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Reintegração de posse gera manifestação em Diadema

Barracos de terreno onde estavam cerca de 180 famílias próximo a Rodovia dos Imigrantes pegaram fogo; polícia chegou por volta das 6h

Miriam Gimenes
Do Diário do Grande ABC
18/08/2020 | 08:04
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André Henriques/DGABC


A reintegração de posse de terreno em Diadema, embaixo da Rodovia dos Imigrantes, em área de domínio da Ecovias, concessionária responsável pelo SAI (Sistema Anchieta-Imigrantes), não foi pacífica. Logo cedo, por volta das 6h, os policiais chegaram e, logo depois, cerca de 100 barracos do local pegaram fogo. Os moradores fizeram barricadas em protesto.

O músico Misael Souza Marcelino, 29 anos, um dos líderes do movimento, reclama que a polícia não deu nenhum encaminhamento do que as famílias devem fazer a partir de agora. "Estamos todos na rua em meio a uma pandemia", reclama. Funcionários da Ecovias e o Corpo de Bombeiros apagaram  o incêndio, que chegou a atrapalhar a visibilidade dos veículos na via. Os barracos foram derrubados. 

O coronel da polícia militar Renato Nery Machado, que acompanhou a ação judicial, disse foram dois focos de resistência no início da reintegração, já previstos pelo policiamento. "Tivemos de fazer a dispersão com munição químicas e o controle foi retomado." Segundo ele, grande parte das pessoas que estavam no terreno vai para casa de familiares e os móveis sem destinação serão condicionados em galpão com devido cadastramento feito pelo oficial de justiça, para serem retirados no futuro. 

O motoboy Glicelio de Souza Lima, 39 anos, é um dos chefes de família que não sabe para onde ir. Com o salário reduzido desde o início da pandemia, se viu impossibilitado de manter o aluguel que pagava de um apartamento no Jardim Silvina, em São Bernardo, e foi despejado junto com a esposa, grávida, e os três filhos, Carolina, 14, Julia, 9 e Kaleb, 7. "Estava passando de moto por aqui (na frente do terreno) e vi a ocupação. Conversei com eles, que me acolheram. Fiz empréstimo para conseguir o material para pagar o material para construir o barraco e hoje perdi tudo. Aqui estava minha esperança. Agora estou sem chão, sem ter para onde ir."

Lima diz que conseguiu salvar algumas coisas antes do barraco ser derrubado. "Mas não deu tempo de tirar tudo. A cômoda, com as coisas do bebê, e o guarda-roupa, cairam junto com a casa. Minha filha Carol conseguiu ainda salvar uns cadernos e uns livros dela, além de um par de sapatos", lamenta. As três crianças, por falta de internet e aparelho de celular ou computador, estão sem aulas desde que foram despejados. "Da dó porque são bem estudiosos", diz o pai, emocionado. 

A prefeitura de Diadema disse, em nota, que o terreno se localiza em uma área do Estado sob responsabilidade da Ecovias, que solicitou a reintegração de posse. "Desse modo, é responsável por todos os procedimentos ligados a essa ação, bem como pelo acolhimento das pessoas que se localizavam nessa área." O documento diz ainda que na ocasião da ocupação, em 21 de junho, as famílias tentaram ocupar também um terreno de responsabilidade do município, mas foram impedidas pela Guarda Civil Municipal de Diadema.

A Ecovias diz, também em nota, que invasão em questão epresentava riscos às pessoas e à estrutura viária. "Como não foi possível uma saída voluntária dos ocupantes, foi feito o pedido de reintegração de posse." A concessionária também disse, que antes do cumprimento da ordem, os moradores foram avisados pelo Oficial de Justiça há 15 dias de que a reintegração poderia acontecer a qualquer momento. "Além disso, a Ecovias e a Polícia Militar Rodoviária realizaram duas reuniões com representantes dos moradores, nos dias 12 e 14 de agosto, quando foram informados da ação. Apesar de cientes da questão social envolvida, ressaltamos que a concessionária não é responsável por políticas assistenciais aos cidadãos."




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