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Grande ABC entra na rota das drogas sofisticadas
Cláudia Fernandes
Do Diário do Grande ABC
19/12/2004 | 13:51
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O Grande ABC entrou na rota das drogas sofisticadas. Segundo a polícia de São Bernardo, a apreensão de ecstasy e maconha hidropônica ocorrida na semana passada é o primeiro resultado de uma série de investigações em andamento na região. Ambas são drogas caras e superpoderosas que causam dependência rapidamente. Antes, eram encontradas apenas na capital.

"Temos várias denúncias, mas às vezes esbarramos nos trâmites legais. Dependemos de autorização da Justiça para grampear telefones ou entrar em propriedades particulares", diz o delegado da Dise (Delegacia de Investigações sobre Entorpecentes) de São Bernardo, Paul Henry Verduraz.

A maconha hidropônica apreendida na última quinta-feira no bairro Terra Nova 2 é produto de alta tecnologia. A planta é cultivada em água, dentro de estufa, em condições ideais de temperatura e iluminação. Em alguns casos, é alterada geneticamente. Trata-se de uma maconha transgênica, com princípio ativo – o THC (tetra-hidro-canobinol) – até 28% mais concentrado do que a ervinha dos anos 60. O preço da tecnologia de ponta é caro, o triplo da plantinha cultivada em horta.

A droga que originou o nome da banda Skank tem um público de alto poder aquisitivo. São universitários, empresários, gente que tem dinheiro. É o mesmo público endinheirado que compra a pílula de ecstasy, alucinógeno preferido dos freqüentadores das raves, festas que chegam a durar noite e dia seguidos. Para garantir tanta energia, chega-se a consumir até três pedras da droga, que não custa menos do que R$ 40 o comprimido.

Os policiais que trabalham nos laboratórios do Instituto de Criminalística da região dizem que o mercado de drogas sofisticadas no Grande ABC tem se expandido nos últimos dois anos. Até cocaína colorida virou moda. Um técnico de um IC, que não quis se identificar, disse já ter visto o pó em tons de cor-de-rosa, vermelho e amarelo. É uma espécie de controle de qualidade. A cor identifica a procedência da cocaína – Bolívia, Colômbia ou outro país das redondezas. O preço também varia de acordo com a cor.

O delegado Luiz Carlos Magno, do Denarc (Departamento de Investigações sobre Narcóticos) diz que o traficante é um grande empresário. Ele contrata químicos e chega a mandar os funcionários para a Holanda fazer cursos de especialização. De lá, primeiro mundo também quando se fala em drogas, os profissionais trazem grandes novidades para ampliar o rol de dependentes no Brasil. "A faixa etária dos usuários vem diminuindo. Antes, o estudante experimentava a droga na universidade. Hoje, é comum encontrar pré-adolescentes de 12, 13 anos consumindo drogas", observa Magno, que trabalha com narcóticos há 15 anos.

Há cerca de dez anos, o usuário que se tornava dependente de maconha comprava por conta própria o crack. Juntos, maconha e crack resultavam no mesclado. Hoje, o traficante poupa o trabalho do usuário. Entrega em esquema delivery a droga já misturada, o mesclado finalizado. O preço é mais alto. Paga-se pela comodidade, como em tudo na vida moderna. Como uma pizza, o entregador toca a campainha e faz a entrega do produto, mediante pagamento à vista.

A polícia acredita que tal especialização tem motivo: "Se há tanta oferta, é porque existe procura", argumenta um delegado da região. E outro assume que falta pessoal para combater tamanho avanço da ilegalidade. "Temos um grupo de dois delegados e 12 investigadores e um forte serviço de inteligência de São Paulo, que pode nos ajudar, quando necessário. Mas a demanda é maior do que o departamento", admite o delegado seccional de Santo André, Luiz Alberto de Souza Ferreira. A explicação de Ferreira fica clara quando leva-se em consideração a área que esses 14 policiais cobrem na região: Santo André, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra.

Por esse motivo, talvez, as apreensões sejam insignificantes na região. Realidade também de outras localidades. Até na capital, ponto de embarque das novidades do mundo das drogas, a polícia diz nunca ter estourado um laboratório de maconha hidropônica. "É porque é raro", justifica o delegado do Denarc, Luiz Carlos Magno. O delegado, que já viajou para vários países com a finalidade de entender tudo sobre entorpecentes, diz que nunca teve a oportunidade de ver de perto um laboratório de maconha.

Viu, sim, agricultores com dentes forrados de ouro, ostentando correntes igualmente douradas dentro de carros importados. Sinal dos novos ricos, que ganham muito dinheiro com a venda da maconha que cultivam. Uma nova Serra Pelada no Nordeste do país, o chamado Quadrilátero da Droga – Bahia, Pernambuco, Alagoas e Maranhão.

O próximo passo é ainda mais sério. Fala-se muito das experiências genéticas que estão sendo realizadas com a papoula na Colômbia. A planta própria dos países asiáticos está sendo adaptada para o solo da América do Sul. O que significa que, num futuro próximo (estimativa de cinco a 10 anos), a heroína estará sendo produzida por aqui. "Pior para nós porque a heroína é responsável pelos maiores problemas sociais e criminológicos na Europa. Ela é realmente a heroína das drogas. Instala-se rapidamente e é a que mais degrada moralmente o ser humano", decreta o delegado do Denarc.




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