Antônio Carlos Russo e a filha Francine, proprietários da Auto-Escola Itapark, no bairro de mesmo nome, em Mauá, foram indiciados quinta-feira por corrupção passiva. Eles foram flagrados por promotores públicos negociando venda de carteira de habilitação a um cliente. Nesta sexta-feira, em Santo André, a unidade da Auto-Escola Visão – lacrada pela polícia no início da semana por suspeita de praticar a mesma fraude – volta a funcionar. O Ciretran tomou a decisão de liberar as atividades na auto-escola para não prejudicar pessoas que têm processos em andamento na unidade.

O delegado-seccional da cidade, Luiz Alberto de Souza Ferreira, disse que a sindicância nas auto-escolas agora será realizada nas demais cidades atendidas pela seccional: Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra. Antes, Ferreira havia dito que o trabalho seria feito apenas em Santo André

A negociação da venda da CNH (Carteira Nacional de Habilitação) entre os proprietários da auto-escola de Mauá e um cliente ocorreu na tarde de quinta-feira e foi acompanhada pela Promotoria por conta de denúncia registrada pelo próprio candidato, no dia anterior. Reprovado duas vezes no exame prático, o jovem voltou à auto-escola e gravou no aparelho celular sua conversa com os proprietários. No diálogo, o dono da Itapark ofereceu aprovação mediante acerto de R$ 300.

Quinta-feira, o candidato voltou à auto-escola, na rua Zina Batani Bernardi, para fechar o acerto. O que os proprietários não sabiam é que o rapaz estava acompanhado por promotores e que o procedimento estava sendo filmado por uma equipe da Rede Globo. No diálogo exibido em reportagem no telejornal SP TV, quinta-feira, Antônio Carlos Russo chega a brincar: “Tem de tomar cuidado porque em Santo André já fecharam uma auto-escola. Mas para vocês a gente pode fazer porque já revistei e sei que não estão filmando”. A ocorrência só não foi registrada como flagrante porque o proprietário da auto-escola acabou percebendo que estava sendo filmado e não pegou as notas de R$ 50 que efetivariam a compra da CNH.

Mesmo diante das imagens, pai e filha negaram para a polícia que pratiquem a fraude. Ambos prestaram depoimento no 2º Distrito Policial de Mauá, onde o caso foi registrado e um inquérito policial instaurado. “Serão indiciados por corrupção, mas respondem em liberdade”, explicou o delegado-titular Walter Possari. O telefone celular do candidato à motorista foi apreendido para perícia do IC (Instituto de Criminalística).

Já os procedimentos administrativos contra a auto-escola devem ficar a cargo da Ciretran (Circunscrição Regional de Trânsito) local. Quinta-feira, o Diário não localizou responsáveis pelo departamento de trânsito em Mauá para comentar o caso. No início da noite, a reportagem esteve na auto-escola, mas as portas estavam fechadas. Pai e filha não foram encontrados para falar sobre o indiciamento. Nesta sexta-feira, a auto-escola denunciada deve ser vistoriada pela polícia.

Corregedoria – Diante do caso registrado em Mauá, o delegado-seccional de Santo André, Luiz Alberto de Souza Ferreira, afirmou que irá estender a sindicância junto às auto-escolas às quatro cidades atendidas pela Seccional. Em reportagem publicada quinta-feira no Diário, Ferreira descartava a possibilidade de estender a investigação. “Mas agora vamos fazer em todas.” Outra medida que será posta em prática pelo delegado é solicitar à emissora de TV as fitas brutas das gravações. “O que temos de provas são as matérias e não podemos desconsiderar o fato de que se tratam de imagens editadas. Somente com o material bruto poderemos avaliar em quais circunstância a suposta venda da carteira foi oferecida.”

Ferreira também considera imprescindível o depoimento dos dois candidatos à motorista que denunciaram a suposta fraude. “Precisamos avaliar cada ponto porque senão todo mundo que for reprovado nos exames práticos vai alegar que foi porque não pagou.” Desde que os casos começaram a aparecer na mídia, o volume de denúncias anônimas contra auto-escolas na Seccional aumentou consideravelmente, mas muitas são infundadas, na avaliação do delegado. “Hoje, uma das ligações denunciava a venda de habilitações falsas em uma viela do Centro de Santo André por R$ 1,5 mil. Parece loucura, mas vamos investigar.”

Para iniciar o pente-fino nas auto-escolas, o seccional afirma que terá de pedir reforço de pessoal à Corregedoria da Polícia de São Paulo. É para lá também que Ferreira pretende transferir o inquérito que apura a existência ou não das fraudes. “Se ficar nas minhas mãos podem ainda dizer que houve favoritismo em prol de alguém. Como não sou delegado especialista em trânsito e tenho muito trabalho ostensivo para fazer, vou mandar o inquérito para São Paulo.”

Reabertura – Em Santo André, por ora, três unidades da Auto-Escola Visão estão sob processo administrativo. Documentos foram apreendidos para a investigação. Com esses procedimentos, a polícia afirma que quer encontrar provas das supostas fraudes. Nesta sexta-feira, a auto-escola da rua das Hortências, na VIla Helena, lacrada no início da semana, abre novamente as portas.

“Isso não significa que acabou o procedimento. Antes que voltem a atender os clientes, voltaremos lá para pegar todo o material que considerarmos importante para as investigações”, explicou o delegado da Ciretran da cidade, Augusto Farias, que assumiu o cargo quarta-feira. Ele explica que a decisão de reabrir a unidade visa evitar prejuízos aos clientes que estão com processos para emissão de documentos na unidade. “Não podemos prejudicar os clientes e os funcionários da loja que precisam trabalhar.”