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Itaú Cultural abre exposição Homo Ludens
Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
10/10/2005 | 08:41
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O Itaú Cultural, em São Paulo, abre na terça para o público a exposição Homo Ludens – Do Faz-de-conta à Vertigem, com entrada franca. Brinquedos e artes plásticas são dispostos em cinco ambientes diferentes para o público ver, ouvir, tocar, interagir, cheirar e provar. A idéia é relacionar obra de arte com jogos lúdicos e mostrar que antes de ser sapiens ou faber o ser humano é ludens. São 80 obras de artistas brasileiros do século XX vinculadas a jogos e brinquedos antigos e contemporâneos, e estes relacionados à arte.

Uma dessas relações mais perceptíveis está na relação entre os grafismos geométricos da arte concreta dos anos 1950/60 e os tabuleiros de xadrez, dama ou gamão. O andreense Luiz Sacilotto (1924-2003) está representado com uma de suas Concreções no núcleo Ilusões, onde a proposta lúdica desta exposição está em maior evidência. Ao lado de jogos de tabuleiro, cartas, cubo mágico dominó e outros, estão obras que exigem do olhar a procura pelo movimento geometricamente traçado. Aqui estão também obras de Lothar Charoux, Hermelindo Fiaminghi, Hercules Barsotti, Waldemar Cordeiro, Cildo Meireles, entre outros.

A curadora Denise Mattar explica no material de divulgação que “jogo e arte reproduzem alguns aspectos do real por meio de regras, porém se situam em um outro espaço. Quando uma criança faz-de-conta ela está vivendo em uma outra dimensão. A realidade virtual dos games é também um outro mundo, no qual a imaginação é substituída pelo ritmo vertiginoso”.

Para ela, Homo Ludens deve proporcionar ao público a percepção da evolução do aspecto lúdico nas artes plásticas. O núcleo Travessuras exemplifica como artistas contemporâneos se apropriam do real por meio da irreverência, num claro jogo com elementos infantis. A série é aberta por obras de Flavio de Carvalho, artista que tinha sua razão de ser nas atitudes irreverentes – usar saia desfilando na Avenida Paulista por exemplo – estreitadno seus conceitos aos da arte contemporânea traçados por Marcel Duchamp e pelo dadaísmo. Guto Lacaz, Nelson Leiner, Leda Catunda e mais seis artistas brincam por aqui.

O primeiro ambiente de Homo Ludens no prédio do Itáu Cultural é Faz-de-conta. É nele que está exposta a linha evolutiva que norteia a mostra. Do classicismo ao modernismo, os artistas relacionados – Carlos Scliar, Candido Portinari, José Pancetti, Milton Dacosta e outros – registram infância e brincadeiras em suas obras. Na mesma seção, peões, bolinhas de gude, bonecas, pipas, bilboquês, miniaturas, trenzinhos, carrinhos estão ao lado de obras de artistas contemporâneos – Lia Menna Barreto, Cadu Costa e outros cinco nomes – que transformam a realidade de ovos, realejo ou cubos de montar em objetos que dialogam com a fantasia.

Os demais ambientes pedem a participação direta do público. Sensações, como o nome diz, evoca ao lúdico convite que a arte fazia nos anos 1960 e 1970, era da liberação corporal, definitivamente se desprendendo das paredes e pedestais. Visão, audição, paladar, tato e olfato são os sentidos exigidos. A manipulação é permitida em réplicas das obras originais de Lygia Clark, Amelia Toledo, Abraham Palatnik, Lygia Pape etc. Bolhas que se transformam em espuma, objetos que se reorganizam ou modificam conforme a movimentação do espectador, aromas libertos de gavetas, balas que evocam o paladar, caixas e instalações sonoras.

Por fim, Vertigem, o último núcleo, espaço que abriga obras de artistas que usam tecnologia como ferramenta. Com resultado, percepções incomuns à realidade. O jogo aqui é o videogame e o jogador invariavelmente mergulha no virtual, misturando fantasia e real, brincadeira e vida. Este ambiente é aberto pela instalação Logradouro, de Marcos Chaves, que ocupa chão, paredes e teto com fitas listradas de preto e amarelo, derrubando referências espaciais. Carlos Azambuja faz o visitante se ver refletido sempre de costas numa sala de espelhos. Regina Silveira sugere tensão em Lunar, uma esfera que cresce ameaçando tomar o espectador. Arte não é brinquedo, mas é possível brincar com ela.

Mais brincadeiras – Na mesma semana da Homo Ludens, começa uma programação ligada à exposição. O Circo de Asfalto (de 12 a 16) terá circo musicado, circo-cabaré e circo de improviso com um total de 30 artistas circenses entre espetáculos e debates na Sala Itaú Cultural, transformada em picadeiro. Ainda dentro desta programação, nos dias 21, 22 e 23, acontece o musical infantil C.e.l.e.b.r.o. (corpo expandido levitando entre buscas rumo orbital). Linguagem de palhaço, trava-línguas e releituras de músicas infantis estão no repertório da Banda Gigante.

Homo Ludens – Do Faz-de-conta à Vertigem – Exposição que relaciona jogos lúdicos e arte com obras de 80 artistas brasileiros e brinquedos antigos e contemporâneos. Abertura nhesta terça. De terça a sexta, das 10h às 21h; sábados, domingos e feriados, das 10h às 19h. No Itaú Cultural – av. Paulista, 149, São Paulo. Tels.: 2168-1776 e 2168-1777. Entrada franca. Até dia 29 de janeiro.



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