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Nove a cada 100 moradores da região foram vacinados

Pouco mais de dois meses depois da primeira dose aplicada, cobertura ainda é muito baixa, de acordo com especialistas

Yara Ferraz
25/03/2021 | 00:18
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Desde que a primeira pessoa foi imunizada contra a Covid-19 no Grande ABC, no dia 19 de janeiro, já foram aplicadas 330.784 vacinas na região, de acordo com os números enviados ontem pelas prefeituras. Deste total, 241.243 pessoas receberam pelo menos uma dose dos imunizantes Coronavac (Butantan) ou Covishield (Oxford), o que representa 8,6% do total. Ou seja, a cada grupo de 100 pessoas que moram no Grande ABC, nove foram vacinadas. Mesmo com níveis bem próximos ao Estado, a campanha ainda caminha a passos lentos na região – assim como em todo o Brasil – e está longe de conquistar a chamada imunidade de rebanho, atingida com pelos menos 70% de cobertura, segundo os especialistas.

No Estado, até ontem eram 3.894.086 pessoas imunizadas com pelo menos uma das doses, ou seja, 8,4% do total da população. São Paulo é o segundo Estado que mais vacinou até agora no Brasil, atrás apenas do Amazonas, que já vacinou com uma dose 9,6% dos 405,7 mil moradores

No ranking de vacinação das cidades da região, São Caetano aparece disparada em primeiro lugar, com 27.993 pessoas imunizadas com a primeira dose, o que representa 17,3% de toda a população – veja os dados regionais acima no Vacinômetro. Atualmente, o público-alvo da cidade são os idosos com 69 anos ou mais.

O infectologista e diretor do Hospital Santa Ana, em São Caetano, Paulo Rezende, afirmou que a imunização de rebanho acontece quando 70% da população atinge imunidade seja pela doença ou pela vacinação.

“Os nossos números deveriam ser bem robustos se houvesse maior empenho de autoridades da saúde na aquisição destes imunizantes com proximidade e negociação com vários potenciais fornecedores, o que não aconteceu, infelizmente. Vemos países como os Estados Unidos e Reino Unido com cerca de 50% (de cobertura) e, mesmo a Turquia, que se apresentou com política sanitária séria e com cerca de 20% da população imunizada, apresenta indicadores decrescentes na evolução da pandemia. Neste momento não nos resta alternativas que não seja o distanciamento”, disse.

O consultor da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia) Marcelo Daher acredita que a imunidade de rebanho só aconteça com 90% de imunização para redução satisfatória de casos. “Nos países em que a vacinação está avançada, somou o lockdown e, com isso, tivemos redução dos casos, mas lembrando que todos tiveram pico de casos. Onde existe maior densidade populacional é mais difícil”, afirmou. “Como estamos em alta taxa de transmissão e variante mais transmissível só vacina não resolve, por estarmos com poucas doses ainda”, disse, defendendo medidas restritivas em relação à circulação de pessoas.

Exame detecta imunidade pós-vacinação

Já são encontrados em laboratórios particulares da região exames médicos que detectam os anticorpos contra a Covid-19 em pessoas que receberam a segunda dose da vacina. Os testes são feitos com amostra de sangue e conseguem medir o nível de imunidade desenvolvido contra a doença. Especialistas apontam que a ferramenta é importante, mas não elimina cuidados básicos como o uso de máscara e as medidas de higiene.

Segundo o presidente da SBPC/ML (Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial), Carlos Eduardo dos Santos Ferreira, são três tipos de testes disponíveis para avaliar a resposta vacinal, que depende do tipo de anticorpo detectado (IGG Anti-S ou Anti-RBD e a pesquisa de antincorpos neutralizantes). “Esses anticorpos protegem contra a proteína Spike, que está presente no vírus e é neutralizada com a aplicação da vacina. Ou seja, os testes medem os neutralizantes que impedem a entrada do vírus na célula”, explicou.

O médico patologista clínico e gestor do Grupo Sabin Medicina Diagnóstica, que possui unidade em São Caetano, Alex Galoro, afirmou que o exame é parecido com as sorologias que detectam o vírus HIV ou da hepatite. “É importante destacar que o anticorpo presente não indica uma passagem livre. A pessoa precisa continuar com os cuidados básicos, como o uso da máscara e a higiene reforçada. Ela pode continuar se contaminando e ter um caso leve. A vacina impede o desenvolvimento de casos graves a moderados.”

“Também temos alguns questionamentos, já que há diferentes respostas ao coronavírus. Uma pessoa que vacina e dá (anticorpos) negativo não significa que ela não esteja protegida. Tem outros tipos de resposta do corpo humano que não são anticorpos. Não há necessidade de ficar desesperado, até porque não tem nenhuma indicação de repetir a vacina (após as duas doses)”, afirmou Galoro.

Para Ferreira, o teste representa mecanismo importante para as pessoas acompanharem a eficácia da vacinação, mas “a real utilidade clínica é incerta, devemos acompanhar os novos estudos, que devem chegar em breve”.

O exame ainda não possui cobertura de plano de saúde e também não tem disponibilidade no SUS (Sistema Único de Saúde), sendo possível apenas a contratação particular, pelo valor aproximado de R$ 300. O pedido médico pode ou não ser exigido, dependendo de cada laboratório.
 




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