino da droga, se o rapaz sairia da região com a cocaína ou se trazia de alguma outra localidade. O delegado-assistente da Dise (Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes) de Santo André, Otacílio Augusto, diz que na Grande São Paulo um quilo de cocaína chega a ser vendido a US$ 5 mil (cerca de R$ 12 mil). Na Europa, a mesma quantidade chega a valer US$ 36 mil (cerca de R$ 87,8 mil). Informações extra-oficiais da perícia técnica da polícia são de que a cocaína engolida pelo desconhecido era pura e, portanto, com maior valor no mercado.

Possibilidades – A polícia considera várias hipóteses no caso. A mais provável é que o rapaz tenha engolido as cápsulas para transportá-las durante uma viagem. Ele atuaria como mula.

A possibilidade de a overdose ter ocorrido enquanto ele ainda estava com quadrilha fornecedora da cocaína não está descartada. “Pode ser que ele tenha passado mal (por conta do rompimento de uma das cápsulas) ainda quando estava na presença do fornecedor e esse ter sumido com seus documentos e desovado o corpo em uma área afastada, com pouco movimento”, cogita um policial que não quis ser identificado.

As primeiras pistas concretas sobre o caso só devem ser levantadas após o conhecimento da identidade da vítima. Para isso, a polícia depende de a família do rapaz procurá-la e fazer o reconhecimento do corpo. “Com informações sobre o tipo de vida que levava podemos investigar melhor”, afirmou outro policial que não se identificou.

Mula – Segundo ele, ao aceitar ser mula para traficantes, geralmente as pessoas não fazem idéia do risco de morte a que se submetem. “Vale o alerta porque nem sempre o transportador sabe que a cápsula pode estourar e causar overdose.” O legista disse que casos como o registrado nesta quarta são raros. “É incomum encontrarmos droga durante as necropsias. Nessa quantidade então é inédito. Me pergunto como ele conseguiu engolir 65 cápsulas.”

Para explicar, Reis compara cada cápsula a uma bala Soft (aquelas redondinhas e difíceis de morder). “Se por acidente engolimos aquelas balas já ficamos com a sensação de estar sufocando, imagina como foi para ele.”




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