Cultura & Lazer Titulo
Revolução social
Luciane Mediato
Do Diário do Grande ABC
17/04/2011 | 07:05
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Eles nasceram entre 1978 e 1990. Para alguns, são distraídos, superficiais e até egoístas. Com 20 e poucos anos, esses jovens são os representantes da chamada Geração Y, grupo que está, aos poucos, provocando uma revolução silenciosa. Sem as bandeiras e o estardalhaço das gerações dos anos 1960 e 1970, mas com a mesma força de mudança, eles sabem que as normas do passado não funcionam - e estão inventando as novas sozinhos.

As características tão peculiares desta juventude estão fortemente relacionadas aos avanços tecnológicos. "Estes jovens nasceram com o pleno desenvolvimento do computador, da TV a cabo e estão sempre ligados na terceira orelha (o celular). São fatores que contribuem para que tenham necessidade de obter de forma imediata as conquistas pessoais e profissionais", explica o especialista em conflitos de gerações Sidnei Oliveira.

Toda essa tecnologia que a Geração Y usufruí foi criada para atender e suprir as necessidades de grupos anteriores. Há 20 anos era inimaginável ter ‘um namoro virtual' e interagir com pessoas no Japão estando no Brasil. Isso gerou uma mudança de comportamento nas pessoas em que a barreira entre vida profissional e pessoal é praticamente nula. Tudo é possível para esses jovens que buscam dar sentido à vida - e rápido - enquanto fazem outras dez coisas ao mesmo tempo.

A atual juventude que foi concebida na era digital, democrática e da ruptura da família tradicional está acostumada a pedir e ter o que quer. No trabalho, é comum os recém-contratados pularem de um emprego para o outro, tratarem os superiores como colegas de turma ou baterem a porta quando não são reconhecidos.

"Descobri que as pessoas dessa geração não são revoltadas e têm valores éticos muito fortes, priorizam o aprendizado e as relações humanas. É comum que elas repliquem o conforto e o ambiente que têm em casa para o trabalho", diz Oliveira. Folgados e insubordinados são outros adjetivos menos simpáticos para classificar a Geração Y.

Um dos grandes problemas desses jovens é a frustração. "Essa geração teve a fase da infância e adolescência prolongada e por isso não aprenderam a lidar com as perdas. Os jogos de vídeo game também contribuem para isso. A realidade virtual em que os jovens passam a maior parte do tempo quase nunca se perde, sempre é possível recomeçar para se ganhar. A derrota se torna algo distante", afirma. Esse comportamento não é, necessariamente, negativo, sendo que os representantes estão aptos a desenvolver a autorrealização.

FILHOS DA GERAÇÃO Y
Toda mudança social afeta não só a atual população, mas também os frutos dessa geração que cresceu no mundo digital e sabe como é complicado desconectar os filhos do videogame, mantê-los seguros on-line e despertar seu interesse pelos estudos. Preocupada com a educação do futuro, a filósofa e professora da UFRJ Tania Zugry lança o livro 'Filhos - Manual de Instruções' (Record, R$ 29,90, 224 páginas). "Os novos pais estão sempre com pressa. Essa é uma característica que, às vezes, prejudica na criação dos filhos, que nem sempre têm as necessidades básicas e emocionais supridas", explica.

Tânia aborda na publicação temas como desenvolver hábitos de estudo, lidar com as mídias de forma saudável e formas de tratar com os meio-irmãos de seu filho. "A Geração Y veio de uma educação liberal e os frutos dela também recebem essa liberdade. O problema é que os seres humanos precisam de regras e equilíbrio para ter uma bom desenvolvimento", argumenta Tania.


Vida diretamente ligada à tecnologia

A conversa com a Geração Y pode ser ao vivo, pelo celular, e-mail, MSN, Twitter ou qualquer ferramenta de comunicação que venha a surgir no mundo nas diferentes mídias. Trata-se de um grupo que não precisou aprender a dominar as máquinas, mas sim nasceu com TV, computador e comunicação rápida dentro de casa.

O engenheiro de software Ronald Lima, de São Bernardo, é o exemplo de um típico jovem dessa atual geração. Ele passa 16 horas do seu dia conectado à internet e garante que não conseguiria passar um mês sem acessar o seu e-mail. "Desde pequeno gostava de brincar com eletrônicos. Tudo que é tecnológico chama a minha atenção", confessa.

E não é só a rede de computadores que chama atenção do rapaz, que adora acessórios tecnológicos, casos de smartphones, tablets e e-books. "São aparelhos que facilitam a minha vida pessoal. Também, se precisar trabalhar de casa, já tenho todo um suporte."

A vivência em uma sociedade onde qualquer indivíduo pode ser ‘desmascarado' com uma simples busca na internet ensinou que a clareza e a honestidade nas relações são essenciais. "Não consigo conviver com gente pouco ética ou que não cuida do ambiente onde vive", diz Lima.




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