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As boas intenções

Nos tempos em que Roma era a senhora do mundo, quem pretendia um cargo eletivo usava uma toga branca ("cândida")

Carlos Brickmann
23/07/2008 | 00:00
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Nos tempos em que Roma era a senhora do mundo, quem pretendia um cargo eletivo usava uma toga branca ("cândida"), para simbolizar a pureza de sua vida e de suas intenções. Da cor da toga surgiu a palavra "candidato" - o imaculado. A partir de agora, o eleitor brasileiro terá à disposição, distribuída pela Associação dos Magistrados Brasileiros, uma lista de candidatos que, por responderem a processo criminal ou eleitoral, deixam de ser imaculados. A pessoa pode se candidatar, mas o eleitor saberá que contra ela há processos em andamento.

Que beleza! Mas é claro que, sob as imaculadas e cândidas togas romanas, nem sempre havia pessoas cândidas e imaculadas. Catilina, ladrão, conspirador, assassino que não deu certo, foi um deles. Às vezes, o eleito talvez fosse cândido e imaculado, mas não poderia ser considerado uma pessoa: Incitatus, o cavalo favorito do imperador Calígula, foi senador em Roma.

De boas intenções, diz o provérbio, o inferno está cheio. De agora em diante, basta jogar alguns processos no adversário bom de voto para colocá-lo na lista suja e enfraquecê-lo. E há gente que não entra nessa lista de jeito nenhum: Severino Cavalcanti, por exemplo, aquele que foi presidente da Câmara, que renunciou para não ser processado, que é hoje candidato a prefeito de sua cidade, João Alfredo, provavelmente não responde a qualquer processo.

Os magistrados que desculpem este leigo em Direito. Mas não há um dispositivo que diz que o cidadão é inocente, até que sua culpa seja provada em juízo?

O LUGAR DA LISTA
Quem quiser consultar a lista suja de candidatos pode ir ao endereço eletrônico da Associação dos Magistrados Brasileiros (www.amb.com.br)

REDONDEZAS
A Operação Satiagraha recomeça, com outro chefe, com o superintendente da Polícia Federal e o juiz Fausto de Sanctis de férias, com o presidente do Supremo de férias. Mas a análise dos documentos continua a passar perto do governo: o publicitário Guilherme Martins, Guiga, foi quem pediu ao ex-deputado e advogado Luís Eduardo Greenhalgh para conversar com assessores do presidente Lula. Guiga, que penetra com facilidade nos círculos do poder, recebeu honorários de R$ 255 mil da Brasil Telecom, na época controlada pelo Opportunity.

HORA DE PRENDER
Lembra do escândalo de pedofilia em Roraima, que atingiu até o procurador-geral do Estado? Pois bem: o delegado da Polícia Federal deu entrevista dizendo que sua equipe viu, acompanhou e filmou uma criança de nove anos entrando no motel com o procurador-geral do Estado, e não tomou nenhuma providência, para não prejudicar as investigações". Não dá: é como deixar de socorrer uma pessoa que está sendo assassinada, para não prejudicar o flagrante. O delegado chorou quando disse que nada podia fazer. Mas podia evitar o estupro de uma menina de 9 anos, podia evitar o estupro de duas outras meninas. Bastaria prender o procurador no motel em companhia delas - outra prova seria desnecessária.

HÁ CRIME?
Prevaricar é deixar de tomar as providências exigidas pelo cargo. Ao permitir que o estupro se concretizasse, não terá ocorrido prevaricação do delegado?

BOA NOTÍCIA
A primeira rodovia sul-americana ligando os oceanos Atlântico e Pacífico deverá estar pronta no fim do ano que vem: vai de Santos, SP, até Arica e Iquique, no Chile, passando pela Bolívia. Com a nova rodovia, os cereais brasileiros, que hoje chegam ao Pacífico pelo Estreito de Magalhães, lá perto do Pólo Sul, chegarão a custo muito mais baixo à Ásia e aos mercados do Oeste americano.

A DÚVIDA
Se o objetivo da estrada é facilitar o transporte de cargas, por que uma rodovia e não uma ferrovia? Haveria economia de petróleo e os custos do transporte cairiam ainda mais. E nem haveria problema de velocidade: como no transporte de minérios, o importante não é o tempo, mas a regularidade.




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