Política Titulo Mauá
Oswaldo lança Hélcio
ao Paço e PT racha

Secretário de Obras de Mauá pede demissão do cargo para
confrontar Donisete Braga; costura escancara racha no PT

Por Mark Ribeiro
do Diário do Grande ABC
24/05/2012 | 07:00
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O secretário de Obras de Mauá, Hélcio Silva, pediu demissão do cargo e protocolou ontem a sua inscrição como pré-candidato a prefeito de Mauá pelo PT. Ele é o nome defendido pelo governo Oswaldo Dias contra o deputado estadual Donisete Braga, que liderou movimento para derrubar a tentativa de reeleição do prefeito antes mesmo de segunda-feira, quando o chefe do Executivo foi julgado no caso Túnel do Tempo e ficou inelegível.

A costura escancara o racha no PT. Embora não pertença ao grupo interno de Oswaldo, Hélcio permaneceu ao lado do prefeito contra o que o chefe do Executivo chamou de "tentativa de golpe" orquestrada por Donisete, pelo vice-prefeito e secretário de Saúde, Paulo Eugenio Pereira Júnior, e pelo presidente da Câmara, Rogério Santana. No partido, o sentimento de divisão é claro. "É o grupo do golpe contra os que resistem ao golpe", identificou um líder petista.

A situação também expõe contradição à fala de Oswaldo, mentor da articulação pró-Hélcio. Na segunda-feira, tão logo soube da sentença desfavorável no Tribunal de Justiça, o prefeito declarou que ficou "bravo" com Donisete e Paulo Eugenio por apenas cinco minutos. No dia seguinte, reuniu funcionários comissionados do governo para dizer que o deputado não é o candidato da administração.

O prefeito também tem conseguido êxito em conversas com integrantes dos diretórios nacional (do qual faz parte) e estadual do PT para minar Donisete. A avaliação da cúpula é a de que se a manobra do deputado prevalecer, acabará com a tradição democrática do partido de envolver a militância na escolha de seus candidatos. Oswaldo foi aclamado postulante à reeleição em encontro de delegados, no dia 22 de abril, inclusive com falas de apoio de Paulo Eugenio e do parlamentar.

Hélcio Silva, que já foi vereador por quatro mandatos, presidente da Câmara e do PT mauaense, avalia que "qualquer candidato com o apoio do prefeito possui viabilidade eleitoral". Pregando união, não classificou a movimentação de Donisete de golpe. "Foi uma precipitação decorrente de uma má avaliação."

Ele garantiu que, caso seja o pleiteante, defenderá o governo Oswaldo Dias. "Nenhum candidato do PT faz campanha sem o prefeito no palanque." Hélcio será substituído no comando da Secretaria de Obras por José Geraldo Teixeira, então diretor da Pasta.

Porta fechada - Também ontem Donisete Braga foi ao gabinete do prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho (PT), para pedir a bênção do principal líder petista do Grande ABC à sua empreitada em Mauá, mas não foi atendido pelo chefe do Executivo. Este já seria um reflexo da articulação exitosa de Oswaldo com a cúpula do partido.

"Tinha uma pauta sobre o VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), mas lógico que seria inevitável falar de Mauá. Ele (Marinho) estava em série de agendas, acabou demorando, e eu fui para a Assembleia", relatou Donisete, ao afirmar não ter perdido a viagem a São Bernardo. "Fui dar um abraço no vereador Luizinho (que completou 51 anos)."

 

Processo sofrerá intervenção da nacional

O processo de escolha do candidato do PT a prefeito de Mauá sofrerá intervenção da executiva nacional do partido, o que é admitido por diversas lideranças da sigla, inclusive Oswaldo Dias. Ontem, o prefeito encaminhou carta aos integrantes do diretório local comunicando a sua desistência da reeleição.

Com Oswaldo fora, o PT tenta se organizar para definir métodos para a escolha do candidato a prefeito. Estatutariamente, prévias estão descartadas. Pelo curto período até a abertura da janela de convenções, dia 10, a realização de outro encontro de delegados para decidir o nome está praticamente fora de cogitação.

Assim, o PT de Mauá terá de juntar os cacos para decidir um nome por consenso e levar para a aprovação da executiva nacional. "Vou consultar a nacional para definir o método de escolha e um calendário para o processo. Agora é tudo diferente. Nunca fizemos isso", atesta o presidente do PT mauaense, Leandro Dias, filho de Oswaldo.

Apesar da movimentação de Donisete Braga, o deputado ainda não se inscreveu como pré-candidato, deixando Hélcio Silva isolado nesta condição. Leandro estuda reservar período mínimo para protocolos, que deve ir até quarta-feira. Oswaldo dará todas as cartadas com a nacional e com a executiva estadual para conduzir o processo.

"Não temos tempo. Precisamos de agilidade", ressalta o chefe do Executivo. Sobre o acompanhamento da executiva nacional, considera "intervenção no sentido de orientação". "Temos de costurar o consenso."

Donisete evitou comentar a inscrição de Hélcio. "Recebo com naturalidade. Conversarei primeiro com o prefeito para me pronunciar. Qualquer fala neste instante é precipitada."

 

Prefeito afasta rumores sobre demissões

Oswaldo Dias afastou ontem os rumores de que iniciaria, com a estratégica exoneração de Hélcio Silva, série de demissões no governo. Durante a noite de ontem, especulou-se que o vice-prefeito Paulo Eugenio seria demitido do comando da Secretaria da Saúde. O prefeito mostrou ponta de irritação com os boatos.

"O Paulo não será demitido. Sou prefeito até 31 de dezembro e até lá os atos administrativos dizem respeito somente a mim", esbravejou. "Não está colocada a demissão de ninguém, exceto a do Hélcio, pedida por ele."

Nos bastidores, porém, comentou-se que a demissão de Paulo Eugenio estava em pauta, e que o vice só escapou da degola após reunião entre Oswaldo, Leandro Dias, Hélcio, o vereador Marcelo Oliveira e o ex-secretário de Governo José Luiz Cassimiro. No encontro, ficou decidido que a exoneração seria um desgaste desnecessário ao prefeito, já que, segundo a legislação eleitoral, Paulo Eugenio terá de deixar a Pasta até o dia 6 se quiser colocar em prática o plano de ser vice em chapa encabeçada por Donisete Braga.

Além de Paulo Eugenio, a frente para derrubar a reeleição de Oswaldo possui outros três secretários no governo. Edílson de Paula Oliveira (Desenvolvimento Econômico e Trabalho e Renda) e José Afonso Pereira (Meio Ambiente) são ligados a Donisete, enquanto que Eliana Henrique da Silva (Cultura, Esporte e Lazer) é mulher de Rogério Santana.

Fora os integrantes do primeiro escalão, cerca de 150 funcionários comissionados da Prefeitura são cargos de confiança de Paulo Eugenio, Donisete ou Rogério.




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