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Paulinho quer sindicatos no PDT
Por Wilson Moço
Editor do 1º Caderno
05/06/2004 | 22:02
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O presidente da Força Sindical e pré-candidato à Prefeitura de São Paulo (PDT), Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, quer os trabalhadores ligados aos sindicatos da central no seu partido, como nos tempos do trabalhismo do presidente Getúlio Vargas, nos anos 1930. Seguindo os passos do presidente Lula, Paulinho abraça de vez a política, com uma diferença em relação à carreira do principal líder sindical do fim dos anos 1970 e 1980, que agora é apenas político, numa carreira forjada nas portas de fábrica do Grande ABC.

O sindicalista Paulinho e seus pares na central agora trabalham para integrar os trabalhadores das bases da Força Sindical à política partidária. “Esse trabalho que vem aí de dois ou três meses já é bem expressivo dentro das fábricas. Acredito que em um ou dois anos teremos um grande partido no Estado”, prevê. Paulinho, cuja candidatura ganhou na sexta-feira o peso do apoio do ex-governador Leonel Brizola, entende que a participação dos trabalhadores não deve se restringir apenas ao que ele chamou de “carregar piano”, como colar cartazes ou pintar muros, mas para comandar o partido e o país.

DIÁRIO – Força Sindical ou CUT. De quem é o domínio no Grande ABC?
PAULO PEREIRA DA SILVA – Nós temos hoje uma grande Força Sindical no Grande ABC. Hoje, sem dúvida nenhuma, tem mais trabalhadores nos sindicatos ligados à Força do que ligados à CUT no ABC.

DIÁRIO – O sr. tem esses números?
PAULO PEREIRA – Temos hoje 19 sindicatos na região do Grande ABC e mais ou menos 320 mil trabalhadores nas bases desses sindicatos. Me parece que a CUT tem 12 ou 13 sindicatos, e que chega a 280 mil trabalhadores mais ou menos.

DIÁRIO – Como o sr. avalia o avanço da Força Sindical na região onde nasceu a CUT?
PAULO PEREIRA – A Força Sindical procurou fazer um trabalho de só falar mal quando necessário, mas também falava bem na hora que tinha de falar. E não ficamos só nisso, pois também desenvolvemos vários projetos com crianças de rua, com desempregados. Hoje nós temos o centro de atendimento ao desempregado no Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André; nós criamos um assentamento modelo de reforma agrária no interior. Criamos o Sindicato Nacional dos Aposentados. Então, saímos um pouco da corporação sindical e isso fez com que a gente crescesse, principalmente em áreas que o Brasil está crescendo, como no caso de serviços, comércio e mesmo na indústria. Boa parte das empresas que deixaram o Grande ABC foram para a base da Força Sindical, como Paraná, Bahia e Rio de Janeiro. Quando as novas montadoras vieram para o Brasil, foram para as bases da Força. Então, isso acabou fortalecendo muito a nossa central, não só em São Paulo como nos outros Estados. Mas no Grande ABC, hoje, com certeza nós somos maiores que a CUT.

DIÁRIO – Mas esse avanço da Força pode significar que a CUT se desviou um pouco do caminho?
PAULO PEREIRA – Sem dúvida nenhuma. Nossa relação com a CUT já foi muito ruim, mas agora está muito boa. Temos entendimento, mas vamos continuar disputando o movimento sindical com ela. Na medida em que pudermos ganhar um sindicato dela, vamos ganhar; isso também vai acontecer com eles. Na medida em que puderem ganhar de nós, vão ganhar. Então, vamos continuar disputando o movimento sindical com eles. Mas a CUT, hoje, digamos assim, é uma extensão do governo. A CUT bate palmas para quase tudo que o governo fala. Não estou dizendo toda a CUT, porque tem dirigente, o Marinho (Luiz Marinho, presidente), por exemplo, tem sido muito firme nas negociações que tenho tido com ele junto ao governo. O problema é que muitos dirigentes da CUT foram para dentro do poder federal. Acredito que a CUT terá grandes problemas no médio prazo, em termos de base sindical.

DIÁRIO – Essa ligação com o governo tira força política da CUT na forma de pressionar?
PAULO PEREIRA – Eu disse que a CUT terá grandes problemas. Acredito que muita gente abandonará a CUT. Ou por ser mais à esquerda ou gente que acreditava no projeto de independência da CUT, o que hoje já não é tão claro. A CUT vai ter problemas pela frente, mas nós estamos crescendo, agora também politicamente. Nós reorganizamos o PDT em todo o Grande ABC, por exemplo, assim como em toda a Grande São Paulo. No Estado, nossos sindicatos estão vindo para dentro do partido. Aqui em São Paulo a gente começou um trabalho de trazer não mais só o dirigente sindical, mas também o militante ligado ao sindicato para dentro do partido. O trabalho já começa a crescer muito dentro da fábrica, que é a organização dos núcleos de fábricas, esse trabalho que vem aí de dois ou três meses e já é bastante expressivo dentro das fábricas. Acho que dentro de um ano ou dois, nós teremos um grande partido no Estado.

DIÁRIO – O sr. não acha que pode confundir um pouco misturar o partido com o militante sindical?
PAULO PEREIRA – Eu acho que não porque, a cada dia, mais os trabalhadores vêem que muitos dos problemas que eles têm não estão sendo resolvidos mais na porta da fábrica. Antigamente a gente fazia uma greve e ficava ali até resolver o problema. Hoje, se você fizer uma greve, em alguns casos pode até quebrar a empresa, porque o problema não está mais ali, está passando pelas câmaras municipais, Câmara Federal, o ministério que não liberou o dinheiro. Tem crédito do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), mas só para as grandes empresas. Por isso estamos cada vez mais convencidos de que os trabalhadores também têm de fazer política partidária mesmo, e não, digamos assim, para carregar o piano, para colar o cartaz, mas fazer política mandando no partido. Então, a nossa idéia é resgatar o trabalhismo do PDT histórico, mas resgatar com os trabalhadores mandando no partido.

DIÁRIO – O sr. falou que antes a greve resolvia. Se não me engano, a Força começou na frente o que se chamou de sindicalismo de resultados. O que, na verdade, era sentar e negociar, negociar, negociar. Os acordos alcançados em algumas negociações ajudaram a Força a crescer?
PAULO PEREIRA – Tinha um espaço no Brasil. Tinha o radicalismo da CUT contra tudo naquela época, e tinha uma parte do movimento sindical que achava que não era aquele o caminho, que primeiro tinha de negociar, esgotar o diálogo para depois fazer greve. E a Força Sindical cresceu exatamente aí, esse foi o princípio da Força: a greve seria o último instrumento. Primeiro você iria esgotar todo o processo de negociação e em último caso fazer greve. Esse também foi um modelo que o Brasil foi adotando. O Brasil foi se democratizando e nós, talvez, percebemos isso antes do que a CUT, e isso também foi um fator de crescimento da Força. Essa forma de fazer sindicalismo. Não um sindicalismo radical, mas responsável, de negociação e de conquistas. Nenhuma greve era para ganhar voto, para um ou outro deputado, ou para um ou outro prefeito, um ou outro candidato à Presidência da República. Era uma greve para ganhar para os trabalhadores.

DIÁRIO – E hoje, quando se parte para uma greve, ela é mais política ou realmente é por uma questão salarial? A recente greve da Polícia Federal, por exemplo.
PAULO PEREIRA – Eu acho que no setor público é uma coisa grave. Pegando o caso da Polícia Federal, sabemos que é greve de reivindicação salarial mesmo, de desesperança. Porque o governo do PT criou tanta expectativa que todos nós achávamos que o Lula ganhava a eleição e no dia seguinte todo mundo estava bem de vida, ia resolver o problema de moradia, de reforma agrária, funcionário público ia ter aumento, ia dobrar o salário mínimo. Enfim, tudo isso criou uma expectativa na população. No entanto, o governo Lula começa a não cumprir nenhuma das promessas. O setor público não tem aumento de salário. Tinha uma expectativa de que teria, e aí não tem. No primeiro momento a liderança do movimento dos funcionários públicos foi cooptada pelo governo, a maioria está no governo. Mas aqueles que ficaram seriam pressionados para enfrentar essa situação e vão ser mais pressionados, porque a situação não foi resolvida.




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