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Avamileno fica insatisfeito com solução
Por Roney Domingos
Do Diário do Grande ABC
19/01/2003 | 14:04
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“Nunca vou estar satisfeito com o que foi investigado, mas sinto o assunto esclarecido até que surja alguma coisa nova, contundente que venha a mostrar alguma diferenciação. Não conseguiram provar nada”, diz o prefeito de Santo André, João Avamileno. Foi um ano “difícil” e “turbulento” para o então discreto vice-prefeito, que teve de assumir em janeiro passado a Prefeitura em meio ao choque provocado pelo seqüestro e assassinato do prefeito Celso Daniel.

Avamileno suportou nos meses seguintes a repercussão nacional que o caso ganhou e o recrudescimento das denúncias de uma suposta quadrilha na Prefeitura, fatos que potencialmente poderiam abalar a candidatura do hoje presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Resisti porque tenho muito tutano”, disse o ex-sindicalista e vereador.

Para o prefeito, as denúncias de corrupção em Santo André foram uma tentativa de desestabilizar a campanha eleitoral do PT, que exigiu intensas articulações com o núcleo nacional do partido. “Os canais de televisão e os jornais falaram da campanha e das denúncias em Santo André durante mais de 40 dias.”

Candidato à reeleição em 2004, Avamileno acredita que faz um bom governo, mas afirma que será difícil substituir a liderança política representada por Celso Daniel na região. “Hoje, uma grande liderança ao estilo do Celso Daniel não existe.”

DIÁRIO – Existe a impressão, ainda muito clara, de que mesmo após um ano da morte do prefeito, o assunto ainda está muito vivo. Parece haver ainda uma grande insatisfação com as respostas que foram dadas para o assassinato do prefeito e para as denúncias de suposta corrupção em Santo André. O sr. ficou satisfeito com os resultados das investigações em ambos os casos?
JOÃO AVAMILENO – Nunca vou estar satisfeito com o que foi investigado, mas sinto o assunto esclarecido até que surja alguma coisa nova, contundente, que venha a mostrar alguma diferenciação. Acompanhamos as investigações 24 horas por dia para que acontecessem com seriedade. Parece que foram presas oito pessoas suspeitas e que confessaram a participação no seqüestro e no crime. A população tem muitas dúvidas porque não teve todo o acompanhamento que nós tivemos. A família do Celso Daniel não sente o caso tão esclarecido, tem dúvidas e acho que é um direito que eles têm, de tirar suas dúvidas e procurar ter as coisas mais esclarecidas. Neste ponto têm meu total apoio e do meu governo. Em um momento ou outro a gente pensa coisas diferenciadas. Tem muita gente que tem dúvidas até hoje sobre a morte dos presidentes Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek.

DIÁRIO – As denúncias coincidiram com a campanha eleitoral de Lula, então líder nas pesquisas de intenções de voto. Todo mundo, francamente, achou que as denúncias em Santo André iriam comprometer seu desempenho. Como foram nos bastidores as repercussões destas denúncias. Como o PT enfrentou isso?
AVAMILENO – As denúncias tinham a intenção de atingir o partido não só em Santo André, mas no cenário nacional. Fiz muitas reuniões, dezenas delas, com diversos segmentos da sociedade procurando dar satisfação e explicações. A unidade de nosso governo em torno da minha pessoa foi fundamental para superar estas dificuldades. A população tem uma boa imagem de Celso e do nosso governo e isso ficou provado nas eleições.

DIÁRIO – Com relação ao Lula e ao comando de sua campanha, qual foi a intensidade das conversas sobre as ocorrências em Santo André?
AVAMILENO – Tivemos em diversos momentos reuniões com a direção estadual e com a nacional procurando tirar estratégias e encaminhamentos com relação ao que estava ocorrendo. Os canais de televisão e os jornais falaram da campanha e das denúncias em Santo André durante mais de 40 dias. E sempre a gente corria atrás do prejuízo, porque só sabíamos pelos jornais. Em nenhum momento conseguiram provas contundentes que relacionassem a denúncia àquilo que nós praticamos em nosso governo.

DIÁRIO – O PT investigou internamente e tirou conclusões próprias sobre uma suposta ligação entre a suposta quadrilha na Prefeitura e o assassinato do prefeito Celso Daniel?
AVAMILENO – Não cabe ao PT fazer investigações. Tem pessoas do partido que foram envolvidas pelo Ministério Público em acusações levianas. E até que se prove o contrário, não podemos fazer nada com estes companheiros. Acredito neles, mas se ficar comprovado que estas pessoas têm culpa certamente o partido vai tomar as medidas necessárias. (Com relação ao assassinato do prefeito Celso Daniel), exigimos que as investigações fossem bem feitas. Participaram polícias civil, militar e federal. Foram designadas pessoas importantes em nível federal para acompanhar as investigações e o caso foi concluído pela Polícia Federal, Militar e Civil. Não cabe a nós fazer investigações de acusações que consideramos levianas.

DIÁRIO – Como foi o primeiro ano de gestão sem a presença de Celso Daniel?
JOÃO AVAMILENO – O ano de 2002 foi um ano muito difícil para nós do PT de Santo André depois do assassinato deste grande homem público que foi o Celso Daniel. E foi um ano turbulento por causa das denúncias contra o nosso governo. Denúncias que não conseguiram provar nada.

DIÁRIO – Que programas iniciados pelo Celso e que estavam dependendo dele tiveram de ser interrompidos em função de sua morte?
AVAMILENO – Nenhum programa foi interrompido. O Celso foi eleito com um programa de governo discutido no PT, apresentado à coligação e a diversos segmentos de nossa cidade. É um compromisso que assumimos para implementar até 31 dezembro de 2004. Coube a mim dar prosseguimento a este programa que traz por exemplo projetos como o Mais Igual, de urbanização das favelas Tamarutaca, Quilombo e Sacadura Cabral e agora a Capuava. É um programa importante que tem parceria com o governo federal, com a comissão Européia e a contrapartida da Prefeitura, premiado duas vezes, em 99 e na minha gestão, pela ONU-Habitat.

DIÁRIO – Além deste programa partidário existiam projetos pessoais do prefeito Celso Daniel que eram importantes para a prefeitura e que só ele poderia tocar, interrompidos depois de sua morte?
AVAMILENO – O projeto pessoal de Celso, que tinha todo o nosso apoio, era o crescimento político dele como liderança até em nível nacional. Ele era uma liderança de nossa região, diretor da Agência de Desenvolvimento Econômico, estava como coordenador do programa de governo do companheiro Lula e infelizmente foi interrompido. Acredito que se não tivesse acontecido, eu estaria também como prefeito, mas com muito mais alegria porque estaria vendo o Celso em um dos ministérios do governo do Lula. Infelizmente, eu tive de assumir de uma forma trágica. É lógico que eu, dentro das minhas condições, com um ano só como prefeito (o Celso tinha nove anos como prefeito) procurei dar o possível de mim dentro da Agência e no Consórcio Intermunicipal.

DIÁRIO – O sr. acha que o Grande ABC perdeu espaço na administração federal em função da morte do Celso Daniel?
AVAMILENO – É difícil prever como seriam as coisas hoje, mas a gente faz muitas suposições. Acredito que o Grande ABC perdeu uma grande liderança (o Celso), mas não perdeu espaço no governo. Temos lá a Miriam, o Gilberto, o Laguna (cerimonial), o Hereda, além de uma secretária do Semasa, a Solange, que é uma das secretárias no governo Lula e do Jorge Hereda. Poderemos ter mais, porque o governo está sendo montado. O retorno da região vai depender da unidade dos prefeitos da região e de nossa cobrança do governo federal, que deve olhar para o país e não apenas para o Grande ABC.

DIÁRIO – Quem seria hoje o político da região mais preparado para substituir o que Celso Daniel representava como líder político?
AVAMILENO – Santo André e o ABC têm diversas lideranças importantes, mas o Celso é insubstituível como grande liderança. Acho que temos de dar continuidade a tudo que aprendemos com ele. Hoje, uma grande liderança ao estilo do Celso Daniel não existe. Deverá aparecer futuramente alguém que cumpra o papel que ele cumpria.

DIÁRIO – Qual foi o maior obstáculo que o sr. teve de enfrentar depois da morte do Celso Daniel? AVAMILENO – Após eu ter assumido como prefeito foram as denúncias que apareceram contra o nosso governo. Logicamente, eu acreditava que não tivessem provas contra nós e que aquelas denúncias eram falsas, levianas. Mas toda denúncia acaba gerando um momento crítico, até porque tinha o apoio do irmão de Celso e a acusação vinha de uma empresa que presta serviço à nossa Prefeitura e que teve todo o apoio do Ministério Público. Foi um momento difícil porque nós não tínhamos nenhuma informação, só sabíamos da denúncia no dia seguinte e tínhamos de correr atrás do prejuízo. Fomos vitoriosos nesta turbulência toda, porque o partido venceu as eleições na nossa cidade. Reelegemos um deputado estadual e um federal, além da vitória de nossos dois candidatos ao Senado, Aloizio Mercadante e Vagner Gomes. Resisti porque tenho muito tutano. Não é qualquer pessoa que resistiria a esta turbulência que nós enfrentamos.

DIÁRIO – O senhor disse que teve uma avaliação de regular para boa da prefeitura. Existe alguma pesquisa sobre o nível de aprovação de seu primeiro ano à frente da prefeitura?
AVAMILENO – Temos apenas pesquisas internas, que fazemos periodicamente.

DIÁRIO – Houve alguma pesquisa junto à população para medir a aceitação do governo Avamileno?
AVAMILENO – A única pesquisa que tenho junto à população foram as eleições que ocorreram neste ano. Acredito que quando um partido é vitorioso na cidade que governa isso significa que a população está satisfeita, talvez não plenamente, com o governo.

DIÁRIO – As finanças de Santo André estão em ordem?
AVAMILENO – Honramos todos os compromissos de 2002, principalmente o pagamento e o 13º dos funcionários. Existem diversas cidades e capitais em que não ocorreu a mesma coisa.

DIÁRIO – O sr. será candidato à reeleição?
AVAMILENO – Eu sou prefeito há apenas um ano e tenho direito à reeleição. Logicamente vou ter de passar por uma avaliação do partido, como é prática do PT, mas sou candidato à reeleição. Até para ter a oportunidade de ser o prefeito eleito e também ter oportunidade de colocar os meus projetos a partir de 2004.

DIÁRIO – O sr. vai imprimir então uma marca mais pessoal neste segundo ano de gestão?
AVAMILENO – Temos expectativas de um ano bem melhor do que em 2003. Quero implantar uma marca de filosofia de governo. Até por isso fiz algumas alterações estruturais em nossa equipe de governo.




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