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Os confusos ovários policísticos
Antonio Carlos do Nascimento
14/03/2022 | 07:00
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É muito comum nos depararmos com pacientes que anotam ser portadoras de ovários policísticos e isso nos obriga a muitos esclarecimentos, nem sempre fáceis de serem alcançados.

O exame ultrassonográfico da pelve feminina serve para a avaliação de colo uterino, útero, tubas uterinas e ovários, sendo ferramenta importante no diagnóstico de vários distúrbios, contudo, a presença de um ou mais cistos ovarianos colocam o laudo ultrassonográfico em uma “zona cinzenta” que carece melhor explicação.

Entre as possibilidades mais comuns, um cisto ovariano pode ser apenas resultado da fisiologia deste órgão, como ocorre no cisto funcional, decorrente de um folículo que não liberou o óvulo no processo de ovulação, ou o cisto lúteo, no qual, após a liberação do óvulo, eventualmente o local passa a ser preenchido por sangue e fluídos.

Porém, é na presença de vários cistos que a confusão principia, pois, possuir ovários policísticos ao ultrassom é diferente de ser portadora de Síndrome de Ovários Policísticos (SOP) e ainda que o médico compreenda a distinção, esta, precisa ser explicada a quem mais interessa.

A SOP é uma doença na qual altos níveis de hormônios masculinos e ausência de ovulação constituem os elementos principais e ao contrário do que o nome sugere, a SOP pode existir sem alterações ultrassonográfica ovarianas.

É bastante comum que pacientes com múltiplos cistos ovarianos identificados em exames de imagem recebam diagnóstico de SOP, sem que possuam elevação de hormônios de linhagem masculina e ausência de ovulação, o que torna esse diagnóstico além de equivocado, perigoso, entre outros pontos, por sugerir que a gravidez seria uma possibilidade remota.

A elevada concentração de hormônios masculinos circulantes nas pacientes com SOP promove a maioria dos sinais desta doença, tais como pilificações em raiz de coxa, linha do umbigo, buço e face, além de queda de cabelos e acne. Os ciclos menstruais são extremamente irregulares e longos períodos sem menstruações são comuns, enquanto a ovulação pode estar absolutamente ausente ou de ocorrência bastante esporádica.

O comando do ciclo hormonal ovariano é feito pela hipófise, glândula localizada na base do cérebro. Desajustes entre comandante (hipófise) e comandados (ovários), parece ser a causa do SOP. São várias fases na “linha de montagem” dos hormônios femininos, as quais passam por estágios de hormônios masculinos e o descompasso neste processo, provoca excedentes androgênicos que extravasam para a corrente sanguínea, além de impedir a ovulação.

Uma vez descartadas outras causas de elevação de hormônios masculinos, o tratamento do SOP é feito com anticoncepcionais, que farão com que a hipófise não estimule a produção de hormônios nos ovários, que não produzirão os femininos e nem tão pouco seus precursores, os masculinos. Nos casos com ovários policísticos ao ultrassom, estes desaparecem, com ou sem SOP.

A resistência insulínica (RI) é uma desordem frequentemente presente em portadoras de SOP, nesta condição a insulina é impedida de exercer suas ações, o que provoca maior produção deste hormônio pelo pâncreas para compensar a dificuldade em controlar a glicemia. A hiperinsulinemia, porém, proporciona aumento da gordura visceral e com isso, o surgimento de mais substâncias que pioram o bloqueio funcional da insulina, ciclo vicioso que caminha para o estabelecimento de Obesidade e Diabetes tipo 2.

Vê-se que distinguir entre Síndrome de Ovários Policísticos e achados ultrassonográficos de ovários policísticos faz bastante diferença, incluindo condutas que se destinem àquelas que pretendam engravidar.  




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