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Chuva atrapalha busca de irmãos
Por Illenia Negrin
Do Diário do Grande ABC
06/11/2004 | 13:23
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A forte chuva que caiu sobre o Paraguai durante todo dia desta sexta literalmente dissolveu o ultimato dado pelo presidente Nicanor Duarte Frutos à polícia, de que os irmãos Guillermo e Arturo Rojas Boehler deveriam ser encontrados em 48 horas. O prazo termina neste sábado à tarde, mas a chuva provocou inundações nas principais estradas do país e impediram os trabalhos das equipes de investigação. Desaparecidos há 9 meses, os meninos foram seqüestrados pelo pai, o paraguaio Eri Daniel Rojas Villalba, em São Bernardo.

A operação de busca foi intensificada pela Polícia Nacional do Paraguai, depois que o presidente telefonou ao comandante Carlos Zelaya, quinta-feira, do Rio de Janeiro. Duarte Frutos esteve no Brasil em visita oficial e recebeu a mãe dos meninos, a pastora metodista Genilma Boehler, de São Bernardo, que reivindicou o rápido retorno dos filhos. De acordo com o relações públicas da polícia, Santiago Velazco, um número maior de policiais foi destacado para reforçar os trabalhos. Prejudicados nesta sexta, no entanto, pela chuva, que derrubou árvores e deixou boa parte da população no escuro.

"Até agora, infelizmente, não temos nenhuma novidade", afirmou Velazco. Ele acredita que a ampla divulgação do caso pela mídia paraguaia, principalmente depois da ordem explícita do presidente, pode facilitar o encontro de Guillermo e Arturo. "As emissoras de TV fizeram reportagens e as fotos dos meninos estão em todo lugar. Muita gente já viu e pode nos dar pistas", justificou.

Se não venceu o barro e as estradas bloqueadas, a Polícia ao menos conseguiu cumprir parte da determinação do presidente paraguaio. Nesta sexta, os irmãos de Rojas, Lucio e Marildo Rojas Villalba, foram novamente interrogados. Por serem policiais e admitirem que estiveram em companhia dos sobrinhos logo que chegaram ao país, há suspeitas de que estejam boicotando as investigações para proteger o ex-marido de Genilma. Mais uma vez, segundo Velazco, ambos disseram que não têm contato com o irmão "há bastante tempo".

A advogada de Genilma, Clara Rosa Gagliardone, também acredita que o tempo ruim esfarelou as expectativas de que um trabalho mais contundente da polícia garantiria o breve retorno dos garotos. "Realmente, não há condições para nada. É lama para todos os lados, e acredito que Rojas esteja escondido com os filhos num local de difícil acesso, rodeado de pântanos", avaliou.

A região a que se refere a advogada é o leste do Paraguai, que faz fronteira com o Brasil. Segundo Clara Rosa, numa faixa extensa, de cerca de 100 km, se estabeleceram os chamados brasiguaios, brasileiros que cruzaram a fronteira e se dedicam ao cultivo em pequenas porções de terra. Camponeses, as famílias vivem como se estivessem em solo brasileiro: as escolas ensinam em português, assim como as missas são celebradas em, pelo menos, no clássico portuñol. Ali, a população vive isolada pelo pântano e não tem acesso aos jornais diários com notícias paraguaias, por exemplo.

"Acredito que Eri, Guillermo e Arturo estejam no meio dos brasiguaios. Lá, ninguém vai estranhar a aparência ou o biotipo dos garotos, porque há muitos loiros de olhos claros lá", afirmou a advogada.

Enquanto a Polícia não consegue chegar aos lugares onde é mais provável que estejam escondidos, a advogada Clara Rosa continua dando entrevistas e divulgando a história nos principais meios de comunicação. "Em 48 horas será impossível. Acho que só teremos novidades na segunda-feira." A previsão do tempo para a capital paraguaia para este sábado é de dia nublado, com chuva. Cronologia - No dia 04 de fevereiro, Eri Daniel Rojas Villalba cruzou a Ponte da Amizade rumo ao Paraguai, depois de ter seqüestrado os filhos Guillermo, 10 anos, e Arturo, 7. Os meninos moravam com a mãe no bairro Rudge Ramos, em São Bernardo. Genilma Boehler, separada judicialmente de Rojas desde 2002, tinha a guarda das crianças.

Depois de seguir todos os trâmites burocráticos exigidos pela Justiça brasileira, a carta rogatória, que pede a busca e apreensão das crianças no país vizinho, foi aceita pela Corte paraguaia. No dia 11 de junho, uma juíza de Ciudad del Leste determinou que a polícia dedicasse esforços para encontrar os irmãos e devolvê-los à mãe.

Ainda em meados de junho, Genilma desembarcou em Assunção, capital do Paraguai, para acompanhar a operação de busca de seus filhos. Havia suspeita de que Rojas estava foragido graças ao apoio dos irmãos Lucio e Marildo, que são policiais. A dupla estaria prejudicando a operação.

Genilma passou 50 dias no Paraguai. Durante esse período, o governo alegava estar empenhado em cumprir a determinação judicial. A Embaixada do Brasil em Assunção reconhecia a lentidão da polícia, mas evitava um embate diplomático.

O vice-ministro do Interior e chefe da Polícia Nacional do Paraguai, Eustaquio Colman Ramirez, disse ao Diário, em 12 de agosto, acreditar que o sumiço de Guillermo e Arturo não passava de uma "briga de casal".

No início de setembro, a advogada de Genilma no Paraguai, Clara Rosa Gagliardone, revela que está sendo feito rastreamento das chamadas originadas do celular de Rojas. Durante o mês de agosto, o foragido telefonou para Colman pelo menos 14 vezes. A maioria das ligações foram feitas de Assunção, indício de que a polícia estaria realmente acobertando Rojas, que circulava livremente pela capital.

No dia 9 de outubro, Genilma conseguiu ser recebida pelo ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, que se comprometeu em interceder pessoalmente no caso. Desde então, mantém contato freqüente com com a chanceler paraguaia, Leila Rachid.

No dia 13 de outubro, o Ministério Público do Paraguai abriu inquérito para investigar o envolvimento de Colman no caso. Ainda não se sabe até que ponto a amizade entre o então vice-ministro e os irmãos de Rojas comprometeram os trabalhos da polícia

No dia 14 de outubro, uma crise política se instaurou no comando da Polícia Nacional do Paraguai. O Ministro do Interior, Orlando Fiorotto, e o comandante Humberto Núñez foram demitidos por telefone pelo presidente Nicanor Duarte Frutos. Colman teria renunciado ao cargo para evitar a demissão. O novo ministro, Nelson Mora, e o novo chefe da Polícia, Carlos Zelaya, são homens de confiança do presidente, e assumiram a responsabilidade de combater a onda de violência no país.

Em 18 de outubro, em reunião com ativistas dos direitos humanos e com a advogada Clara Rosa Gagliardone, o novo comandante da polícia disse que faria "o impossível" para encontrar Guillermo e Arturo. O lema, agora, seria "tolerância zero" contra os criminosos.

Na última quinta-feira, Genilma, militantes da Igreja Metodista e membros da Comissão de Direitos Humanos e Cidadania da Assembléia do Rio Grande do Sul iniciaram protesto em frente ao Hotel Sofitel, em Copacabana, Rio de Janeiro. Com faixas, pediam o breve retorno de Guillermo e Arturo. O grupo escolheu o local por ser a sede de uma reunião entre líderes latinioamericanos, e Nicanor Duarte Frutos estaria presente.

Apesar de não estar previsto na agenda, Genilma foi recebida pelo presidente paraguaio, Duarte Frutos. Ele ordenou ao novo comandante da Polícia, Carlos Zelaya, que os irmãos seqüestrados fossem encontrados em 48 horas. Prazo que se esgota na tarde deste sábado.




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