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Arrastando os coturnos
Por Carlos Brickmann
13/01/2021 | 00:05
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Um bom número de países iniciou a vacinação; Israel já vacinou quase 30% da população. E o Brasil? O general nomeado para gerir a Saúde continua arrastando os coturnos: diz que, após a aprovação das vacinas pela Anvisa, levará uns três ou quatro dias para enviá-las a todo o País, e só então poderá iniciar a vacinação. OK: quando um ministro, senador ou assessor inventa de ir para casa descansar alguns dias, o jatinho surge na hora. Por que, para salvar vidas, é preciso gastar quatro dias só para levar a vacina?

O general demorou para encomendar seringas, agulhas – essas coisas que nem precisa ser “especialista em logística” para saber que serão necessárias. Conseguiu, com ajuda da OMS (de que o governo fala tão mal), um bom lote de seringas e agulhas. Mas preferiu o frete marítimo, mais lento, não o aéreo. De duas, uma: ou quer atrasar a vacinação (para impedir que a vacina do Butantan seja usada antes da que o governo federal está trazendo), ou o Sargento Tainha, com o qual tem semelhança ao menos no corpanzil, faria melhor figura. Aliás, o Recruta Zero será parente dos zeros da família?

Enquanto cidadãos brasileiros morrem, que dizem as autoridades?

Bolsonaro: “Eu sou imbroxável”. Zoser Plata Bondim Hardman de Araújo, assessor do ministro da Saúde (a descrição da reunião em Manaus, em meio ao caos da saúde, é feita pela boa repórter Malu Gaspar, na Piauí de janeiro): “Doria é o maior pau pequeno, um boiola”. De que se queixa?

Dia D, Hora H, ou não
A frase mais estranha do general da Saúde é que a vacinação no Brasil começará no dia D, hora H. Dia D, hora H era o momento da invasão da Normandia pelos Aliados, na Segunda Guerra Mundial. Se esperassem uma decisão do general da Saúde, até hoje estaríamos aguardando o desembarque.

Preocupado com a Covid?
Bolsonaro fala agora a respeito de facilitar a compra de armas no Exterior. Quanto à vacinação, haveria uma reunião do general da Saúde, ontem, com os governadores. Mas nada de sonhos: a reunião foi adiada para algum dia.

Bye, bye, Ford
Dá para discutir longamente os motivos da decisão da Ford de suspender a fabricação de veículos no Brasil. Mas o motivo real é simples: há quanto tempo o caro leitor não sonhava com um carro novo da Ford? Mesmo nos Estados Unidos, o ponto forte da Ford era um veículo tradicionalíssimo, a F 250. Nos últimos dias, saiu finalmente um carro com pegada moderna, um Mustang elétrico, SUV. A empresa tinha ficado para trás. Eterna segunda no ranking, atrás apenas da GM, hoje fica em sexto, atrás da Hyundai; a marca Mercury sumiu, Ford e Lincoln, juntas, vendem talvez metade da líder Volkswagen.

E agora?
A Ford foi dona de marcas lendárias, Volvo, Aston Martin, Jaguar, mas vendeu-as. Inovou no processo de fabricação, criando a produção em série e derrubando o custo dos automóveis. Ford tinha a ideia fixa (que nunca tentou realizar) de combinar carro e avião, criando um carro voador – isso em 1930, aproximadamente. Agora, se quiser voltar a ser a grande Ford, a empresa terá de seguir as tendências: carro sem poluição, silencioso (de propulsão elétrica, de preferência), automatizadíssimo. Uma frase clássica de Ford: fez o carro como quis. Se fizesse uma pesquisa, o público certamente pediria cavalos mais rápidos. Hoje está na hora de aplicá-la: na hora dos smart systems, irá a Ford optar por meia dúzia de computadores ou por um computador que vai funcionar também como carro? Seus concorrentes são, agora, Tesla, Google, talvez Volkswagen, Toyota e Apple? O mercado mudou, mudou o mundo.

Preocupado?
As declarações mais atuais do presidente Bolsonaro se referiram a decretos que promete assinar para facilitar a importação de armas. Nada sobre combate à Covid ou vacinação. Ontem deveria haver reunião entre os governadores e o general da Saúde, para discutir o calendário da vacinação. A reunião foi suspensa – não se soube o motivo – na noite de segunda-feira.

Mas preocupe-se
O jornal Correio Braziliense informa que, nesta semana, a empresa União Química iniciará a produção da vacina russa – a Sputnik 5. Informa a União Química que, enquanto não houver autorização da Anvisa, as vacinas serão exportadas. O diretor de Negócios Internacionais da União Química, Rogério Rosso, já foi governador de Brasília. Curiosamente, não há nada na Anvisa referente à vacina russa – que, a propósito, deve ser boa, já que não houve nenhuma queixa dos países que a adotaram, e os russos têm boa tradição na área. No dia 8, nenhuma referência no quadro da Anvisa. Uma das colunas do quadro é o Certificado de Boas Práticas de Fabricação, que exige o envio de especialistas da Anvisa ao laboratório que cuida da produção. Nada há.

Um problema
Quando se sabe que há político no caso, o alarme soa. Pode ser injusto. 




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