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Região passa Carnaval sem as escolas nas ruas

Pelo quinto ano consecutivo, agremiações ficam sem ir à avenida; desta vez, também pela Covid

Por Vinícius Castelli
Do Diário do Grande ABC
01/02/2021 | 00:01
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Claudinei Plaza/DGABC


Nada de baterias e carros alegóricos nas ruas. O Grande ABC chega ao quinto ano consecutivo sem desfiles de escolas de samba, já que as agremiações não contam mais com repasse público. Se antes a justificativa das prefeituras era de que os valores gastos nos eventos seriam aplicados em áreas consideradas prioritárias neste ano, ainda há a Covid-19.

Por deliberação do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, que reúne os sete municípios, ficam proibidas, neste ano, atividades carnavalescas que gerem aglomerações em espaços públicos e privados.

A Folia será proibida mesmo com a decisão de as cidades contrariarem o posicionamento do governo do Estado, que na sexta-feira decidiu cancelar o feriado no Carnaval, em 16 de fevereiro, assim como o ponto facultativo do dia 15. O martelo com relação ao assunto na região será batido em reunião dos prefeitos, marcada para amanhã.

Fato é que, diante de meia década sem poderem se apresentar, as escolas seguem tentando resistir. Segundo Meire Terezinha da Silva, 51 anos, presidente da Liga das Ligas do Grande ABC, diretora do Fenasamba (Federação Nacional das Escolas de Samba) e presidente da Uesma (União das Escolas de Samba de Mauá), há cinco anos a região somava 50 agremiações. “Estamos perdendo a cada ano que passa sem os desfiles, e hoje temos menos da metade em ação.”

Em Santo André, um dos que se agarram à possibilidade de tempos melhores é o Grêmio Recreativo Cultural Escola de Samba Seci, fundado em 1988. De acordo com o presidente Ricardo Bastos Pereira, o Mestre Ricca, 49, apesar dos tempos difíceis, “a esperança não morre”. “Claro que queremos que o Carnaval volte.”

Ele explica, no entanto, que quando um evento carnavalesco não acontece, várias famílias deixam de ter uma renda extra no fim do mês. “O que posso afirmar é que muitas pessoas precisavam da renda do Carnaval.”

Fato que é reforçado por Meire. “Os desfiles carnavalescos fazem muita falta para as comunidades porque é uma cadeia produtiva geradora de renda”, comenta.

De Mauá, o Grêmio Recreativo Escola de Samba Camisa Azul e Branco também tem sentido falta dos desfiles. “Nosso histórico carnavalesco tem mais de 70 anos (na cidade), é doloroso ver esta tradição morrer a cada ano em silêncio”, lamenta Vânia Ferreira Pinto, 51, presidente da agremiação fundada em 1985.

Vânia explica que a produção de uma escola que almeja a vitória em um desfile requer bons profissionais. “Em nossa agremiação o trabalho prevê a empregabilidade direta e indireta de no mínimo 30 pessoas. São costureiras, aderecistas, figurinistas e artesãos, entre outros, que fazem deste período carnavalesco o momento de ganhar seu dinheiro, gerando uma renda melhor à sua família, além de ativar a economia local”, explica.

Presidente do Grêmio Recreativo Esportivo e Cultural Escola de Samba Ordem e Progresso, também de Mauá, Laudiceia Santos, 59, lamenta não só a falta dos desfiles, mas as pessoas que perdem a chance de trabalhar com a Folia nesta época, “como aderecistas, costureiras e carnavalescos”.

Ainda assim, a esperança entre eles persiste, e aguardam que um dia o Carnaval de rua seja retomado no Grande ABC. “(Espero que) A renda dessas pessoas volte para que elas sobrevivam com um pouco mais de dignidade”, afirma Pereira. “Lutamos hoje para resgatar não só nossa história, mas do samba de nossa cidade”, encerra Vânia.

Santo André, São Bernardo e São Caetano adiantaram que não há planos para a retomada dos desfiles no momento. As demais prefeituras afirmaram ao Diário que conversarão com os envolvidos no momento oportuno para discutir as possibilidades.

Agremiações ainda fazem trabalho social

Apesar de não poderem mostrar seu poder de fogo nas avenidas, com os desfiles, as escolas de samba seguem vivas na realização de trabalhos sociais, mesmo que tenham que driblar diversas dificuldades.

É o caso do Grêmio Recreativo Escola de Samba Camisa Azul e Branco, de Mauá, hoje sem sede própria. Ainda assim, consegue realizar alguns trabalhos sociais. “Conseguimos retomar algumas atividades, como doação de kits de higiene, entre outros. Buscamos fazer o mínimo sonhado em poder fazer mais”, explica Vânia Ferreira Pinto, presidente da agremiação.

Presidente da Liga das Ligas do Grande ABC, diretora do Fenasamba (Federação Nacional das Escolas de Samba) e presidente da Uesma (União das Escolas de Samba de Mauá), Meire Terezinha da Silva explica que, mesmo com a pandemia da Covid-19, algumas escolas conseguiram realizar projetos sociais, “como doação de cestas básicas, material de higiene, cesta de legumes, frutas e máscaras”.

Em Santo André, Ricardo Bastos Pereira, presidente do Grêmio Recreativo Cultural Escola de Samba Seci, explica que mesmo sem os desfiles a escola não para. “Faz parte da escola de samba o trabalho social. Aqui para a comunidade tem (aulas de) samba rock, capoeira, escola de bateria. Mesmo não tendo Carnaval na cidade, a escola está em atividade total. Temos Natal solidário, voltado às crianças, que pegam sacolinha, almoçam, passam o dia aqui. Com Carnaval ou sem, a escola não esquece a comunidade”, assegura.

Ainda assim, Meire faz um alerta, de que será difícil que as escolas sobrevivam e sigam desenvolvendo essas ações sem que tenham ajuda nos seus projetos.

Pereira conta que, neste ano, vários que ajudavam passaram a precisar de ajuda. “A pandemia foi mais um agravante. Ficou muito mais complicado. A ajuda (agora) vem de amigos, daqueles que ainda conseguem doar. Alguns comerciantes ajudam a arrecadar cestas básicas, outras pessoas trazem roupa para doação. E é um trabalho constante”, explica.

Mesmo com todos os desafios, ele acredita que a escola vai sobreviver. “Vai ser sempre uma escola de samba. Tanto com relação ao Carnaval quanto em poder ajudar toda uma comunidade. Nosso lema é sobreviver sempre.”

Pandemia também trava os ‘bloquinhos’

Neste ano, além de não ter desfiles no Carnaval, a população dos municípios da região não poderá se divertir correndo atrás dos famosos bloquinhos. A razão é a pandemia da Covid-19, que chegou ao País em março de 2020.

Responsáveis por eventos que têm se tornado febre em São Paulo e na região, alguns blocos arrastam para as ruas milhares de pessoas, como é o caso da Associação Recreativa e Cultural Bloco Carnavalesco das Mocreias, de Ribeirão Pires.

Prova de que o bloco ganha cada vez mais espaço foi o evento do ano passado, quando reuniu em torno de 15 mil foliões. “Estimamos em 5.000 pessoas trajadas em suas fantasias e outras 10 mil acompanhando o desfile”, afirma Fabio Rossi, 46 anos, diretor de comunicação da associação.

Apesar de não poder levar o Mocreias para a rua neste ano, Rossi compreende a situação e considera a melhor decisão. “Temos certeza que este momento de pandemia passará e poderemos novamente celebrar a vida com ainda mais alegria e descontração”, avalia.

Coordenadora do Bloco Eureca, de São Bernardo, Neia Bueno, 45, conta que no último evento, em 2020, cerca de 1.500 pessoas compareceram.

Mesmo sem a festa na rua neste ano, o bloco está ativo. “O Eureca é um processo de formação durante o ano inteiro”, diz. 

Mas a bagunça fica para depois. “Nós, como coletivo, decidimos que não vamos fazer o desfile formal, na avenida, enquanto o último brasileiro/brasileira não for vacinado.”




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