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Tecnologia ajuda índios da Krukutu
Por Cadu Proieti
Do Diário do Grande ABC
18/06/2012 | 07:00
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Marina Brandão/DGABC


Uma das principais metas da aldeia indígena guarani Krukutu, localizada na divisa de São Bernardo com Parelheiros, na Zona Sul da Capital, é não deixar a cultura dos primeiros moradores do Brasil ser esquecida. Porém, para isso acontecer, os índios utilizam ferramenta do homem moderno: a tecnologia.

Sem deixar de lado as tradições, a tribo, que vive em 2,9 hectares (equivalente a três campos de futebol) de Área de Proteção Ambiental próxima à represa Billings, possui energia elétrica, carro, computador, telefone e internet. Todos esses aparatos são de extrema necessidade para a sobrevivência dos nativos.

A alimentação é comprada em mercados fora da tribo, com dinheiro conquistado pelo trabalho nos equipamentos públicos existentes na aldeia, como unidade de Saúde, escola estadual e Ceci (Centro de Educação Cultural Indígena).

Apesar de utilizar a tecnologia do ‘homem branco' no dia a dia, os cerca de 300 guaranis que vivem no local mantêm a risca os costumes praticados há muitos anos. Toda noite é realizado ritual religioso com cachimbo, tradição dos indígenas utilizada para contemplar os deuses por meio de cânticos e da fumaça, considerada sagrada.

A organização da tribo também não sofreu alterações com a chegada dos aparelhos modernos. Os rituais de cura ainda são comandados por seis pajés, que são os representantes religiosos da comunidade.

Todas as crianças falam apenas o idioma guarani até os seis anos. Só depois dessa idade começam a aprender a língua portuguesa. A tecnologia ajuda os curumins a conhecer a segunda língua. "Ouvindo rádio e assistindo desenhos animados na TV, os pequenos vão aprendendo algumas palavras", explicou o líder da Associação Guarani Ne'e Porã, Olívio Jekupé.

O cacique continua sendo a principal liderança da tribo, além de administrar o local. Pela primeira vez, a aldeia Krukutu - que significa canto da coruja, por conta da pronuncia parecida com o som emitido pelo pássaro - é comandada por uma mulher, Francisca Guarani.

No sábado, quando a equipe do Diário visitou a tribo com moradores de São Bernardo, a cacique estava no Rio de Janeiro para participar da conferência ambiental Rio+20. "Para ocupar o posto, é preciso entender as coisas do mundo lá fora", disse Jekupé. A escolha da liderança da aldeia é feita a cada três anos, em decisão conjunta dos membros da comunidade.

INTERNET

A internet é o meio de comunicação que têm ajudado os índios a divulgar sua cultura. A tribo Krukutu possui 13 computadores com acesso à rede. Os equipamentos ficam dentro do Ceci e são liberados para uso da comunidade em horários específicos. "Todos na tribo possuem perfil no Facebook. É importante para debater nossa cultura com guaranis de outras partes do Brasil", relatou o líder da associação indígena.

O mundo digital também ajuda no trabalho de Jekupé, que é escritor de literatura nativa. Ele possui 12 livros publicados, que contam a história e cultura guarani. "Escrevo, mando por e-mail para as editoras e fico aguardando. As que se interessam entram em contato", explicou.




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