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Tóquio-20 terá mais legado do que Rio-16
Dérek Bittencourt
Do Diário do Grande ABC
10/08/2021 | 00:01
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Em primeiro lugar, quero deixar claro: não sou desses que usam a síndrome de vira-lata, muito comum a brasileiros, para argumentar neste espaço. Dito isto, acredito que os Jogos Olímpicos de Tóquio, que terminaram anteontem, no Japão, têm muito mais chance de deixar algum legado para o Brasil e o esporte brasileiro do que a Olimpíada realizada no Rio de Janeiro, em 2016. Pode parecer uma opinião maluca, afinal, o evento aconteceu em solo brasileiro há cinco anos. Porém, os gastos elevados e a falta de uma destinação digna às estruturas olímpicas foram tão marcantes, que digo sem medo de errar que os resultados e as apresentações verde e amarelas em solo japonês têm muito mais chance de causar impacto, por vários aspectos, e faço questão de levantar três deles a seguir.

O primeiro: as modalidades que foram ao pódio têm grande apelo popular, sobretudo duas que foram novidade em Tóquio, casos do skate (que nos rendeu três pratas) e do surfe (um ouro). Outrora marginalizados e malvistos, muitas vezes até mesmo considerados esportes ligados à vadiagem e às drogas, foram catapultados para o patamar de destaque merecido. Utilizando o Grande ABC como termômetro, uma volta por locais que reúnem skatistas na região comprova aumento nos praticantes. Aliás, as escolinhas e projetos já dão mostras disso, inclusive com meninas tão interessadas quanto meninos, em clara e evidente relação com a jovem Rayssa Leal, a Fadinha, que aos 13 anos fez história na capital japonesa. Além dela, Pedro Barros e Kevin Hoefler também voltaram com medalhas prateadas na bagagem. Por serem esportes individuais e mais acessíveis (sobretudo se relacionados, respectivamente, ao concorrido futebol e à encarecida vela), skate e surfe acabam arrebatando simpatizantes desde crianças, estas que poderão estar em uma disputa olímpica nas próximas edições do evento.

O segundo: o crescimento da presença feminina entre os medalhistas da delegação brasileira é reflexo de que não há mais espaço para distinção de gênero no esporte. Em números gerais, a Olimpíada de Tóquio já teve 50% de atletas homens e 50% de mulheres, divisão proporcional pela primeira vez na história, mostrando que elas podem, sim, fazer o que quiserem e estar onde desejarem. No Time Brasil, eram 162 homens e 140 mulheres, ou seja, quase meio a meio. E entre as conquistas verde e amarelas, foram nove pódios alcançados por esportistas do sexo feminino e 12 do masculino, ou seja, 42% de conquistas delas, aumento gigantesco com relação aos Jogos do Rio de Janeiro, cinco anos antes, quando foram cinco medalhas vindas do feminino e 14 do masculino, o equivalente a 26%. Vale destacar o desempenho da ginasta Rebeca Andrade, dona de um ouro e uma prata, que devem causar o mesmo efeito citado no tópico anterior e impulsionar a procura de crianças e mães por locais que oferecem o esporte – aposta essa feita por São Caetano, que não pôde celebrar medalha com Arthur Zanetti neste ano, mas que está prestes a inaugurar moderno centro de treinamento para as modalidades artística e rítmica. Aliás, a judoca Mayra Aguiar, com seu terceiro bronze olímpico consecutivo, também deve ser exaltada.

O terceiro: o aumento dos representantes do Nordeste em posições de destaque valoriza o Brasil como um todo, mostrando para milhões de jovens de outras regiões do País que não é obrigatório nascer no eixo Sul-Sudeste para chegar ao pódio. Das seis medalhas individuais de ouro conquistadas em Tóquio, quatro foram de atletas nordestinos: o surfista potiguar Ítalo Ferreira, a maratonista aquática Ana Marcela Cunha, o canoísta Isaquias Queiroz e o boxeador Hebert Conceição, todos estes baianos. No bicampeonato olímpico conquistado pela Seleção Brasileira masculina de futebol, o capitão Daniel Alves também nasceu na Bahia. Destoam no rol dourado apenas a ginasta paulista Rebeca Andrade, a dupla da vela, composta pela carioca Martine Grael e pela paulistana Kahena Kunze. Menções honrosas à boxeadora baiana Bia Ferreira e à skatista maranhense Rayssa Leal, ambas medalhistas de prata. Ainda é inegável que São Paulo, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro ofereçam melhores estruturas de treinamento. Porém, estes resultados comprovam que o material humano pode vir de qualquer lugar, ainda mais com tantos conterrâneos servindo como espelho.

Com tudo isso, anseio pelos Jogos na França, daqui três anos. Que os governantes possam utilizar esses cases para fomentar a prática esportiva, que as empresas possam voltar os olhos e patrocinar cada vez mais esportistas, que os pais vejam nos esportes uma alternativa saudável às cômodas telas de celular, tablet e computador. Basta querer. Enfim, arigato (obrigado), Tóquio. À bientôt (até breve), Paris.

INCENTIVO
Por falar em voltar os olhos para os esportistas, levantamento recente do GloboEsporte.com apontou que 131 dos 302 atletas que foram representar o Brasil em Tóquio não tinham patrocínio, 36 realizam permutas, 41 fizeram vaquinhas para arrecadar dinheiro para ir ao evento e 33 conciliam o esporte com outros empregos. Não vai ser do dia para a noite que a cultura de incentivo ao esporte vai mudar por aqui, então aproveito para endossar uma ação que está ganhando cada vez mais adeptos: siga os atletas brasileiros nas redes sociais. Quanto mais seguidores, engajamento e relevância, mais chance de serem até mesmo recompensados por isso. Fica a dica! 




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