Setecidades Titulo Educação
Nunca é tarde para aprender e ser feliz
Por Mirela Tavares
Do Diário do Grande ABC
02/12/2011 | 07:00
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Ataide Alba /DGABC


Rafael Hippólito de Abreu, 17 anos, e Antonia Chavate de Campos, 60, dividem a mesma estação de computador para ver o resultado do trabalho que fizeram em grupo durante o projeto Stop Motion Movimento das Dunas, desenvolvido na Emeief Comendador Piero Pollone, na Cidade São Jorge, em Santo André, pela professora Simone Bernardo Andrade Souza.

Apesar da técnica de animação em stop motion fazer parte da grade curricular da turma do 2º ano de Educação para Adultos, o projeto se destaca por dar toda autonomia aos alunos de criarem a ideia e desenvolver o trabalho com o mínimo de intervenção possível do professor.

"O que esperamos é que ao final eles possam dizer que a ideia foi realmente deles e não apenas mais uma lição dada pelo professor", afirma Simone. Quanto a isso, ela não precisa se preocupar, pois os depoimentos dos alunos mostram o quanto eles ficaram orgulhosos de ter participado. "Foi um grande aprendizado, que nunca pensei em ter na vida", conta Antonia, mais feliz ainda porque agora está familiarizada com a linguagem tecnológica dos computadores e da internet, já dominada por três dos seus quatros netos. "Só a de 1 ano que ainda não sabe mexer", brinca.

E esse é o grande mérito do trabalho, segundo Carlos Adriano de Souza, coordenador do Instituto Paramitas, entidade responsável pela formação e acompanhamento dos professores de informática da escola. "Eles precisam saber qual o uso prático de computador e ter olhar crítico sobre as informações obtidas na internet", afirma.

Recompensa está na autoestima da turma

Para Carlos, o projeto tem ainda mas relevância quando levado em conta o fato de os alunos já serem adultos, o que normalmente gera receios e descrença da parte deles quanto ao aprendizado do uso de tecnologias mais recentes. "Mas depois que se atualizam e ganham confiança, um mundo se abre completamente para eles", comenta o coordenador do Instituto Paramitas.

Foi o que aconteceu com outra aluna de Simone, Maria Pasquoto, 57 anos. Apesar de não ter participado do projeto Movimento das Dunas, ela tem aulas de informática com a professora, que a transformaram em uma hard user da tecnologia. "Das 5h30 até as 9h me concentro só nas minhas pesquisas na internet, buscando informações para as minhas aulas e para a minha neta", conta Maria.

A professora Simone afirma se sentir muito gratificada em ver alunos como Antonia e Maria ganhando cada vez mais autonomia com o uso da informática e aproveitando as informações para melhorar a própria condição de vida social e profissional.

Conhecendo as possibilidades do computador como ferramenta, eles aperfeiçoam os currículos, criam apresentações, aprendem a buscar informações na rede, entram em sites de empregos, participam das redes sociais e, principalmente, se mantêm atualizados.

"Muitos já me perguntaram inclusive como fazem para se cadastrar no portal da Nota Fiscal Paulista", conta Simone, salientando para a importância dessa inclusão digital, ainda mais para um público de idades e habilidades tão variadas.

Reciclar material também é tema de sala de aula

Por um bom tempo o problema persistiu. Para chegar até a Emeief Augusto Boal, na Avenida Ayrton Senna da Silva, no Capuava, em Santo André, alunos e funcionários tinham de correr riscos por entre os carros porque a calçada estava cheia de lixo e tranqueiras que, às vezes, os próprios moradores jogavam no trecho inicial da rua. Havia também o desconforto de ver cachorros e ratos em convivência quase harmoniosa no meio de comidas estragadas.

As crianças não aguentaram e levaram o problema para dentro da sala de aula. A professora Patrícia Rotta ouviu de tudo: "Outro dia tinha um gato desmaiado", disse a pequena Vitória Jatobá, 7 anos. Percebeu que poderia encaixar naquela percepção infantil, que estava afiada, trabalho de conscientização para a preservação do meio ambiente. Criou o projeto Escola Sustentável: O Lixo que Ganha Vida. Mostrou para eles que o corpo é o primeiro ambiente a ser respeitado e por isso hábitos saudáveis de higiene e alimentação adequados são necessários.

Patrícia pegou fotos de lugares deteriorados - cheios de mato e entulho -, e pediu aos alunos que transformassem aquela realidade por meio dos desenhos. O colorido dominou, a exemplo da maioria dos trabalhos infantis. A sementinha estava germinando.

Como a faixa etária da classe é de 6 anos, Patrícia desenvolveu as atividades respeitando o ritmo deles. Explicou, detalhadamente, que o lixo poderia ser reciclado, caso fosse separado de forma correta e jogado em recipientes de cores diferentes. (Selma Viana)

Crianças transformam lixo em brinquedos

O momento agora era o de transformar o lixo em coisas que criança gosta. E criança quer brinquedo. O lixo ganhou vida! Conseguiram montar peças para boliche e jogo da velha. Com a ajuda de uma amiga, Vitória fez em casa carrinho para a sua boneca com garrafa PET. "Peguei a garrafa, pintei de rosa, coloquei fotos da Barbie, coloquei rodinhas e amarrei uma corda", ensina. Outra atividade foi a de criar horta suspensa na rampa que dá acesso às salas de aula. Plantaram salsinha, alface, cebolinha e alface roxa.

Enquanto seus pupilos aprendiam um pouco mais sobre sustentabilidade, a professora encaminhou questionário, com três perguntas, aos familiares. Ela queria saber o que os incomodava no caminho para a escola, se reciclavam material e se conheciam algum projeto que recolhe itens recicláveis.

Das 30 folhas, 21 foram respondidas. Todos reclamaram da sujeira no caminho para a escola; menos da metade costuma reciclar o lixo e a maioria não conhece projetos sobre o assunto. Uma mãe respondeu: "Não reciclo lixo porque moro em um condomínio com 40 famílias. Se essa iniciativa for tomada somente pela minha pessoa não vai dar certo". Patrícia ensina aos alunos que cada um tem de dar o primeiro passo, não importa se os outros não fazem. Diariamente, os alunos chegam com histórias a respeito do lixo para a professora. Um garoto denuncia o pai e conta que ele jogou entulho na rua.

"Quando eles saírem daqui terão outro olhar sobre lixo e reciclagem. Isso é educação, o poder transformador", enfatiza a diretora da unidade escolar, Luciane Mansano.(Selma Viana)




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