Mariana Ximenes demonstra uma cuidadosa atenção com seu gestual. Com a coluna ereta, a voz pausada e um sorriso contido, a atriz parece não se intimidar com qualquer assunto em seus 10 anos de carreira. Nem desce do salto, como sua personagem Lara, repleta de gestuais irreverentes em A Favorita, novela de João Emanuel Carneiro. Mariana permanece com sua postura altiva ao detalhar seus dez anos de carreira na TV.

Ela faz questão de afirmar que sua ascensão como atriz se deve principalmente à sua disciplina rigorosa no estudo da composição das personagens. Foi assim que a atriz construiu os trejeitos moleques da idealista estudante de geologia que se dividirá entre duas mães na trama das oito da Globo.

Com a prisão de sua mãe biológica Flora, de Patrícia Pillar, que foi condenada - talvez injustamente - por ter assassinado o pai da estudante, Lara é criada por Donatela, vivida por Cláudia Raia. "Ela renuncia à vaidade, namora com um operário (Cassiano, de Thiago Rodrigues) para confrontar a família rica, mas é ética. É uma personagem que exigiu composição, como um jeito largado de andar", explica a atriz.

Com um tom de voz suave, embora muitas vezes incisivo, a atriz esmiuça com prazer os caminhos que percorreu para compor Lara. Além de assistir a aulas de geologia na USP e filosofia na PUC, o maior objetivo da atriz não era apenas se familiarizar com os termos utilizados no curso de geologia. A paulistana de 27 anos queria mesmo sentar nos bancos de faculdade e observar os trejeitos mais juvenis dos estudantes. "Essa personagem tem uma simplicidade verdadeira. Me identifiquei com o interesse que ela tem pela natureza. Ela é muito perto da realidade", destaca a atriz, bagunçando os curtíssimos fios louros. Eles foram tosados e clareados para dar uma expressão mais descontraída.

O visual se distancia dos outros papéis da atriz na TV, como a meiga Bel, de Cobras & Lagartos, seu último trabalho em novelas. Depois, Mariana chegou a ser convidada para fazer a prostituta Bebel, que foi interpretada por Camila Pitanga em Paraíso Tropical. Em seguida, escalada para uma personagem em Duas Caras. Ela negou alegando ter emendado várias novelas consecutivas. "Precisava descansar, me reciclar. Fui estudar para me abastecer. Agora voltei com gás total", afirma.

No período em que ficou fora da TV, Mariana fez cursos com profissionais renomados, como José Celso Martinez Corrêa, Sérgio Penna e Bárbara Heliodora - com quem estudou Shakespeare. "Isso me dá estofo. Me alimenta como atriz e traz instrumentos para meu trabalho", anima-se.

Mas nada entusiasma mais a atriz que relembrar antigos sucessos na TV, como a romântica Rosario, de A Casa das Sete Mulheres, de 2003, ou a ingênua Ana Francisca, de Chocolate com Pimenta, na qual também contracenou com Murilo Benício. Na trama de época, ele fazia o par romântico da atriz, enquanto agora interpreta Dodi, marido de sua madrasta. "Ele envelhece e eu vou fazendo personagens ainda mais jovens. Isso é ótimo!", diverte-se, ao conter uma gargalhada.

Para manter a forma, a atriz nunca deixou de praticar atividades físicas, como boxe, musculação e ioga. "Sou disciplinada. Levo marmita para o Projac com o que posso comer. Me mantenho saudável", justifica. Mas a disciplina vai além das medidas da atriz, que assegura ser muito aplicada no estudo de cada personagem. "Sempre quis ter uma carreira de sucesso, mas não esperava que fosse dar tão certo. Isso também se deve ao tesão que tenho por essa carreira", valoriza.