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Covid-19, complacência e heroísmo mascarado!

Somos bons em nos acostumarmos com paisagens, no que figuradamente explicamos um de nossos vieses comportamentais

Por Antonio Carlos do Nascimento
31/08/2020 | 00:47
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Somos bons em nos acostumarmos com paisagens, no que figuradamente explicamos um de nossos vieses comportamentais, quando nos ajustamos perante adversidades para as quais deveríamos destinar empenho em eliminá-las, ou, ao menos contestá-las por tempo indefinido.

Houve enorme comoção com o anúncio da primeira morte pela Covid-19 no Rio de Janeiro em 16 de março, ainda que a data tenha sido desbancada pelo dia 12 e São Paulo a nova praça da ocorrência. O Rio de Janeiro principiara o isolamento social na Capital em 13 de março, mas o Estado atenderia ao decreto do dia 17, enquanto em todas as cidades de São Paulo as medidas foram implementadas no dia 24. Para abordar nossos primeiros epicentros.

Surgiam enormes confusões midiáticas acerca das perspectivas pandêmicas entre famosos, ao tempo que as autoridades sanitárias se aninhavam em teoremas e alguns políticos encontravam o melhor lugar de visualização para seu eleitorado.

Aguardávamos trancafiados e tensos a coletiva diária do ministro Mandetta e então cumprir de olhos vendados qualquer orientação era o único projeto imediato.

A Alemanha explicava os caminhos para a melhor condução e o seu modelo aparentemente foi compreendido. Adotaríamos o isolamento social para obter o tempo necessário para aparelhar hospitais já existentes e construir hospitais de campanha. Enquanto isso, buscaríamos freneticamente os diagnósticos com testes RT-PCR para isolamento de infectados e investigação de contatos, com isso a escola alemã nos ensinava a administrar o universo do vírus.

Teich seria o novo ministro em 17 de abril e não demoraria para acabar nosso fascínio pelo boletim diário, que a bem da verdade já nos cansava pela retórica. Os testes, verdadeiros sonhos de consumo à época, surgiam em gestões arrojadas, mas se apresentavam em testes rápidos, que positivam entre o sétimo e décimo dia da infecção, quando substancial período clínico foi percorrido.

É neste pandêmico entorno temporal que curiosamente passamos a nos acostumar, sem qualquer relutância, com números de óbitos que agora alcançam médias diárias de 1.000, enquanto poucos de nós guardaram atenção para o interino que permanece ocupando a cadeira de ministro da Saúde.

Contudo, das projeções de futuro desastroso que os centros de pesquisas epidemiológicas nos endereçavam há cinco meses, embora de consumação não desprezível nas dores geradas, olhando bem, não estão sendo entregues conforme o desastre prometido, ou, ao menos, sem a velocidade pré-desenhada.

E por aqui confesso não ter me assegurado da álgebra ou da lógica para esse aparente arrefecimento, essa mitigação de danos para a qual em muito pouco contribuímos. Se o balizador era a Alemanha em suas estratégias, fizemos apenas o isolamento social, contudo, fraturado e capenga entre fronteiras ideológicas.

Mas, imaginei que o uso de máscaras, quase uma religião entre japoneses (e na maior parte dos orientais) perante qualquer intempérie, provavelmente permitira o abafamento da circulação viral em nosso meio, pois, ainda que sem a precocidade e rigor japoneses, a conduta deve ter nos protegido em elevado percentual, em fases que Itália, Espanha e França não a utilizaram.

Alicerçando esta suposição, um estudo alemão intitulado Unmasked! The Effect of Face Masks on The Spread of Covid-19 (Desmascarado! O Efeito das Máscaras Faciais na Disseminação de Covid-19), publicado no portal voxeu.org, foi o primeiro a demonstrar redução de até 40% nas taxas de crescimento de casos de Covid-19 com o uso de máscaras. Estes resultados foram confirmados em outras pesquisas de outros centros.

Em que pese utilizarmos esses recursos com várias falhas técnicas, é certo que as gotículas emitidas pela tosse, espirro e mesmo ao falarmos, fiquem retidas em sua maior parte nessa barreira, diminuindo o universo viral infectante, assim como nos protegemos das nuvens virais suspensas no ambiente.

Então, embora pecando por condescendência, somos milhões de heróis mascarados, escondendo narinas e bocas no que compensamos as nossas brasileiras deficiências, enquanto aguardamos a sonhada vacina para revelar o Brasil que restou! 




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