Cultura & Lazer Titulo
Leitura humana de Evita
Sara Saar
Do Diário do Grande ABC
23/03/2011 | 07:00
Compartilhar notícia


Evita, apelido que identificava Eva Perón com o povo argentino. De origem humilde, deixou a carreira artística para ser líder política. Em leitura humana, sem fazer julgamentos, a história deste mito latino-americano é narrada na superprodução Evita, que estreia em São Paulo.

Com direção-geral de Jorge Takla (o mesmo de My Fair Lady e West Side Story), o musical da consagrada dupla Tim Rice e Andrew Lloyd Webber tem primeira montagem criada integralmente no Brasil, com versão de Cláudio Botelho. Vânia Pajares assina a regência e a direção musical. "A minha preocupação foi tornar o texto inteligível. A história é quase toda cantada. São poucas falas", afirma Vânia.

Para Takla, a peça está longe de ser mero entretenimento. De fato, exige que o público esteja preparado. "É uma obra que faz pensar. É um soco no estômago", define o diretor.

Protagonizada por Paula Capovilla (no papel-título), Daniel Boaventura (como Juan Perón) e Fred Silveira (como Che), a montagem que abarca projeções gigantes tem início em 1952. Em uma sala de cinema, um filme é interrompido pelo anúncio da morte de Evita, aos 33 anos. Enterrada, tem a história contada em flashbacks, a partir da infância.

Com dez anos de carreira, Paula comemora o papel. "No começo, senti medo: ‘Meu Deus, e agora?'. Depois, fiquei tranquila, me senti cuidada e protegida. Pensei: ‘Vai dar tudo certo'", confessa a atriz.

No espetáculo, Che é o narrador, figura que representa a contestação, a rebeldia. É quem critica todos os passos da protagonista, enxerga o que o povo não percebe. "Em semelhança com Evita, Che morreu novo e carregou a esperança dos necessitados", lembra o ator, que passou o Ano-Novo em Buenos Aires. "Viajei para saber o que os portenhos pensam de Evita, respirar os mesmo ares".

Boaventura confessa que, antes de fazer o musical, possuia parco conhecimento sobre a história. "Eu acreditava que Evita havia alavancado Perón, sendo ele um personagem passivo. Mas não. Perón já era querido nos meios militar e político", ressalta.

Um tipo real possui os limites da verdade. Foi essa observação que guiou Boaventura na construção do personagem. "Perón e Evita formaram um casal de muitos mistérios, ficaram no imaginário", afirma.

Trata-se, segundo Takla, de um musical esquizofrênico. "Passeia do tango ao maxixe. Percorre o samba, a valsa, o bolero, o rock. Em determinado momento, parece que todos estão desafinando, mas não. São vozes diferentes", explica.

A longevidade do musical dependerá do sucesso. "Se o público gostar, podemos estender a temporada em outros teatros de São Paulo. Também queremos rodar o Brasil, mas é difícil viajar com essa peça", afirma. No total, são 45 atores e cantores, além de orquestra com 20 músicos.

Segundo Takla, faltam brasileiros que escrevam musicais, gênero que possui uma dramaturgia extremamente complexa, sofisticada. "Até me convidaram para um musical sobre, talvez, o principal personagem brasileiro", conta o diretor, fazendo mistério. E completa: "Mas os compositores são norte-americanos".

Evita - Musical. No Teatro Alfa - Rua Bento Branco de Andrade Filho, 722, São Paulo. Tel.: 5693-4000. Estreia no sábado, às 21h. Temporada: quinta-feira, às 21h; sexta, às 21h30; sábado, às 17h e às 21h; domingo, às 16h e às 20h. Ingr.: R$ 70 a R$ 185. Até 31/7.

Cláudya interpretou protagonista em 1983

“Tem uma coisa que eu nunca vou esquecer, um argentino, chorando copiosamente, veio me encontrar no camarim e disse: ‘Você é melhor que Eva Perón, porque você tem talento’”, conta Cláudya Oliveira, a cantora popular que deu voz à madona dos descamisados na primeira versão brasileira do musical de Tim Rice e Lloyd Webber, em 1983.

Ao lado de Mauro Mendonça, a cantora viveu o casal mais importante da Argentina. Na época, 30 anos após a morte de Evita, poucos eram os brasileiros que sabiam de sua história e da comoção do povo do país vizinho pelo casal político. “Até então, sabíamos mais sobre peronismo, mas muito pouco, apenas de ouvir falar”, revela a cantora.

Expoente da canção popular, ela teve que adequar sua voz ao tom operístico da montagem. “Tem que ter textura vocal para interpretá-la, ser no mínimo soprano. Tive que aprender a colocar minha voz em técnica lírica, além de dançar e interpretar.”

Naquele tempo, musicais não eram feitos com a periodicidade de hoje, mas tinham mais apelo de público. “Ficamos em cartaz, no Teatro João Caetano, no Rio, durante nove meses, de terça a domingo. Eram 2.400 lugares, todos os dias lotados.”

Cláudya ainda conta que eram muitos os argentinos que fretavam ônibus para ver a apresentação. E que eram os que mais choravam. “Teve uma pessoa, na estreia do espetáculo, que teve um ataque cardíaco e precisou ser levado às pressas para o hospital, tamanha emoção sentiu.”

"Não Chores por Mim, Argentina", tema mais conhecido do musical, sempre tem que ser interpretado pelos locais onde Cláudya passa. A última vez que ela cantou foi no domingo, em um show que fez com Cauby. “Até hoje, nessa hora, todo mundo me aplaude em pé.” (Thiago Mariano)




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;