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Mika no subsolo
Por Ângela Corrêa
Do Diário do Grande ABC
11/11/2009 | 07:00
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Escrito por Fiodor Dostoiésvski em 1864, "Memórias do Subsolo" retrata toda a amargura de um burocrata sem nome confinado a um apartamento tão sem atrativos quanto ele próprio. Mika Lins leu o texto pela primeira em 2001 e enxergou de imediato um monólogo que reproduziria o discurso da primeira parte da novela russa. Ironicamente, a atriz vivia um momento pessoal bem feliz, mas nascia ali a vontade de adaptar a obra. "Fiquei encantada pelo discurso da liberdade do personagem, de escolher o que não é convencional", explica.

A peça, que estreou julho em São Paulo, tem única apresentação no Sesc Santo André (tel.: 4469-1200) no sábado. Ingressos entre R$ 3 e R$ 12.

Passados seis anos desde o primeiro contato com a obra, Mika foi incentivada pelo amigo Cássio Brasil a viabilizar o projeto. "Eu me convenci, mas disse que ele teria de dirigir. Criei um problema para ele, porque ele nunca tinha dirigido antes", brinca a atriz, que trabalhou na adaptação do texto com a amiga de adolescência, a roteirista Ana Saggese, a partir da tradução de Boris Schnaiderman. "Foi árduo esse período. Sentamos os três para fazer a leitura e é um processo muito diferente do que estar no aconchego do seu lar", lembra.

Mika dá vida a um homem que fuma o tempo todo em cena - o que chegou a trazer problemas no início da vigência da lei que restringia o cigarro em ambientes fechados. "Mas logo voltaram atrás, era ridícula a proibição".

Na construção do personagem, a atriz se transformou num "menininho", como define. "Mas desde o princípio não queríamos que isso se colocasse à frente do texto. As pessoas sabem que é uma mulher ali fazendo um homem, mas isso logo desaparece para o público. É um texto que qualquer pessoa poderia dizer. Isso é o mais importante."

Para se expressar como um senhor, Mika passou a observar o marido e os amigos. Além da postura das pernas - eles as mantêm levemente separadas - Mika notou uma despreocupação masculina quanto a expressão facial. "Parece que nós mulheres nascemos com um Botox internalizado", brinca. "Não nos permitimos expressar os sentimentos tão facilmente. E isso vale da mulher mais medíocre até a mais intelectualizada. A chave da caracterização foi liberar isso", define.




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