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Crise gera receios e encolhe consumo

Apesar da turbulência, especialistas veem região melhor que nos anos 90, quando houve demissões em massa

Por Leone Farias e Soraia Abreu Pedrozo
25/01/2009 | 07:00
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Desde outubro, quando eclodiu a crise financeira internacional, as economias do mundo todo começaram a desacelerar, até que os efeitos para a população foram paulatinamente se manifestando. O consumo diminuiu, produções foram freadas, postos de trabalho foram encerrados e os receios diante das incertezas cresceram. Apesar disso, especialistas avaliam que a situação hoje é melhor que nos anos 1990, quando houve onda de quebra de empresas e demissões em massa.

A preocupação se explica. A partir de outubro, os efeitos da escassez do crédito no Grande ABC foram potencializados, já que predomina a indústria automobilística na região. Cerca de 70% das vendas de carros novos são feitas a prazo. Sob o impacto da retração na demanda, foram eliminados nos sete municípios 8.620 empregos formais em dezembro.

Dados da Anfavea (Associação Nacional das Fabricantes de Veículos Automotores) ilustram a pisada no freio. Em novembro, houve queda de 25% nas vendas do setor no mercado interno na comparação com igual mês de 2007; em dezembro, a retração foi de 19,7% e na primeira metade de janeiro, com a redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) dos carros, houve baixa de 2% frente à quinzena inicial de 2008.

As exportações também derraparam. Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, as encomendas dos sete municípios a outros países caíram (em valores) 21% em novembro frente a outubro e 16% em dezembro ante o mês anterior.

Indústrias automotivas iniciaram o corte de emprego ou negociaram alternativas (férias coletivas, redução da jornada etc). Já para as pequenas é mais difícil uma flexibilização do contrato. "É onde deve haver mais demissões", diz Marlene Cardia Laviola, professora de economia da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul).

Fausto Cestari Filho, secretário executivo da Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC, conta que em 60 dias, 14 pequenas indústrias metalmecânicas não conseguirão honrar seus compromissos. "É preciso haver um postergamento dos prazos de pagamento de tributos como PIS/ Cofins de pelo menos seis meses. Seria uma maneira de injetar capital de giro nas empresas, que por não terem regularidade em seus pagamentos, não conseguem crédito".

Para o economista do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), Rogério César de Souza, o governo deveria investir para reduzir gargalos de infra-estrutura e diminuir o custo do capital. Mas ele assinala que o País tem hoje uma indústria estruturada e diversificada, o que favorece a economia do País.

"É diferente do que ocorreu na década de 1990. Não é generalizado, alguns setores mantêm bom desempenho", disse outro professor de economia da USCS, Francisco Funcia. "Esperamos uma redução do ritmo, mas vamos crescer em 2009", avalia o professor Ricardo Balistiero, da Fundação Santo André.

 Incerteza gera adiamento de compras

 Em virtude do clima de incertezas geradas pelos efeitos da crise financeira internacional, alguns moradores da região adiaram planos, gastos e financiamentos.

A auxiliar administrativa Cibele Fernandes estava pensando em trocar o aluguel pela casa própria. "O valor das prestações compensa, pois é quase a mesma coisa que o aluguel", disse.

Entretanto, a atual situação não garante trabalho ao seu marido, caminhoneiro que presta serviço a depósitos de material de construção. "Se ele fosse registrado, compraríamos nossa casa agora, mas ele trabalha por conta (é autônomo). Se trabalha, ganha. Senão, não ganha. Então é melhor não arriscar, até porque ainda pagamos as prestações do caminhão".

A aposentada Matilde Biadola tem um filho que trabalha na Arteb, empresa de autopeças de São Bernardo que demitiu 120 funcionários há duas semanas e ainda pode demitir mais 180.

"Meu filho adiou uma viagem que faria no fim do ano por receio. Acho melhor não fazer dívidas agora. Não sabemos o que vai acontecer amanhã", disse Matilde.

Ela e o marido também optaram por deixar para fazer a viagem de férias mais para frente, quando a situação econômica do País estiver mais clara.

O bancário Fernando Boaro também decidiu esperar. "Ia trocar de carro, mas como o financiamento levaria dois ou três anos, acho melhor continuar com o meu mesmo, até porque o preço do carro usado caiu bastante".

OTIMISMO - Na contramão do cenário, o vendedor João Paulo Portela, que estava desempregado havia alguns meses, conseguiu emprego em uma loja de móveis em dezembro e conseguiu ser efetivado.

Para ajudar em seu comércio, uma casa de pão de queijo no Shopping Santo André, a empresária Márcia Rezende contratou uma funcionária para ajudar no atendimento. "Embora janeiro seja um mês em que o movimento costuma cair, em todo o shopping o comércio continua bem".




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