Quanto mais tradicional e menos inovadora uma novela, mais chances de fazer sucesso. Vilões caricatos, mocinhas frágeis, jovens rebeldes, amores impossíveis e um bom núcleo cômico sempre integram a clássica receita do bolo da dramaturgia. Essa tranqüilizadora previsibilidade é um dos motivos da satisfatória audiência de 31 pontos de média e 55% de participação de O Profeta.

A antiga trama de Ivani Ribeiro, que foi ao ar pela primeira vez em 1977, na Tupi, e chega ao fim esta semana, comprova que os remakes são produtos com menor margem de erros, que dificilmente dão prejuízo às emissoras. Como já funcionaram em algum momento na programação, dificilmente podem dar errado em uma nova versão.

Tudo isso sem falar da supervisão do texto, de Walcyr Carrasco. O autor já está mais do que consagrado como o mago das seis após emplacar sucessos no horário, como O Cravo e A Rosa e Chocolate com Pimenta, entre outros. Pena o autor deixar esse horário para estrear no das sete com Sete Pecados, em julho.

As novelas de Walcyr muitas vezes se assemelham com o estilo das histórias de Ivani, ao abordar assuntos como espiritismo e vida após a morte, caso da recente Alma Gêmea. Temas religiosos sempre atraem a atenção do público, principalmente deste horário, que em grande parte é formado de donas-de-casa, crianças e aposentados.

Resgate cultural - Ao acrescentar informações sobre a história recente, parece haver ainda mais chances de atrair essa faixa. Afinal, abordar a idílica década de 1950, com saudosas lambretas, divas hollywoodianas e canções dos Anos Dourados é uma isca e tanto para o público de todas as idades.

Esse resgate cultural foi muito bem realizado pela trama, com cuidadosa direção de arte, caprichada cenografia e figurino impecável. Isso sem falar nos personagens principais, compostos a partir da inspiração de grandes atores ou de personagens de filmes daquela época.

Paola de Oliveira foi caracterizada como Grace Kelly, Carol Castro, como Ava Gardner, e Daniel Ávila virou uma espécie de papel carbono do rebelde James Dean.

Exageros que aparentemente pareciam não funcionar ao longo da trama acabaram dando certo no final. Dalton Vigh, por exemplo, no papel do apaixonado e obsessivo Clóvis, se transformou no maior vilão da história. E incorporou um malvadão que quase come criancinhas. Ultimamente tem aparecido com a gola da capa levantada, chapéu, óculos escuros e uma voz diabólica, típica de personagens de seriados japoneses. Ou seja, o caricato, diante de uma trama que apela para sublinhar com tintas fortes personagens que poderiam ser humanizados, acaba ficando divertido.

Principalmente se acompanhado de um temeroso áudio de suspense. Mais over impossível e isso passa a ser aceitável porque fica engraçado em alguns momentos.

Os momentos cômicos dos personagens divertidos foram um dos alicerces da novela. Fernanda Souza, por exemplo, se revelou uma expressiva atriz com o difícil timing da comédia. Suas cenas como o patinho feio Carola permitiram que a atriz subisse alguns degraus na carreira.

Já o dramalhão de Sônia e Marcos, os protagonistas de Paola Oliveira e Thiago Fragoso, deveria ter sido o ápice da história. Não foi. Cachoeiras de lágrimas, desencontros, promessas passionais e muito romance receberam baldes de água fria com a gelada interpretação do protagonista, que muitas vezes se apagava diante do carisma da talentosa novata Paola.