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Cozinha solidária do MTST serve 150 refeições por dia em Sto.André

Funcionando desde 1º de maio, equipamento atende de segunda a sábado no Jd.do Estádio

Por Aline Melo
Do Diário do Grande ABC
11/07/2021 | 07:00
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André Henriques/ DGABC


O cheiro gostoso de comida pode ser sentido de longe. O cardápio simples, com arroz, feijão, ovo frito, salada de cenoura, tomate e pepino, enche os olhos de quem aguarda pela refeição. As cozinheiras e voluntários trabalham desde as 6h para, por volta do meio-dia, começar a servir as 150, às vezes 170 pessoas, que vêm em busca de alimentos. E elas chegam cedo. Em alguns dias, o relógio ainda não marcou 10h30 e já tem fila na porta. Há pouco mais de dois meses essa tem sido a rotina na cozinha solidária do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto) no Jardim do Estádio, em Santo André, a primeira do Grande ABC.

Tudo foi feito por voluntários. A cozinha, o refeitório, os banheiros. Uma construção que ficou pronta em 25 dias, com tijolo, areia, pedra, cimento, solidariedade e afeto. O terreno foi cedido pelo condomínio – Novo Pinheirinho, também uma conquista do movimento social – e a água e luz são divididas com os vizinhos. “A solidariedade das pessoas faz a diferença”, afirmou a coordenadora estadual do MTST Andréia Barbosa, 37, que destacou que a cozinha comunitária tem um papel central nas ocupações do movimento. “É onde as pessoas se encontram, onde fortalecemos vínculos. Como a cozinha de uma casa. Foi com este pensamento que foram criadas as cozinhas solidárias”, pontuou.

As pessoas que chegam são cadastradas, mas todo mundo que precisa de uma refeição é atendido. Celina Ferreira Mateus da Silva, 42 anos, é uma das duas cozinheiras. As trabalhadoras são as únicas que contam com bolsa-auxílio. Todo o restante do serviço de organizar as filas, distribuir senhas – e máscaras para quem chega sem –, montar as marmitas e limpar o espaço é feito por voluntários. “O trabalho que fazemos aqui é importante. Tem muita gente precisando de comida, pessoas que não têm o dinheiro do gás, ou que estão em situação de rua e aqui podem buscar refeição”, afirmou Celina.

Ana Cristina Araújo da Silva, 51, é a outra cozinheira. A responsável pelos ovos fritos que chamam atenção. “O segredo é a panela”, contou, modesta. Ovo, óleo e sal, além da panela e da solidariedade, são o que deixam a comida tão saborosa. “Aqui a gente faz tudo com amor”, completou Celina. Quando as doações permitem, também são servidas sopas para a janta. Nesses dias, o boca a boca da vizinhança é o bastante para que todos fiquem sabendo.

Por causa da pandemia, as pessoas trazem seus potes e levam a refeição para ser consumida em casa. No futuro, quando a situação da Covid estiver controlada, o pavimento térreo vai ganhar um ou dois andares para abrigar um centro comunitário. “Queremos fazer cursos, palestras, discutir a questão da violência doméstica. Realizar o trabalho de base”, explicou Andréia. As doações para a cozinha solidária podem ser entregues na Rua Professor Plínio Braga, 188, Jardim Santa Cristina, em Santo André. O local funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 14h. Outras informações podem ser obtidas pelo telefone da coordenadora estadual Mel Nogueira (94159-7554). Doações em dinheiro podem ser feitas por meio da chave pix da Associação dos Amigos da Cozinha Solidária, pelo CNPJ da associação, 28799171000141. Ainda em julho, deve ser inaugurada a cozinha de São Bernardo, nos mesmos moldes. O movimento prevê unidades para Diadema e Mauá. No total, são 12 cozinhas em funcionamento no Brasil e a meta é chegar a 26. 

Usuários dizem que refeição é única do dia

Um almoço garantido e o resto do dia a base de café. Essa é a realidade do panfleteiro José Roberto Rodrigues dos Santos, 56 anos, que mora na comunidade Lamartine e trabalha na Vila Luzita, em Santo André. Diariamente, vai à cozinha solidária para buscar o almoço, sua única refeição do dia. “Com o que ganho nem dá para comprar o gás. Isso aqui me ajuda.”

A faxineira desempregada Claudia Santos de Souza, 41, retira as refeições desde o primeiro dia de funcionamento. Com dois filhos pequenos, de 9 e 12 anos, essa tem sido a principal fonte de alimentação da família. “Aos domingos, quando tenho macarrão, peço para alguma vizinha cozinhar, porque também estou sem gás”, comenta. Segundo os voluntários, muitos beneficiários contam que comem a metade no almoço para guardar para o jantar.

A dona de casa Aline Moraes Silva, 32, não pega a marmita todos os dias, só quando não tem o que cozinhar em casa. “Se pudesse vinha todo dia, porque é muito boa, mas sei que tem gente que precisa mais do que eu”, afirmou. As aposentadas Sonia Maria Pereira, 70, e Neusa de Oliveira Luiz, 70, conheceram a cozinha há poucos dias, e afirmam que poder pegar a refeição no local é de grande ajuda. “Tem mês que não consigo comprar um saco de arroz”, lamentou Neusa.

O catador de recicláveis Gilberto do Nascimento, 64, sai do Jardim do Estádio, onde mora, para retirar a marmita. “A comida é muito boa. Se não tivesse a gente ia acabar se virando, mas já que tem, venho sempre que posso”, declarou. 




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